Há duas décadas, Mato Grosso do Sul convive com a epidemia de dengue, que se tornou endêmica e se repete a cada dois anos. Apesar disso, a doença continua matando. O mais grave é que óbitos podem ocorrer em decorrência de falhas no diagnóstico, como ocorreu com uma mulher e o filho recém-nascido neste mês no interior. Agora, a população aguarda, em pânico, a provável chegada do coronavírus.
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A pandemia começou na China, onde já foram confirmados quase 80 mil casos e 2.873 mortes até ontem. No total, em 54 países, são 87,5 mil notificações e 2.990 mortes. No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou dois casos em São Paulo e investiga 252 casos. Em Mato Grosso do Sul, conforme o boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, são oito pacientes com suspeita da doença.
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Na semana passada, a suspeita de um paciente estar com o coronavírus causou pânico na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Leblon. Moradores da Capital correram às farmácias em busca de máscaras e álcool gel para se prevenir da doença.
Em qualquer civilizado, a manifestação das autoridades sanitárias poderia tranquilizar a população. Neste sentido, o sul-mato-grossense Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, garantiu que a nova doença não causa “desespero” no Brasil. “Não, não. Longe disso”, garantiu ele ao jornal O Estado de São Paulo. Ele garantiu que não haverá falta de produtos no enfrentamento da pandemia.
“A equipe do ministério vai organizar. A partir do momento em que o arsenal de insumos for pedido pelos médicos, vamos atender”, assegurou o ministro. Só que a conduta repete erros do passado.
O Governo federal já decretou emergência por causa do coronavírus. No entanto, somente na semana passada, após a confirmação do primeiro caso em São Paulo, a equipe de Mandetta começou a discutir campanha de prevenção da doença.
O Brasil não consegue conter a dengue, doença endêmica desde os anos 90. O mesmo ocorre em Mato Grosso do Sul, onde a cada epidemia, as falhas no sistema público de saúde ficam mais evidentes, desde a falta de medicamentos, kits para exames e até falhas no diagnóstico.
Na semana passada, a Polícia Civil de Bodoquena abriu inquérito para apurar a morte de Francinete Rodrigues Beltrão, 28 anos, e do filho recém-nascido, Arthur Beltrão, por negligência médica. Ela foi a 13ª morte confirmada por dengue só neste ano em Mato Grosso do Sul. (veja matéria do Campo Grande News)
A doença tem sido fatal até para os jovens, como a professora Dúnia Safa, 24 anos, em Corumbá. No ano passado, a dengue matou 29 pessoas no Estado, segundo a Secretaria de Saúde. Foram notificados 80.751 casos. Em dois meses deste ano, já foram 20,4 mil casos. Dos 79 municípios sul-mato-grossenses, 61 enfrentam nova epidemia da dengue.
Dengue fez mais de 360 mil vítimas
Ano | Notificações |
2020 | 20.444 |
2019 | 80.751 |
2018 | 10.765 |
2017 | 7.276 |
2016 | 65.505 |
2015 | 48.584 |
2014 | 9.626 |
2013 | 99.748 |
2012 | 17.849 |
Fonte: SES/MS |
A última epidemia foi registrada em 2016, com 65,5 mil casos. A anterior, ocorreu em 2013, com 99,7 mil notificações de dengue. Esta tragédia se repete desde o final dos anos 90. O mais lastimável é que o Brasil, Mato Grosso do Sul e Campo Grande não conseguem conter a doença.
Como a população pode se sentir segura com autoridades que não conseguem erradicar uma doença de décadas. Mandetta já enfrentou uma epidemia de dengue quando foi secretário municipal de Saúde de Campo Grande em 2009 e 2010.
Sem condições de conter a dengue, Mato Grosso do Sul e a Capital esperam a chegada do coronavírus, que já matou quase 3 mil pessoas no mundo. A maior dificuldade será combater uma nova epidemia com uma antiga em andamento.
Assim com a dengue, cujo combate consiste na eliminação dos focos do mosquito aedes aegypti, a prevenção da pandemia está em manter a higiene das mãos (lavar várias vezes ao dia com água e sabão), fazer uso de álcool em gel a 70% e não compartilhar objetos de uso pessoal.