Na véspera da Justiça decidir pelo isolamento total, Campo Grande bateu o trágico recorde de 16 mortes causadas pela covid-19 em 24 horas, conforme a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). Devido a pandemia estar fora de controle e a previsão de novos recordes, grupo de cientistas divulgaram carta para manifestar apoio público ao lockdown de 14 dias na Capital proposto pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul.
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Com base no boletim divulgado no início da noite de ontem (6), o número de óbitos passou de 156 para 172 na Capital, com taxa de letalidade de 1,4%. Das 16 mortes, nove doentes tinham mais de 70 anos, quatro de 60 a 70 anos e três eram adultos (43, 49 e 54 anos). Conforme a Sesau, dez mortes ocorreram em hospitais públicos, cinco em estabelecimentos particulares e uma em residência.
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A covid-19 matou em um dia o mesmo número de pessoas que o trânsito matou em quatro meses. De acordo com a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), 16 pessoas morreram em acidentes automobilísticos de abril até julho deste ano na Capital. O número também equivale ao número de vítimas de homicídios no município nos meses de junho e julho deste ano.
O número total de mortes causada pelo coronavírus em Campo Grande supera o total de mortes registradas nos últimos dois anos no município (159). O número de óbitos pela covid-19 já é 156% superior ao número total de campo-grandenses vítimas de homicídio dolosos neste ano, de acordo com a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública.
Não bastassem as mortes, o crescimento exponencial no número de contaminados vem sobrecarregando o sistema de saúde público e privado. Reportagem do Campo Grande News revelou que cinco dos nove hospitais da Capital estão com 100% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensivo) ocupados: Hospital do Coração, HU, Santa Casa, Pênfigo e El Kadri. Os demais estão com ocupação entre 70% (Unimed) e 97%, no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian.
Baseado nesses dados e nos indicativos de colapso, um grupo de pesquisadores de quatro universidades federais, inclusive a UFMS e UFGD, defenderam a decretação de locdown para frear a pandemia em Campo Grande e salvar vidas.
“Os pesquisadores Adeir Archanjo da Mota (UFGD), Ana Paula Archanjo Batarce (UFMS), Cremildo João Baptista (UFMS), Eva Teixeira dos Santos (UFMS), Elisa Pinheiro de Freitas (UFMS), Fernanda Vasques Ferreira (UFOB), Marco Aurélio Boselli (UFU) e Mauro Henrique Soares da Silva (UFMS) vêm a público manifestar apoio à ação civil pública da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso do Sul que indicou fechamento total – lockdown – para o município de Campo Grande – MS como forma de prevenir mortes evitáveis pela Covid-19”, afirmaram.
“Assim, reiteramos o nosso apoio, mas mais que isso, reconhecemos a importância do trabalho da Defensoria Pública na preservação das vidas, na salvaguarda dos direitos sociais e na luta pela defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), direito de todos os cidadãos”, ressaltaram.
“Acrescentamos que a Defensoria Pública, no cumprimento de seu papel institucional, baseou-se em evidências científicas para a tomada de decisão, gesto que demonstrou apreço pela ciência e pela pesquisa científica”, concluíram.
Covid-19 mata em 24h mesmo número de vítimas no trânsito em quatro meses
Causa | Mortes | Tempo | ||
Covid-19 | 16 | em 24h | ||
Homicídios | 18 | 60 dias (junho e julho) | ||
Trânsito | 16 | 4 meses (abril a julho) |
O Governo do Estadual considera a situação de Campo Grande de risco extremo e recomendou o lockdown. Devido à repercussão do termo, bombardeado pelo prefeito Marquinhos Trad (PSD), vereadores e empresários, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) abonou a palavra do vocabulário tucano, mas ressaltou que apoia a ciência e só as atividades essenciais deveriam funcionar na Capital.
A decisão caberá ao juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos. Antes do despacho, ele convocou reunião com representantes da Defensoria, do Ministério Público e da Prefeitura para discutir o lockdown.
O magistrado ficando com o dilema do campo-grandense: o que é mais importante, salvar vidas ou a economia? Em praticamente todos os países, o lockdown acabou decretado depois do último suspiro de muita gente.
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Impulsionado pela Capital, MS também bate recorde com 23 mortes
Com o grande número de mortes em Campo Grande, onde a situação segue fora de controle, o boletim estadual também registrou recorde de óbitos. Foram 23 mortes confirmadas nesta sexta-feira (7).
Mato Grosso do Sul contabiliza 29.988 casos positivos e 481 mortes. O secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, lamentou os números e ressaltou a preocupação, em especial, com a Capital.
(Atualizada para inserir números do Estado às 10h50)