Após manter a situação sob controle por três meses, Campo Grande registrou aumento de 363% no número de casos confirmados da covid-19 em 24 dias deste mês, de 312, no dia 1º, para 1.446 ontem (24). Com a propagação acelerada do contágio, a Capital deverá adotar o lockdown (isolamento total) em julho para conter a pandemia, segundo previsão do médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Júlio Henrique Croda.
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Na avaliação do especialista, as novas medidas anunciadas pelo prefeito Marquinhos Trad (PSD), como uso obrigatório de máscara desde sexta-feira (19) e antecipação do toque de recolher para as 22h a partir de manhã, não serão suficientes para impedir o alastramento do coronavírus.
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“Campo Grande até julho deverá entrar em lockdown, porque não não terá vagas de UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”, previu Croda. A previsão é voltar a suspender todo, só mantendo as atividades essenciais, como supermercados, farmácias e conveniências.
O campo-grandense já teve experiência semelhante na segunda quinzena de março, quando Marquinhos conseguiu parar a cidade, desde o transporte coletivo, shoppings, academias, comércio, hotéis e até o Terminal Rodoviário de Campo Grande. Naquele mês, o toque de recolher começava às 20h.
A reabertura ocorreu de forma gradual e mediante uma série de medidas de biossegurança, como utilização de álcool gel e distanciamento social. No entanto, desde o dia das mães, o campo-grandense vem dando sinais de que perdeu o medo para a pandemia, que já matou mais de 53,8 mil pessoas no Brasil e 58 em Mato Grosso do Sul.
De meados de março até o dia 1º deste mês, a Capital tinha contabilizado 312 pacientes infectados pelo coronavírus. A situação ficou totalmente o controle neste mês, com espetacular aumento de 363% em 23 dias, chegando a 1.446 casos nesta quarta-feira (24).
Outro dado que preocupa é o avanço da pandemia entre os profissionais de saúde, que sofrem com a falta de equipamentos de proteção especial. A Prefeitura da Capital chegou a licitar a compra de milhares de máscaras, mas o contrato acabou cancelado porque o fornecedor teve dificuldade para entregar o produto. O Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian precisou recorrer a doações de máscaras e aventais, apesar de ser referência no tratamento da doença.
O resultado está na estatística. Em 23 dias, houve aumento de 736% no número de profissionais da saúde infectados pela covid-19, de 33 para 276. O crescimento maior ocorreu entre os enfermeiros, de 4 para 53. Houve aumento de 446% no número de médicos com resultado positivo, de 13 para 71 ontem.
Ex-diretor clínico do HR, o médico Ronaldo Costa alerta que a situação poderá ficar muito pior com a chegada do inverno, quando há aumento no número de doenças respiratórias. “Com as manifestações sintomáticas das doenças comuns do inverno, como tosse, espirros, crises de asma e outras alergias como rinites, sinusites… todo este conjunto de fatores, se complicar ainda mais com inverno mais frio e seco tenderá para criar uma condição de propagação ainda maior do coronavírus”, avisou.
“É bom que fique claro que esta doença, a SARS pelo coronavírus é uma doença infecciosa grave, que não tem medicamentos específicos definidos para seu tratamento”, alertou. Costa defendeu a adoção imediata de medidas emergenciais para conter a pandemia.
“Eu continuo afirmando que a política de isolamento de contato deve ser implementada imediatamente. Poderemos passar dificuldades, mas teremos mais chances de vida”, defendeu o médico.
O HR já ativou o hospital de campanha, com 120 leitos improvisados. De acordo com o Campo Grande News, a unidade recebeu os primeiros dez pacientes ontem.