Desgastado por escândalos de corrupção, o PSDB acabou não tendo forças para impor o candidato a vice-prefeito na chapa do prefeito Marquinhos Trad (PSD). Esta será a primeira em 28 anos, desde 1992, que o partido no comando do Estado de Mato Grosso do Sul não terá candidato a prefeito da Capital, o maior colégio eleitoral e parada obrigatória para quem sonha com projetos maiores, como disputar o Governo ou o Senado.
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A decisão tucana, anunciada nesta quinta-feira (10), encolhe lideranças e pode comprometer o sonho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) de se eleger senador em 2022, como estratégia para manter o foro privilegiado.
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O maior derrotado é o presidente da Câmara, João Rocha (PSDB), que havia vencido a batalha interna e acabou escolhido para ser o companheiro de chapa de Marquinhos. Conforme o presidente regional da sigla, Sérgio de Paula, ele era o “consenso” do partido e tinha “apoio de 20 dos 29 vereadores” para ser o candidato a vice-prefeito. No dia 26 de agosto deste ano, aniversário de Campo Grande, Reinaldo sacramentou a indicação, em entrevista ao Campo Grande News, Rocha como vice do atual prefeito.
A indicação de João Rocha poderia levar os escândalos envolvendo tucanos para a chapa de Marquinhos. Reinaldo foi indiciado pela Polícia Federal por corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro na Operação Vostok, concluída em junho, e pode ser denunciado pelo Ministério Público Federal.
No mês passado, a Operação Penúria, do Ministério Público Estadual, apura o superfaturamento na compra de cestas básicas com dinheiro da covid-19 para atender famílias carentes. A suspeita é de que houve desvio de R$ 2 milhões. Rocha também é réu por improbidade administrativa e corrupção passiva na Operação Coffee Break, deflagrada em 2015 pelo Gaeco para apurar compra de votos para cassar o mandato de Alcides Bernal (Progressistas) em 2014.
Outra que sai perdendo com a decisão foi a deputada federal Rose Modesto (PSDB), que até lançou uma carta aberta colocando-se a disposição para ser candidata a prefeita. Em 2016, ela foi a candidata e perdeu para Marquinhos no segundo turno.
De vereadora a vice-governadora do Estado e deputada federal mais votada, a tucana aproveitou a recusa de Marquinhos em aceitar a indicação de um tucano para vice e tentou impor a candidatura própria. “Jamais escondi o sonho que carrego comigo, desde sempre, de governar nossa capital”, afirmou Rose, em carta à direção do PSDB. Em seguida, ela se põe a disposição para enfrentar Marquinhos pela segunda vez.
Após ameaças, notinhas em colunas e manchetes em jornais, como a de que Rocha seria vice na chapa encabeçada pelo ex-governador André Puccinelli (MDB), não surtiram efeito. No mesmo dia, Marquinhos reagiu, conforme o Midiamax, ao destacar que não faz “negócios na política”. O recado do prefeito ecoo no ninho tucano, que reuniu os caciques e bateu o martelo de apoiar à reeleição sem exigir nada em troca.
“Há reciprocidade, há o apoio que o prefeito deu ao governador Reinaldo Azambuja em 2018. Já está resolvido. Vamos estar ajudando com a chapa de vereadores. O PSDB não vai ter candidatura própria”, anunciou um resignado João Rocha, que deverá enfrentar uma disputa dura pela reeleição.
No comando do Estado pela segunda vez, com dois deputados federais, dono da maior bancada na Assembleia e na Câmara Municipal, o PSDB não vai estar na disputa do cargo majoritário na Capital, o maior colégio eleitoral e estratégico para deseja chegar ou permanecer no poder.
Pela primeira vez em 28, o partido que governa o Estado não terá candidato próprio na Capital. Em 1992, o PTB de Pedro Pedrossian, então governador, não lançou candidato próprio a prefeitura. Na época, o partido apoiou Marilu Guimarães (PFL). O vice dela, Flávio Renato, também era do PFL, atual DEM.
Os petebistas colheram os resultados na eleição seguinte. Em 1994, os dois candidatos apoiados por Pedrossian para o Senado perderam a disputa: Ary Rigo (PTB) e Rachid Saldanha Derz (PP). O candidato governista, Levi Dias (PPR), levou uma piaba e perdeu no primeiro turno para Wilson Barbosa Martins (MDB), pelo placar de 33,31% a 53,7%.
O resultado não é previsão científica, mas não deixa de indicar mau agouro para os tucanos.