“Se caso alguém em nosso município vir a desenvolver a doença, infelizmente vai morrer, isso é fato”, afirmou a secretária municipal de Administração, Adriane Paetzold, filha do prefeito de Coronel Sapucaia, Rudi Paetzold (MDB). A sentença consta de carta, que viralizou nas redes sociais e grupos de aplicativos ao expor a falta de estrutura dos municípios do interior de Mato Grosso do Sul para enfrentar a pandemia do coronavírus.
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A carta dramática alarmou os 14 mil moradores do município, localizado na fronteira com o Paraguai e 327 quilômetros da Capital. A missiva assustou a cidade, acostumada com a guerra de facções pelo controle do narcotráfico e que já foi considerada uma das mais violentas do País.
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“Gente, nos encontramos sem situação muito complicada, muito séria mesmo, nosso município não está preparado para tal situação, não temos luvas, máscaras, tocas, álcool gel suficientes nem para fornecer para nossa equipe de saúde”, começa Adriane. Ela justifica que fornecedores não têm produtos para entrega.
“Se caso alguém em nossa cidade vir a desenvolver a enfermidade (Conavid-19), infelizmente vai morrer, porque não temos estrutura para o tratamento, não temos sequer estrutura para prevenção”, lamenta a secretária municipal de Administração.
A situação é tão grave, conforme Adriane, a ponto de a cidade não dispor de condições nem para diagnosticar a doença. Ou seja, existe o risco de muitos moradores morreram sem saber que entraram para a estatística da pandemia mundial, que já matou 11,2 mil pessoas no mundo.
“Minha intenção não é instaurar o pânico, mas não vou carregar a responsabilidade de omissão dos fatos”, concluiu. O Jacaré confirmou o teor da carta e a autoria com dois integrantes do primeiro escalão de Coronel Sapucaia e com mais dois moradores.
O problema é gravíssimo e não está restrito a único município do estado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, só os grandes, como Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, Ponta Porã e Corumbá possuem leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensivo), de acordo com o prefeito Pedro Caravina (PSDB), presidente da Associação dos Municípios.
O tucano explica que a maioria das cidades só tem condições de realizar o primeiro atendimento. Bataguassu, sua cidade, não tem nenhum leito de UTI, mas conta com sete respiradores artificiais para ajudar no primeiro momento.
A falta de condições para tratar a doença é o maior problema brasileiro. Mandetta previu que, se a população não se precaver e o País não frear a pandemia, o SUS entra em colapso no final de abril.
“Vamos cada um fazer a nossa parte, vamos ficar em casa, sair só para o necessário, não vamos compartilhar tereré, não vamos compartilhar o chimarrão, vamos isolar nossos idosos e nossas crianças ao máximo possível”, apela Adriane. O apelo é repetido pelo presidente da Assomasul.
A maioria dos municípios já determinou a restrição na circulação de pessoas, como suspensão de atendimento no comércio, proibição de aglomerações e até toque de recolher. Sidrolândia foi o primeiro a impor a medida, proibindo a circulação de pessoas nas ruas a partir das 20h.
Após suspender o transporte coletivo e fechar o comércio, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) analisa impor o toque de recolher na Capital. O objetivo é obrigar a população, inclusive os debochados que não acreditam na gravidade da pandemia e ficam dando festas.
O esforço é frear a pandemia e não repetir a tragédia registrada na Itália, onde a população ignorou a quarentena e o número de mortos não para de ser contado. Já foram confirmados 47 mil italianos com a doença, dos quais 4.032 morreram. Na China, a situação está sob controle, mas foram 81 mil casos confirmados e 3.253 mortes.
No Paraguai, onde a quarentena foi imposta logo que o primeiro caso chegou à América do Sul, foram confirmados 13 casos, sem mortes. As autoridades paraguaias decretaram toque de recolher e fecharam as fronteiras, inclusive com o Brasil. No Chile já foram notificados 434 casos, sem óbitos.