Desconhecida, temível e estranha, a covid-19 causa calafrios na maior parte da população, assustada ao enfrentar a maior pandemia dos últimos 100 anos, que parou a economia e passou a ser o maior desafio dos cientistas no mundo. Apesar da alta taxa de letalidade, 80% dos 36.542 infectados no Estado já venceram o coronavírus, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde.
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Com o mundo conectado nas redes sociais, o que não falta é informação a respeito da pandemia, a maior já registrada desde a gripe espanhola, que matou 50 milhões de pessoas entre 1918 e 1920. Feita com o objetivo de alertar, o bombardeio de notícias acaba causando pânico.
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O excesso de informação causou medo na professora Giovana Andrade Fraiha, 37 anos, de Amambai, a 342 quilômetros de Campo Grande. Inicialmente, ela achou que estava gripada, considerando que os sintomas são praticamente os mesmos. Somente ao ficar sem olfato e paladar, ela passou a admitir que estava com a covid-19.
Professora volta duas vezes ao hospital depois de “estar curada”
“Foi um momento difícil pelas incertezas que essa doença nos traz, tudo muito novo. Entrei em meu quarto, chorei, mas pedi pra Deus calma para enfrentar o isolamento e essa doença que abala muito o emocional devido a descriminação as pessoas te olham com medo”, contou a docente.
Giovana cumpriu os 14 dias de isolamento e, quando achou estar curada, teve falta de ar e foi internada pela primeira vez. Ela permaneceu quatro dias no hospital. Na semana seguinte à alta, a professora voltou a ficar ruim e acabou sendo atendida em Dourados, a 110 quilômetros da sua cidade, onde ficou sabendo estar sofrendo as sequelas da doença.
“Superei a doença com muita fé, me entreguei a toda fé que tinha”, diz José
O impacto do resultado positivo não deixa de balançar as estruturas do cidadão. “A notícia de estar com uma ‘doença mundial’ abala, mesmo que o médico tenha dito que os meus sintomas eram leves”, relatou o advogado e vereador Odilon Júnior (PSD), filho do juiz federal aposentado Odilon de Oliveira.
“Ninguém sabe como ela age”, conta o parlamentar, que ficou três dias internado. A pandemia não faz discrição de pobres nem ricos. Só na classe política foram três deputados estaduais, inclusive o presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Corrêa (PSDB), e o secretário estadual de Fazenda, Felipe Mattos. A prefeita Délia Razuk (PTB), de Dourados, segunda maior cidade do Estado, também passou pela experiência.
A notícia de estar com a doença mundial abala, garante vereador
O deputado estadual Coronel David (sem partido) só conseguiu confirmar a doença ao se submeter exame de tomografia e após apresentar os sintomas por vários dias. Três testes, sendo um no hospital, deram negativo para a covid-19. Ele estava com 25% do pulmão comprometido, quando foi internado no El Kadri.
A história do ex-comandante geral da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, que ainda se recupera em casa da convalescença, é sinal de alerta para quem apresenta os sintomas e rompe a quarentena após os primeiros testes.
“Foram mais de duas semanas de muita ansiedade, mas também de muita fé e esperança de que essa turbulência passaria. Mais do que nunca, é preciso respeitar as normas sanitárias”, relembrou, aconselhando a manter o distanciamento social, usar máscara e higienizar as mãos.
Jornalista teve sensação de proximidade com a morte
Aos 67 anos, o jornalista Silvio Andrade conseguiu testar positivo para o novo vírus, mas sem apresentar os sintomas. Residindo na frente do Centro Regional de Saúde do Bairro Tiradentes, ele enfrentou dias de agonia, considerando as informações e por integrar o grupo de risco, a espera dos sintomas para pedir socorro na unidade de saúde.
“Que doença é esta? No apartamento, entre quatro paredes, passei dias de muita angustia a cada boletim médico do colega (Paulo Yafusso) internado, que foi ao fundo do poço e voltou, graças a Deus”, relembra, em depoimento exclusivo para O Jacaré. “Moro em frente ao posto de saúde do Tiradentes. Na madrugada sem sono, pensava: quando essa p… vai se manifestar? A qualquer sintoma, atravessaria a rua e pediria socorro na emergência…”, relatou.
