A pandemia do coronavírus bateu novo recorde em Mato Grosso do Sul com a confirmação de 156 novos casos em 24 horas. Conforme boletim divulgado nesta quarta-feira (3), o número de infectados saltou de 1.646 para 1.802 no Estado. Responsável por 66% dos novos testes positivos, a região da Grande Dourados pode enfrentar falta de vagas em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em meados de julho deste ano.
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O alerta é do pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Júlio Croda. Sem medidas duras para frear o contágio, a segunda maior cidade do Estado corre risco de repetir o colapso no sistema de saúde verificado em outras metrópoles, como Belém (PA) e Manaus (AM).
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A pandemia gan28ha força de forma assustadora na Grande Dourados, passando de 625 para 729 casos nas últimas 24 horas. Com 222,9 mil moradores, Dourados conta com 378 casos, contra 339 do dia anterior. Fátima do Sul passou de 70 para 115 casos, enquanto Rio Brilhante pulou de 58 para 63. Douradina segue com 62 casos, seguida por Itaporã com 60 (contra 45 de ontem) e Vicentina (39).
Novo epicentro da pandemia em Mato Grosso do Sul, para contragosto das autoridades locais, Dourados tem outros fatores preocupantes. “Dourados testa igual a Campo Grande e apresenta uma maior positividade no Drive Thru, no último mês apresentou um aumento de mais de 4000% no número de casos e tem uma incidência na última semana 7 vezes maior que Campo Grande”, avaliou o infectologista Júlio Croda.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, 22,8% dos exames feitos no drive thru de Dourados testaram positivo para Covid-19. Na Capital, com quatro vezes mais moradores, o índice de positividade está em 3,3%. Ex-diretor do Ministério da Saúde, o pesquisador da Fiocruz destaca que as duas cidades estão testando a mesma porcentagem de moradores.
“Dourados é o epicentro e não tem leitos de UTI suficientes para a macrorregião. É necessário (adotar) medidas de distanciamento social para reduzir a taxa de contágio e superlotação dos leitos de UTI nos próximos 30 a 45 dias”, alerta o médico.
Dourados conta com 28 leitos de UTI nos hospitais públicos e privados, conforme Croda. Deste total, oito (28%) estão ocupados.
O número de pessoas hospitalizadas deve aumentar com a aceleração no contágio. Como o vírus vem se propagando rapidamente, o risco de o número de doentes superar a demanda oferecida é muito provável. A taxa de isolamento social no município é de 40%, abaixo do considerado ideal, que é 70%.
Para Croda, a piora no estado de saúde do infectado pelo coronavíurs demora de sete a dez dias. Isso significa que o aumento de internações em leitos clínicos e de UTI deverá subir rapidamente em duas a três semanas.
O mesmo apelo já foi feito pelo secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, que construiu a carreira política em Dourados. Ele pediu à população que adote as medidas para evitar o contágio. “Espero que Mato Grosso do Sul não faça a opção pela morte”, lamentou, ontem.
Já a equipe da prefeita Délia Razuk (PTB) se mostra mais preocupada em rebater os números e a tese de que a cidade se tornou o epicentro da pandemia no Estado. “Dourados rebate essa afirmação. Mostramos com dados técnicos o motivo do aumento dos casos. O número é crescente, é verdade, é superior a outros municípios, mas isso é fruto da testagem em massa”, explicou o assessor especial da prefeitura e presidente da subseção da OAB, Alexandre Mantovani, em entrevista ao Campo Grande News. Até a Ordem dos Advogados do Brasil passou a integrar o esforço coletivo para melhorar a imagem douradense.
“Dourados optou mais uma vez por não esconder os dados e tem feito testagem em massa, por isso o número de contaminados, mas isso é importante para colocar essas pessoas em isolamento e em tratamento, quando necessário”, frisou.
A mesma preocupação mostrou o médico do comitê, Frederico Oliveira Weissinger. “Nosso foco maior é a testagem, estamos testando mais, temos mais casos positivos, sim, porém com baixo índice de internação, baixo índice de letalidade, alta taxa de infectados em isolamento domiciliar”, disse.
Ao se esforçar em garantir que a situação está sob controle, as autoridades de Dourados insistem em corroborar o comportamento da população, reprovado por Resende, pesquisadores e infectologistas.
Aliás, o grande problema da pandemia, que atinge o mundo inteiro, com 6,4 milhões de infectados e mais de 380 mil mortes, é trata-la como problema político. O novo vírus não tem ideologia, credo, gênero ou classe social e é um problema de todos. O ideal é a união de todos contra um único inimigo – e ele não é político.