Mato Grosso do Sul corre risco de perder o último representante na Esplanada dos Ministérios. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina Dias, entrou na mira do “gabinete do ódio”, como é chamado o grupo de ataques virtuais liderado pelo vereador Carlos Bolsonaro. Além disso, ela é pressionada pelo DEM para deixar o Governo para ficar atrelada às notícias negativas sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
[adrotate group=”3″]
O outro representante do Estado era o médico ortopedista Luiz Henrique Mandetta (DEM), que foi demitido do cargo de ministro da Saúde apesar do País enfrentar a maior pandemia da história. A sua demissão foi reprovada por 64% dos brasileiros, conforme pesquisa do Datafolha.
Veja mais:
Bolsonaro ignora apoio de 76% e demite Mandetta por fazer a coisa certa contra o coronavírus
Nelsinho quer explicações de Bolsonaro e ameaça convocar general por dossiê contra primo
Com política externa de Bolsonaro, MS exporta mais para os EUA e reduz venda para nove países
MS pode perder R$ 1,7 bilhão com reação de árabes à política externa de Bolsonaro
Enquanto o Brasil conta as vítimas da Covid-19, com 59,3 mil casos confirmados e 4.057 mortes, Bolsonaro vem eliminando as estrelas do time. Conforme pesquisas, os ministros mais bem avaliados já foram demitidos, Mandetta e Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública. Aliás, a saída do ex-juiz da Lava Jato agravou a crise, porque acusou o presidente desde falsificar assinatura até interferir na Polícia Federal para perseguir inimigos e livrar os filhos.
A emblemática saída de Moro, que levou a classe política e parte da sociedade a discutir abertamente o impeachment de Bolsonaro, não deve acabar com a fabricação de crises na administração federal.
Tereza Cristina e o ministro da Economia, Paulo Guedes, podem ser os próximos a deixar o Governo. Ela ganhou o respeito ao evitar a suspensão das exportações de produtos brasileiros pelos países árabes, após o presidente defender a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém, seguindo o exemplo do presidente americano Donald Trump. Mato Grosso do Sul teria perdas bilionárias com a manobra.
A ministra também tem grande prestígio entre os produtos rurais. Apesar dos ganhos para o Brasil, Tereza Cristina passou a ser atacada nas redes sociais pelo “gabinete do ódio”. Também passou a ser atacada por manter boas relações com a China, responsável por 45% das exportações brasileiras. Maior comprador de MS, o gigante asiático comprou US$ 1,3 bilhão (R$ 7,2 bilhões) no ano passado.
Só que a China passou a ser considerada o grande inimigo brasileiro pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro e pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Em artigo publicado na semana passada, o chanceler brasileiro culpou os chineses por espalhar o “vírus do comunismo” no mundo.
O DEM também passou a pressionar Tereza Cristina a deixar o cargo de ministra da Agricultura e Pecuária como estratégia para preservar o capital político. Os principais defensores são ligados ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que passou a ser considerado inimigo público de Bolsonaro e seus seguidores.
Durante o polêmico discurso de Bolsonaro, para se defender dos ataques feitos por Moro, Tereza Cristina optou por ficar no canto. Houve quem enxergasse estratégia para ficar o mais longe possível do presidente.
Ao manter-se fiel a Bolsonaro, a ministra põe em risco o projeto de ser candidata a governadora de Mato Grosso do Sul em 2022. Havia articulação para Tereza Cristina ser a candidata de consenso dos grupos de Reinaldo Azambuja (PSDB), que cogita ser candidato a senador, e do ex-governador André Puccinelli (MDB).
Apesar de ainda contar com a fidelidade de um grupo de seguidores da extrema direita no Estado, Bolsonaro perdeu seguidores com a saída de Moro. Inúmeros internautas mudaram de posição e passaram a condenar o presidente por articular para interferir no trabalho da Polícia Federal, que ganhou notoriedade nacional com a Operação Lava Jato.
Alguns internautas usaram até o discurso de Bolsonaro para criticá-lo, como foi o caso da piscina olímpica do Palácio do Alvorada. Desde 2002, o local utiliza energia solar. O presidente da República afirmou que desligou o aquecimento para economizar energia elétrica.
O deputado federal Loester Trutis (PSL) já deixou claro que abandonou o presidente. “Facilitando a vida de quem quer deixar de me seguir, não precisa discutir ou avisar, só ir. Votei e fiz campanha para Bolsonaro, não para os filhos dele. Não assino ou voto à favor de impeachment. O Plano de governo é mais importante que a pessoa do presidente. Olavo é um idiota. Sou contra AI5 e fechar o Congresso. Não vou sair do PSL”, desabafou o deputado.
Presidente regional do PSL, a senadora Soraya Thronicke chegou a convocar manifestação a favor do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, no ano passado quando houve a polêmica envolvendo o Coaf. No Twitter, ela não saiu em defesa de Bolsonaro e passou a ser criticada por repetir um mantra da campanha, o versículo 32 do capítulo 8 do Evangelho de João, de que a verdade vos libertará. “Estou fechada com João”, postou a parlamentar, não repetindo os bolsonaristas com a #fechadocomBolsonaro.
Apesar de Bolsonaro agir para interferir na Polícia Federal, o deputado Dr. Luiz Ovando (PSL) manteve o discurso. “Estamos mais uma vez diante de trama política SÓRDIDA para desestabilizar o governo do Presidente BOLSONARO, eleito democraticamente, que propôs devolver o país aos brasileiros tirando-o das garras da corrupção e das tendências nefastas do governo de coalização, eufemismo para o assalto aos cofres públicos”, justificou.
Outro que mantém a fidelidade é o deputado estadual Capitão Contar (PSL), pré-candidato a prefeito da Capital. “O Brasil não pode parar. Ainda temos inúmeras batalhas para vencer. Que Deus ilumine suas decisões e que a sua missão de conduzir a nação seja vitoriosa. Sigamos em frente, Capitão Bolsonaro!”, afirmou, ignorando as denúncias feitas por Moro.