Yafusso chegou a ficar mais de 10 dias internados na UTI e acabou se recuperando da doença.
Médico conta como combateu os sintomas e superou a covid-19
Essas regras eram seguidas à risca pelo radialista Joel Silva, apresentador do Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan. No entanto, ele acabou contraindo a covid-19 e passou alguns dias no hospital. Por pouco, não acabou na UTI. Ele acredita que acabou sendo infectado por um descuido ao abastecer o carro em um posto de combustível, quando o frentista espirrou com a máscara abaixo do nariz.
Durante a internação e o período de recuperação, Joel encontrou nas redes sociais a força para enfrentar a covid-19 e ao compartilhar a sua história, deu força para outras pessoas. “Hoje me divido entre a minha recuperação e esses ‘atendimentos’ e grupos de oração, inclusive um de brasileiros na Europa”, contou.
Após três testes negativos, tomografia confirmou coronavírus em deputado
Ciente de que contrairia a nova doença, já que considerava apenas questão de tempo por trabalhar diariamente no HU, o médico Ronaldo Costa de Souza teve febre e dor de cabeça. Aos 55 anos, o profissional do Hospital Universitário destaca que adota regras rígidas para ter qualidade de vida: ele não fuma, não bebe álcool e adota uma dieta alimentar equilibrada.
“Eu tenho uma construção diária no meu processo de saúde: evito alimentos com agrotóxicos, não uso bebidas alcoólicas, e utilizo muitas vitaminas a base de frutas naturais e ricas em vitamina C”, ressalta.
“Tive um dia de febre alta, e depois, no dia seguinte, muita dor de cabeça e cansaço, que persistiu, como se tivesse um limite para inspiração profunda. Só fiz a medicação para febre e dor”, diz. “Eu tratei minha COVID-19 com muita hidratação, alimentação equilibrada, sem consumo de bebidas alcoólicas, sem cigarro, em completo isolamento social, usando muito álcool 70º para desinfectar superfícies, objetos e mãos, e uso contínuo da máscara”, orienta.
Assintomático, Silvio passou dias de agonia a espera dos sintomas que não vieram
“Medicamentos utilizados: dipirona 50 gotas na noite da febre e 50 gotas no dia seguinte da cefaleia”, conta. Em seguida, ele aproveita para alfinetar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defende o protoclo de remédios para combater a pandemia. “Já pensou se agora eu fosse dizer que dipirona cura COVID-19, como estão falando da cloroquina e ivermectina?”, cutuca.
Outro problema é o preconceito de quem teve a doença. Norma Lourdes Pereira Sales chega a rir ao contar como enfrentou a doença. “Eu achava que a covid-19 era que nem a morte, acontece com as outras pessoas, mas, nunca com a gente”, afirma.
Radialista crê que pegou a doença em momento de descuido ao abastecer o carro
“Sofri muito dentro da minha casa, chorei por me sentir sozinha, apesar de contar com amigos, mas tive muito medo, porque não sabia o que podia acontecer comigo a qualquer momento. Fiquei muito frágil. Só eu e Deus sabemos o que passei”, relembra ela, que ficava aliviada ao ser procurada pela equipe de monitoramento da saúde.
“Uma coisa que aconteceu comigo foi o preconceito, um absurdo”, lamenta. “Até hoje depois de dois meses curada, percebo que ainda pensam que estou doente”, relata. Ao ser questionada sobre que conselho daria à população, ela tira uma onda. “Se fosse bom, ninguém dava, vendia, né”, ri.
Norma é taxativa sobre como combater à pandemia. “Creio que tem que ser só com a conscientização da população pra conter esse terrível vírus. Porque quando não querem cumprir, não tem lei q segura o povo, muito menos decreto”, ressalta.
No Brasil, 3.317.096 pessoas contraíram a doença, sendo que 2.404.272 se recuperaram e 107.232 morreram. Em Mato Grosso do Sul, dos 36.542 infectados, 29.245 estão curados e 598 morreram. Outros 544 estão internados, sendo 239 em UTI.