Com queda de 75% no investimento, a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), maior e mais conceituada instituição de ensino superior do Estado, vai às urnas para escolher o novo reitor. No entanto, a lista tríplice definida pelos 28 mil estudantes, técnicos administrativos e professores pode ser ignorada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), como ocorreu na eleição da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), onde mantém reitora pro tempore, a professora Mirlene Ferreira Macedo Damázio, nomeada sem participar do processo eleitoral.
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O orçamento de R$ 875,7 milhões da UFMS supera praticamente a receita total de praticamente todos os municípios de MS, só ficando atrás do Governo do Estado (R$ 15 bilhões) e da prefeitura da Capital (R$ 4 bilhões). No entanto, com a mudança na política nacional, os investimentos na instituição tiveram queda de 75%, de R$ 18,6 milhões, previstos em 2018, para R$ 4,478 milhões para este ano.
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No ano passado, estudantes e trabalhadores da universidade sensibilizaram a sociedade com manifestações contra os cortes no orçamento. A mobilização acabou tendo efeito e o investimento em 2019 foi de R$ 10,4 milhões após o Ministério da Educação suspender os cortes.
Em meio a este clima, de menos investimentos e sob ataque dos bolsonaristas, a UFMS vota nesta sexta-feira, das 8h às 21h. Devido à pandemia causada pelo coronavírus e com as aulas presenciais suspensas desde março, a votação será virtual e mobilizará 28.032 eleitores.
Confira a evolução na UFMS
Ano | Orçamento | Investimento |
2017 | R$ 677,5 milhões | R$ 13,8 milhões |
2018 | R$ 835,4 milhões | R$ 16,9 milhões |
2019 | R$ 907,8 milhões | R$ 10,3 milhões |
2020 | R$ 875,7 milhões | R$ 4,4 milhões |
Fonte: Transparência UFMS |
Quatro chapas disputam o comando da instituição. O atual reitor, Marcelo Turine, disputa a reeleição, tendo como candidata vice, Camila Itavo, pela chapa “Todos somos + UFMS”. Apesar de ter criticado os cortes feitos pelo MEC no ano passado, o atual dirigente tenta ser o representante do bolsonarismo. Turine não criticou o programa Future-se, o projeto defendido pelo presidente para as universidades brasileiras.
O diretor do Instituto de Química, Lincoln Carlos Silva de Oliveira, é candidato a reitor pela chapa “UFMS + Vozes”, que tem como vice reitor, o professor de Matemática José Antônio Menoni. A chapa “Eficiência e Inovação” conta com a professora da Faculdade de Direito, Lídia Maria Lopes Rodrigues Ribas, como candidata a reitora, e o médico Günter Hans Filho, como vice-reitor.
A quarta chapa, “Cultura, Ciência e Consciência”, conta com uma dupla feminina, a professora de Letras, Elizabeth Maria Azevedo Bilange, como titular, e a de Literatura, Lucilene Machado Garcia Arf.
Apontado como o mais fiel ao presidente Bolsonaro, o médico Augustin Malzac desistiu de ser candidato após denúncia de plágio – um crime considerado gravíssimo em uma universidade. Ele teria copiado 11% do plano de governo da UFF (Universidade Federal Fluminense) sem citar a fonte.
Apesar de ter saído da disputa, caso se confirmem as suspeitas de que é o representante do bolsorismo, o médico não pode ser considerado fora do páreo para assumir o comando da UFMS. Apesar da lei determinar que o reitor seja um dos integrantes da lista tríplice, o presidente ignorou os nomes definidos pela comunidade universitária em várias ocasiões.
No ano passado, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ignorou a lista tríplice e designou a professora Mirlene Damázio, que nem participou da consulta, como reitora pro tempore da UFGD. O mais grave, a intervenção teve apoio da maior parte da classe política sul-mato-grossense.
Preso na Operação Vostok e indiciado pela Polícia Federal no mês passado por corrupção passiva, o primeiro secretário da Assembleia Legislativa, Zé Teixeira (DEM), afirmou que a “intervenção foi um mal necessário”. Na visão do suposto democrata, a instituição, que se tornou uma das mais conceituadas e respeitadas no País após ser comandada por dois reitores eleitos pela comunidade universitária, iria ter” enormes dificuldades”.
Esse é o risco dos eleitores da UFMS nesta sexta-feira, de terem ido às urnas em vão.