Das 370 espécies de aves encontradas no município de Campo Grande, 63% vivem no Complexo dos Poderes, área de 495 hectares que engloba os parques dos Poderes, do Prosa e das Nações Indígenas. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB), com o apoio de 18 deputados estaduais, pretende desmatar 11 áreas na região, apesar dos protestos de ambientalistas e alertas de especialistas.
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Os dados foram apresentados pela educadora ambiental, bióloga e ornitóloga Maristela Benites, do Instituto Mamede de Pesquisas Ambientais e Ecoturismo. Isso significa que a atual política ambiental do Governo do Estado ameaça mais da metade dos pássaros que vivem na Capital.
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De acordo com Maristela, 233 aves vivem no Complexo dos Poderes, inclusive espécies de alto valor para a conservação e ameaçadas de extinção. Para quem está acostumado com a selva de pedra em que a cidade vem se transformando, deve ficar espantado em descobrir que aves de rapina de grande porte ameaçadas de extinção em vários estados brasileiros podem ser encontradas no Parque, como o gavião-pega-macaco, o gavião-pato e o gavião -de-penacho.
A águia-cinzenta, também ameaçada de extinção, foi fotografada no Parque das Nações Indígenas, considerado um dos mais belos cartões postais da Capital somente por sua beleza natural.
Com o desmatamento definido como meta pela gestão tucana, as aves vão ser afetadas diretamente. “(Elas) devem procurar outras áreas porque precisam de amplas áreas conservadas para caça pois são de grande porte Além das rapinantes, as outras de pequena porte, dependendo da época, devem perder ninhos, filhotes, etc”, alertou Maristela.
O levantamento reforça o movimento S.O.S. Parque, criado com o objetivo de sensibilizar as autoridades a evitar o desmatamento do Complexo. A primeira vitória foi a concessão de liminar pela 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, que determinou a suspensão da construção do novo prédio da Secretaria Estadual de Fazenda.
Reinaldo pretendia construir o prédio no lugar do matagal usado por aves migratórias, conforme o promotor Luiz Antônio Freitas de Almeida, que ingressou com ação civil pública para suspender o desmatamento nas 11 áreas previstas.
Os deputados estaduais Pedro Kemp e Cabo Almi, do PT, Capitão Contar (PSL) e Lucas Lima (SD) também apresentaram projeto de lei para revogar as autorizações dadas para desmatar em 11 locais do Parque dos Poderes. O objetivo é forçar o Governo a construir os prédios em outros locais, que já estejam desmatados.
O desmatamento no Parque também pode agravar as enchentes registradas com frequência em Campo Grande e pode chegar às tragédias ocorridas em outras cidades brasileiras, como Belo Horizonte (MG) e São Paulo.
O tamanho de cada um
Parque dos Poderes | 243,3 hectares |
Parque Estadual do Prosa | 135,25 hectares |
Parque das Nações Indígenas | 116 hectares |
O Ministério Público Estadual estuda retomar o movimento pelo tombamento do Complexo dos Poderes, que vai garantir a preservação da região. Os deputados aprovaram o tombamento em novembro de 2018, mas revogaram o decreto no final do ano passado para ajudar o governador a manter a política de desmatamento do Parque.
O movimento S.O.S. Parque vai realizar o evento Mulheres pelo Parque, que acontecerá no dia 7 de março deste ano na Rua Barão do Rio Branco, esquina com a Rua 14 de Julho, no Centro. De acordo com a advogado Giselle Marques, das 9h às 14h, o show pelo tombamento do Complexo dos Poderes contará com as apresentações musicais de Quintetas, Sarapatel, Beca Rodrigues, Vitória Queiroz, Camila Brasil e outras.