Com a prisão preventiva decretada pela segunda vez, o poderosíssimo empresário Fahd Jamil Georges já ficou foragido da Justiça por um ano e oito meses e conseguiu escapar do cerco até dos Estados Unidos. Na única vez em que foi preso, por contrabando de café nos anos 80, o rei da fronteira, como ficou conhecido, foi recebido na porta da cadeia pelo governador do Estado e tratado como autoridade em Brasília (DF).
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Alvo da Operação Armagedom, denominação da 3ª fase da Omertà, junto com o filho, Flávio Correia Jamil Georges, o empresário é acunhado de comandar grupo de extermínio em Ponta Porã e dar apoio à organização criminosa chefiada pelo compadre, Jamil Name, 81. De acordo com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), ele teria mandado matar quatro homens para vingar o assassinato do filho, Daniel Alvarez Georges, desaparecido em 3 de maio de 2011 em um shopping de Campo Grande.
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No entanto, os 200 policiais militares, civis e rodoviários federais mobilizados para cumprir os 20 mandados de prisão não conseguiram localizar Fahd e o filho na quinta-feira (18). Ele não foi encontrado na mansão nem na Fazenda Três Cochilhas, em Ponta Porã. A prisão foi decretada pelo juiz Marcelo Ivo de Oliveira, da 7ª Vara Criminal de Campo Grande.
Não é a primeira vez que o empresário escapa ao cerco policial. Há 15 anos, em junho de 2005, ele foi condenado a 20 anos e três meses de prisão em regime fechado por tráfico de drogas, sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro pelo juiz federal Odilon de Oliveira, então na 3ª Vara Federal de Campo Grande. Ele determinou a prisão imediata do rei da fronteira.
No entanto, a Polícia Federal não o localizou. Fahd Jamil foi incluído na lista vermelha da Interpol e teve a prisão preventiva decretada no Paraguai. Em junho de 2006, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, incluiu na lista dos procurados pelo governo americano. Na ocasião, ele foi acusado de ter ligação com o terrorismo internacional e proibido de fazer transações com empresas americanas.
Jamil foi considerado foragido e caçado pela PF até fevereiro de 2007. O ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça, concedeu haR$beas corpus e revogou a prisão preventiva do poderosíssimo empresário. O ministro foi investigado por venda de sentenças na Operação Hurricane.´
O Ministério Público Federal acusou Fahd Jamil de usado o dinheiro do tráfico de drogas e da sonegação fiscal para comprar 199 imóveis urbanos, uma fazenda de 180 hectares e cotas do capital de quatro empresas. Em outro inquérito, a PF investigou lavagem de dinheiro, já ele declarou renda de R$ 24 mil a R$ 76 mil por ano, mas recebeu mais de R$ 15,3 milhões em depósito (R$ 89,2 milhões em valores atualizados pela inflação) entre julho de 1994 e novembro de 1996.
Além da revogação da prisão preventiva em 2006, o rei da fronteira acabou se livrando da sentença em junho de 2009. A 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região o absolveu e desbloqueou todos os bens.
Aposentado desde o final de 2017, Odilon de Oliveira voltou a exercer a advocacia e atual como advogado do policial federal Everaldo Monteiro de Assis, preso na primeira fase da Operação Omertà. Conforme o Gaeco, o policial faria parte da suposta organização criminosa chefiada por Fahd Jamil. Há inclusive depósito de R$ 2,5 mil de Flavinho para Assis. A suspeita é de que ele forneceu dados das vítimas que foram executadas pelo grupo de extermínio.
O Jacaré procurou o juiz Odilon na manhã deste sábado para falar sobre a condenação de Fahd Jamil, mas ele não se manifestou até o momento.
No entanto, o rei da fronteira já foi preso uma vez. Um delegado da Polícia Federal conseguiu autorização judicial e o colocou atrás das grades no início dos anos de 1980 por contrabando de café. A prisão causou enorme constrangimento ao governo militar chefiado por João Batista Figueiredo.
A história até virou lenda devido à rapidez na concessão do habeas corpus. O então governador Pedro Pedrossian se deslocou de Mato Grosso do Sul até Curitiba para receber Fahd Jamil na saída da cadeia. Em seguida, ele foi levado até Brasília, onde um coronel do Exército, então diretor geral da Polícia Federal, recebeu o rei da fronteira com honras. Ele foi transportado do aeroporto até a PF em carro oficial do Senado.
O então diretor geral da PF se desculpou pela prisão e ainda puniu o delegado por ter prendido o rei da fronteira. Ele foi removido. Não há notícia da condenação do empresário pelo contrabando do café.
A ficha limpa de Fahd Jamil foi um dos motivos que levaram o então ministro do STJ a lhe livrar da prisão preventiva. Graças a decisão do TRF3, o rei da fronteira segue com bons antecedentes.
De acordo com o Gaeco, ele comanda um poderoso grupo criminoso e uma rede de pistoleiros na região de fronteira. A Fazenda Três Cochilhas é descrita como verdadeiro bunker do empresário, que inclui segurança fortemente armada, passagens subterrâneas e depósitos de armas.
Além da fuga do rei da fronteira, nenhuma arma de fogo teria sido localizada no suposto depósito pelo Gaeco e pelo Garras. Além de poderoso, Fahd Jamil também age como alguém que vê longe e se antecipa aos acontecimentos.