(*) Giselle Marques
Moradores do Bairro Vivendas do Bosque, uma das áreas mais nobres de Campo Grande, mobilizam-se, há vários meses, contra a construção de um “arranha céu”. Neste artigo, a advogada Giselle Marques fala da defesa do meio ambiente e da área no entorno do Parque das Nações Indígenas, um dos mais belos cartões postais da Capital.
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“O Bairro Vivendas do Bosque não tem vazio urbano, o que pode ser facilmente constatado pelo ‘google Earth’. Tanto é verdade que o edifício estará sendo erguido num terreno de apenas 1.080 metros quadrados”, ressalta. “Os lotes nessa região giram em torno de 600 metros quadrados, onde foram erguidas casas com características arquitetônicas bastante peculiares, verdadeiras ‘chácaras’ com árvores frutíferas nos quintais onde os pássaros constroem seus ninhos”, afirma.
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Moradores e entidades ambientalistas realizam protesto em defesa da biodiversidade
Neste sábado (29), às 10 hs da manhã, entidades ambientalistas e moradores do Bairro Vivendas do Bosque em Campo Grande, farão um protesto em frente ao terreno onde a construtora HVM pretende erguer um edifício. Serão colocados marcadores no asfalto para garantir o distanciamento de dois metros entre as pessoas. A população está sendo convidada a comparecer com máscaras e levando o álcool em gel.
A ideia é sensibilizar as autoridades para a perda da biodiversidade do Parque das Nações Indígenas. Segundo o disposto no artigo 11 da Lei 9985/2000, os parques têm como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.
Mas, em Campo Grande, os parques têm sido privilegiados sob o aspecto da especulação imobiliária. Os moradores do entorno do Parque das Nações Indígenas reclamam que, quando compraram seus terrenos, ali não era permitido arranha céus.
O plano diretor que entrou em vigor em 2019, no entanto, visando acabar com os vazios urbanos em Campo Grande, mudou essa possibilidade. Porém, o Bairro Vivendas do Bosque não tem vazio urbano, o que pode ser facilmente constatado pelo “google Earth”.
Tanto é verdade que o Edifício estará sendo erguido num terreno de apenas 1.080 metros quadrados. Os lotes nessa região giram em torno de 600 metros quadrados, onde foram erguidas casas com características arquitetônicas bastante peculiares, verdadeiras “chácaras” com árvores frutíferas nos quintais onde os pássaros constroem seus ninhos.
Campo Grande conserva algumas características de cidade pequena, e outras que já projetam as facilidades, mas também os problemas das grandes capitais. No processo de aceleração do adensamento populacional, o ar de cidade do interior vai se perdendo, ante à subida dos arranha-céus, o comprometimento do trânsito a cada dia mais violento, e a redução das áreas verdes. Nesse contexto, a população campo-grandense tem se mobilizado para tentar proteger nosso patrimônio histórico, cultural e ambiental.
Foi assim com as intensas mobilizações contra o desmatamento do Parque dos Poderes. O abraço ao Parque das Nações Indígenas, quando o lago secou. O assertivo movimento que, em plena pandemia, fez a SOLURB recuar no local apontado para a edificação do novo aterro sanitário da cidade. E, agora, com a campanha #NãoaoNeo, o empreendimento em frente ao qual o protesto ocorrerá.
As pessoas estão se movimentando em prol da conservação ambiental de Campo Grande. Isso é inegável. E os gestores, autoridades e dirigentes que fecharem os olhos a isso, “perderão o bonde da história”. A história que se faz nas mobilizações populares, no calor das ruas e mais recentemente, no contexto da pandemia provocada pela COVID-19, nas redes sociais.
É nas redes sociais que os moradores do Bairro Vivendas do Bosque têm se manifestado contra o empreendimento NEO, lançado pela construtora HVM, em uma rua sem saída, de apenas três quarteirões, sem consulta aos moradores, e em flagrante desrespeito às características ambientais do bairro, confinante do Parque das Nações Indígenas.
Durante o movimento, eis que o Prefeito enviou à Câmara Municipal o Projeto de Lei n. 9794/2020, a fim de regulamentar o Estudo do Impacto de Vizinhança em Campo Grande. O vereador Eduardo Romero pediu VISTAS do projeto e, por sugestão dos militantes dos movimentos ambientalistas, propôs uma Emenda para garantir que os empreendimentos a serem edificados no entorno das Unidades de Conservação e dos Parques, sejam obrigados a realizar o referido estudo.
