O delegado Márcio Shiro Obara, preso na Operação Armagedom, denominação da 3ª fase da Omertà, era referência nas investigações para desvendar os homicídios de grande impacto em Mato Grosso do Sul. Além disso, o advogado Ronaldo Franco avaliou como “frágeis” as acusações de que ele recebeu propina de R$ 100 mil para sumir com provas, impedir investigações e assediar outros delegados para livrar os chefes dos grupos de extermínio no Estado, Jamil Name, 81 anos, e Fahd Jamil, o rei da fronteira.
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A defesa já definiu a estratégia para rebater a propina, revelada pela mulher do guarda municipal Marcelo Rios, preso em maio do ano passado com um arsenal de armas de grosso calibre. Até o repasse para o investigador da Polícia Civil, Célio Rodrigues Monteiro, o Manga Rosa, não seria proveniente de corrupção policial, mas dinheiro de herança e negócio entre ambos.
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“O Márcio (Obara) foi designado para todos os homicídios importantes”, ressaltou Franco. O delegado conduziu a investigação do assassinato do delegado aposentado Paulo Magalhães, metralhado no dia 25 de junho de 2013. Ele teria sido designado para investigar o assassinato do policial civil Wescley Dias Vasconcelos, 37 anos, ocorrido em agosto de 2018 em Ponta Porã.
Ele também comandou as investigações do ex-segurança do empresário Jorge Rafaat, Orlando da Silva Fernandes, o Bomba, ocorrido em 26 de outubro de 2018. Obara também comandou a investigação do chefe de segurança da Assembleia, o sargento da PM Ilson Figueiredo Martins, ocorrido na Avenida Guaicurus, no dia 11 de junho de 2018.
O mesmo ocorreu para investigar o brutal assassinato de Alberto Aparecido Roberto Nogueira, o Betão, e Anderson Celin Gonçalves da Silva, que foram metralhados e queimados em Bela Vista. Em todos os homicídios, o delegado não identificou o mandante ou mandantes das execuções.
Obara chegou a ser acusado de sumir com provas da execução de Figueiredo, o que incluía um dossiê com prints de conversas, uma caneta espiã e cartões de memória. Ronaldo Franco nega o sumiço do dossiê e ressalta que os policiais da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) chegaram ao local do crime antes de Obara, que chefia a Delegacia Especializada em Homicídios. O defensor garantiu que ninguém era identificado no dossiê
Sobre a omissão da suspeita de que Betão foi executado a mando de Fahd Jamil para vingar a morte do filho, Daniel Alvarez Georges, em 2011, Franco disse que o delegado não pode relatar inquérito com base em boatos ou com base em suspeitas em voz corrente nos bastidores da delegacia.
Ele também rechaça a acusação feita pelos delegados Fábio Peró e João Carlso Sartori, do Garras, de que Obara os tenha assediado para encerrar as investigações sem chegar nos mandantes. Ronaldo Franco ressaltou que o suposto assédio ocorreu em abril do ano passado, mas só foi relatado pelos delegados em janeiro deste ano.
Obara também tinha uma linha de investigação para chegar aos assassinos do universitário Matheus Coutinho Xavier, morto no lugar do pai, o capitão da PM, Paulo Roberto Teixeira Xavier. No entanto, a tese teria sido ignorada pelos colegas na Força-Tarefa.
Sobre as movimentações suspeitas na conta do delegado, o advogado garantiu que se trata de herança deixada pela mãe. Como o dinheiro estava na poupança, onde o rendimento é irrisório, Obara teria emprestado R$ 50 mil a Manga Rosa. A quebra do sigilo bancário expôs a negociação entre os dois.
Para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), a transferência é prova cabal da divisão da propina revelada pela mulher de Rios. A defesa diz que foi empréstimo, que acabou sendo quitado em dois repasses feitos por Célio.
Já sobre a transferência de R$ 10 mil, o advogado explica que se trata do pagamento de uma pistola. A arma teria sido registrada no sistema nacional de armas, controlado pela Polícia Federal e pelo Exército.
Obara foi titular do Garras, da Delegacia de Homicídio e da 2ª Delegacia de Polícia na Capital. Ele ainda era o instrutor de armas, munições e tiros em cursos voltados para policiais civis e integrantes do Poder Judiciário.
Ele está preso desde quinta-feira, quando houve o cumprimento dos mandados de prisão. O ex-presidente da Assembleia Legislativa e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Jerson Domingos, ficou preso por apenas 20 horas. Ele foi solto em habeas corpus concedido na madrugada de sexta-feira pelo desembargador de plantão, Vladimir Abreu da Silva.
Em protesto contra o magistrado, cartazes afixados em algumas ruas da Capital o colocaram como “funcionário do mês” pela agilidade na revogação da prisão de Domingos, que foi deputado estadual por cinco mandatos e está no TCE há cinco anos.