O corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, teve participação determinante na lavagem do dinheiro da suposta organização criminosa comandada por Reinaldo Azambuja (PSDB). Quebra do sigilo telefônico revelou ligações dele para o tucano e o filho, o advogado Rodrigo Souza e Silva. Além disso, a Polícia Federal concluiu que houve repasse do dinheiro para o governador e seus familiares.
[adrotate group=”3″]
Polaco foi protagonista de escândalo nacional quando o Fantástico, da TV Globo, veiculou reportagem sobre o suposto pagamento de propina em troca de incentivos fiscais. O programa exibiu vídeo em que ele recebia R$ 30 mil do empresário José Alberto Berger, dono do curtume Braz Peli, em Campo Grande.
Veja mais:
Temendo nova derrota, Reinaldo desiste de ação no STF para anular delação da JBS
PF indicia Reinaldo e filho por corrupção e organização criminosa por propina de R$ 67,7 milhões
TJ aceita denúncia e filho de governador vira réu por mandar roubar propina de Polaco
Agora, na conclusão do inquérito 1.190, da Operação Vostok, a PF revelou que o corretor de gado mantinha contato frequente com o governador. Somente no ano de 2015, de acordo com o delegado Leandro Alves Ribeiro, Polaco ligou 95 vezes para Rodrigo Souza e Silva. Ele também teria feito 48 ligações para o terminal telefônico de Reinaldo.
Em depoimento à Dicor (Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado) da PF, Rodrigo afirmou conhecer Polaco da campanha eleitoral e de churrasco promovido pela APAE. Em seguida, o herdeiro teria dito que não mantinha contato nem negócios com o polêmico corretor de gado.
De acordo com a PF, Polaco administrativa a conta da Buriti Comércio de Carnes que recebia os repasses da JBS. A empresa dos irmãos Joesley e Wesley Bastista teria repassado R$ 12,903 milhões por meio da corretora Carandá, de Guímaro. O empresário João Roberto Baird, o Bill Gates Pantaneiro, teria repassado mais R$ 556 mil.
No inquérito, o delegado afirmou que após o recebimento dos valores pagos pela JBS, por meio de notas fiscais ideologicamente falsas, Polaco fazia, no mesmo dia ou em dias próximos, movimentações sucessivas, dentre os quais pagamentos em benefícios do governador Reinaldo Azambuja e seus familiares.
O relatório final informa que houve repasse a mãe e ao irmão do tucano, respectivamente, Zulmira Azambuja Silva e Roberto de Oliveira Silva Júnior, e outros familiares, como Lenita Schmit, Gabriela de Azambuja Silva Miranda, Léo Renato Miranda e Dagoberto Pereira.
Também menciona os encontros após saques com o filho, Rodrigo Souza e Silva, e a secretária do governador, Cristiane Andréia de Carvalho dos Santos Barbosa. Análise da movimentação dos celulares reforçam as suspeitas que de Polaco se encontrou com ambos após os saques, que eram feitos logo após os repasses feitos pela JBS.
Reinaldo sempre negou qualquer relação com Polaco. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça analisou o caso na véspera do segundo turno de 2018 e determinou o arquivamento da denúncia por não encontrar qualquer indício do envolvimento de Reinaldo com o suposto esquema de cobrança de propina de Polaco em troca de incentivos fiscais.
Berger chegou a prestar depoimento à Polícia Federal e mudou a versão de que teria pago propina para manter os incentivos fiscais do curtume. Na nova versão, ele informou que foi vítima de um golpe aplicado por Polaco.
O próprio corretor de gado inocentou o governador de qualquer envolvimento no esquema. O processo teria sido desmembrado para a investigação dos demais envolvidos, mas nunca mais se ouviu falar do caso na Polícia Federal em Mato Grosso do Sul.
Sobre a Operação Vostok, Reinaldo divulgou nota negando ter cometido os crime de corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Veja nota na íntegra:
““O governador Reinaldo Azambuja recebeu com estranheza e indignação a conclusão do inquérito. Trata-se de denúncia antiga, baseada em delações premiadas sem qualquer credibilidade e provas, que vêm sofrendo, em casos diversos no País, inúmeros questionamentos judiciais quanto à sua procedência e consistência.
Passados três anos de inquérito tramitando no STJ, não foi possível concluir ou ao menos indicar de que forma o governador teria praticado qualquer tipo de ilícito.
Desde a Operação Vostock, realizada de forma midiática e exorbitante, bem no meio da campanha eleitoral de 2018, não se conseguiu produzir uma única prova de que tenha recebido qualquer tipo de vantagem indevida da JBS.
Neste caso, é importante pontuar que a própria empresa confessou que os termos de acordo para benefícios fiscais do estado não estavam sendo cumpridos e aderiu a programas de recuperação fiscal, bem como efetuou o pagamento de valores devidos a título de imposto, de modo que não houve dano ao Erário, nem tampouco qualquer ato de corrupção praticado.
Com o fim do inquérito, o governador Reinaldo Azambuja entende que , em processo com ampla defesa, demonstrará a improcedência de todas as acusações a ele dirigidas.”