O crescimento alarmante no número de casos da covid-19 em Mato Grosso do Sul, com a confirmação de mais 782 casos e nove mortes nesta quinta-feira, pesquisadores de três universidades não descartam subnotificação da pandemia. O principal indicador é o aumento expressivo no número de notificações e óbitos de SRAGs (Síndromes Respiratórias Agudas Graves).
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Como parte da ofensiva para frear a pandemia, o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, continua cobrando medidas ainda mais drásticas na Capital, onde 91% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) estão ocupados na rede pública. Ele afirmou que 90% dos pacientes são moradores de Campo Grande, rebatendo o prefeito Marquinhos Trad (PSD), de que a maior parte é proveniente de 34 municípios.
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Em meio à polêmica envolvendo autoridades, o coronavírus segue fazendo vítimas e assustando ainda mais a população. A notícia da internação do ex-senador Delcídio do Amaral (PTB), que não vinha comovendo com os relatos diários nas redes sociais, viralizou na noite de quarta-feira (22).
Com a confirmação de mais 782 casos nas últimas 24h, o número de infectados em MS passou de 18.881 para 19.671. O Estado superou o Acre (17,9 mil) e Tocantins (18,8 mil). A Secretaria Estadual de Saúde confirmou mais nove óbitos, com o número total passando de 257 para 266, que continua, por enquanto, o menor número entre as 27 unidades da federação. No entanto, o número é nove vezes superior ao registrado no Paraguai, que acumula 35 óbitos causados pela pandemia.
Em meio ao toque de recolher e ao mini lockdown no fim de semana, Campo Grande segue com a situação fora de controle. Com a confirmação de mais 332 casos, a Capital passa a contar com 7.680 diagnósticos positivos, o dobro de Dourados (3.984).
Outro dado mostra como o contágio pelo coronavírus vem se acelerando em Campo Grande. O índice de resultados positivos dos testes realizados no drive thru saltou de 3,8% para 4,6% nesta quinta-feira (23). Apesar da ampliação na quantidade de testes, também houve aumento na positividade.
No entanto, o maior risco é de subnotificação da pandemia, ou seja, de que o número de mortes pode ser muito maior. O alerta foi feito pelos pesquisadores de três universidades, UFMS, UFGD (Grande Dourados) e UFOB (Universidade Federal do Oeste Baiano), que estão monitorando a covid-19 no Estado.
Na semana de 21 a 27 de junho deste ano, a secretaria confirmou 28 mortes por covid-19 em MS. No mesmo período, conforme a pesquisa, 60 pacientes morreram em decorrência da SRAGs não identificada, ou seja, 2,14 vezes mais.
Também constaram que houve explosão no número de casos de Síndromes Respiratórias Agudas Graves, que chegou a 250 de 7 a 13 junho deste ano e a mais de 400 no período de 5 a 11 deste mês. O gráfico mostra que as notificações mais que dobraram em relação ao mesmo período do ano passado.
Outro fator que indica a subnotificação é índice de letalidade altíssimo em algumas cidades. Em Alcinópolis, por exemplo, dos quatro pacientes contaminados pela covid-19, metade morreu (dois). Em Anastácio, dos 17 infectados, 17,65% (três) foram a óbito. O índice de letalidade é de 1,09% em Campo Grande e de 1,34% em Dourados.
“A correta interpretação desse dado é fundamental para que as autoridades reconheçam a necessidade de alcançar níveis de testagens massivos para evitar distorções nos registros e interpretações dos dados. Ou admitimos os níveis que estas taxas de letalidade representam como possíveis casos de Covid-19 ou admitimos a baixíssima testagem nesses municípios. Acreditamos que tem mais gente morrendo de Covid-19 e muito mais casos que não aparecem nos dados oficiais”, observou o professor e pesquisador da UFGD, Adeir Archanjo da Mota.
Os pesquisadores também cobram medidas das autoridades para conter a pandemia. Eles criticam os gestores que tentam responsabilizar a população pela propagação do coronavírus.
“Estamos diante de um fenômeno complexo – a doença. Não há espaço para ações que denotem amadorismo por parte dos gestores públicos. A doença já mostrou quais as marcas que irá deixar na sociedade e nos setores em todas as dimensões da vida humana. É momento de acolher os estudos científicos com seriedade e atenção, interpretá-los adequadamente e colocar em prática medidas que, de fato, reduzam os impactos da doença na vida das pessoas”, avaliou a pesquisadora em Comunicação, Saúde e Políticas Públicas da Universidade Federal do Oeste da Bahia, Fernanda Vasques Ferreira.
“Culpabilizar os indivíduos, responsabilizá-los por mortes e transferir para as pessoas a decisão que deve ser das autoridades que ocupam cargos institucionais – em especial os gestores públicos – é uma leviandade. A doença não pode ser tratada com preconceito, com estigmas, sob a guarida da religiosidade ou da moralidade. A doença precisa ser tratada pela ciência”, recomendou.