Os moradores da cidade têm procurado sensibilizar os demais vereadores a votarem favoravelmente à EMENDA protocolada na Câmara Municipal de Campo Grande no dia 06 de Agosto de 2020. Até o fechamento desta edição já haviam manifestado seu apoio à emenda, além do proponente, vereador Eduardo Romero, os seguintes vereadores: Ayrton Araujo (PT), Darleng Campos (MDB) e Cida Amaral (PROS).
A expectativa é que nos próximos dias os demais vereadores se sensibilizem com a proposta, e votem favoravelmente à inclusão da exigência do Estudo de Impacto de Vizinhança para os empreendimentos que se pretenda edificar no entorno das áreas verdes. Quem vai defender o direito dos quatis? Das capivaras? Das araras que pululam nessas áreas e tornam a nossa cidade tão aprazível? Quem há de defender as nossas árvores?
É preciso lembrar que as áreas verdes contribuem para o clima mais agradável, para a qualidade do ar, propiciando lazer e a prática de esportes, melhorando a saúde da população e a disponibilidade hídrica. Campo Grande é referência no Turismo de Observação de Aves, gerando empregos e movimentando a economia do município, com pouco impacto ambiental.
Mas Campo Grande está na encruzilhada do seu desenvolvimento: é preciso olhar, cuidar, conservar, a fim de que nossas áreas verdes não se percam à sombra dos arranha-céus. Faz-se necessário descobrir caminhos que não descaracterizem o ethos, o conjunto de traços e modos de comportamento que conformam o caráter e a identidade da nossa coletividade.
É isso que os moradores do Bairro Vivendas do Bosque reivindicam: o direito à sua história, aos seus valores, e a conviver com a rica biodiversidade do entorno da área verde na qual constituíram seus lares e formaram suas famílias. Se você concorda com isso, faça um cartaz e poste nas redes sociais com a hashtag #NãoaoNeo.
Fale com o vereador ou a vereadora em quem você votou. Peça o apoio à emenda que inclui no artigo 3º do Projeto de Lei n. 9794/2020, a exigência do Estudo de Impacto de Vizinhança quando os vizinhos são os Parques e áreas verdes. Ajude a tirar Campo Grande da rota do crescimento desordenado, colocando a nossa querida morena na direção do desenvolvimento sustentável.
(*) Giselle Marques é advogada e professora universitária
Projeto respeitou a arquitetura do bairro, diz HVM
Em nota sobre a manifestação dos moradores, a HVM Incorporadora diz que o projeto do Neo Vivendas do Bosque “foi concebido respeitando a arquitetura do bairro, valroizando as características da região, bem como a biodiversidade”.
“Das considerações feitas pelos moradores, nenhuma questão ambiental foi pontuada. As práticas sustentáveis estão presentes em todos os empreendimentos da empresa, que inclusive conta com a certificação internacional AQUA-HQE, que é um selo que atesta a alta qualidade ambiental de um empreendimento e a preocupação com a sustentabilidade”, destacou.
Confira a nota na íntegra:
“A NEO INCORPORAÇÃO, em acolhimento às manifestações dos moradores do Bairro Vivendas do Bosque, emitiu no dia 10 de agosto uma carta aberta em que considerou todas as questões pontuadas.
O projeto foi concebido respeitando a arquitetura do bairro, valorizando as características da região, bem como a biodiversidade, respeitando todas as normas vigentes. Dentre todos os objetivos também pretendemos contribuir com a valorização urbana da região, agregando desenvolvimento.
Das considerações feitas pelos moradores, nenhuma questão ambiental foi pontuada. As práticas sustentáveis estão presentes em todos os empreendimentos da empresa, que inclusive conta com a certificação internacional AQUA-HQE, que é um selo que atesta a alta qualidade ambiental de um empreendimento e a preocupação com a sustentabilidade.
Conforme Plano Diretor de Campo Grande, o Vivendas do Bosque é um bairro comercial e residencial, por isso o nosso projeto segue a risca todo o regramento legal, contando, inclusive, com a proposta de fomentar a mobilidade urbana via bicicletas, reciclagem de resíduos e outras práticas sustentáveis, democratizando o acesso a uma região privilegiada e, assim, contribuindo com a qualidade de vida da população.
Entendemos que o envolvimento da comunidade no desenvolvimento da cidade é fundamental, assim como já ocorreu com outros empreendimentos que contribuíram para o crescimento da Capital. E com este entendimento, nos mantemos sempre abertos às sugestões e ao diálogo.”