Pela primeira vez, a Santa Casa de Campo Grande vai realizar ação social nos bairros, com a realização de consultas, exames preventivos e orientações à população carente. A ofensiva coincide com as eleições deste ano e ocorrem apesar da dívida de aproximadamente R$ 250 milhões e déficit milionário. Outra coincidência, o presidente da Associação Beneficente, Escacheu Nascimento, é pré-candidato a prefeito da Capital.
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Promotor de Justiça aposentado, ex-presidente regional do MDB e do Operário Futebol Clube, Esacheu nega a utilização da estrutura do hospital, o maior do Centro-Oeste e com 90% do orçamento de R$ 344,9 milhões bancados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), para fins de promoção política.
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“Ainda não sou candidato. Estamos fazendo o que devemos fazer… até que, se eu for realmente candidato, (irei) me desincompatibilizar”, afirmou. Ele é cotado para disputar a sucessão de Marquinhos Trad (PSD) pelo Progressista, partido do ex-prefeito Alcides Bernal (PP).
O programa estreia nas Moreninhas, segundo região mais populosa de Campo Grande. O projeto “Santa Casa nos Bairros” acontecerá no próximo sábado (8), das 8h às 16h na Associação dos Moradores da Moreninha 2.
“A ação social oferecerá o Ônibus da Saúde com exames preventivos (Papanicolau), mamografias e PSA, oftalmologista com aferição de pressão ocular e prevenção do glaucoma, aferição de pressão arterial para diagnosticar e tratar hipertensão, teste de glicemia, consultoria jurídica com orientações aos presentes, Hemosul, campanha de conscientização, espaço infantil para crianças, aula de zumba, shows musicais, cortes de cabelo pela equipe do projeto ‘Mãos do Bem’ e maquiagem Mary Kay”, informa a instituição, por meio da assessoria.
Isso significa que a Santa Casa vai retomar as antigas Ações Populares, que foram promovidas nos bairros na gestão de Zeca do PT, ou as ações globais promovidas pela TV Morena e Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul). A estrutura era gigantesca e levava milhares de pessoas em busca de assistência gratuita.
“Este Programa estava previsto para o ano passado, mas não foi possível dadas as dificuldades operacionais. Serão oferecidos preventivos de câncer, masculino e feminino. A Santa Casa já é o maior Hospital de Câncer do Estado com cerca de 1.500 pacientes em acompanhamento”, explicou Esacheu.
“Outras consultas clínicas serão oferecidas para identificar casos de pacientes da lista de eletivos de alta complexidade para cirurgias. Desde dezembro a Santa Casa somente de próteses de quadril já realizou 30 cirurgias. Ocorre que a lista da SESAU (Secretaria Municipal de Saúde) é falha. De cada 100 nomes enviados encontramos cerca de 20. Então vamos divulgar a disponibilidade do Hospital para essas cirurgias”, contou o dirigente.
“Outras ações de caráter social vão ser realizadas por voluntários que a nossa Gerência de Eventos identificou”, esclareceu. “Vamos divulgar os serviços da Santa Casa tais como Plano de Saúde, Centro Médico de Especialidades que atende pela Tabela Social, Prontomed, Laboratório de Análises clínicas, exames de imagens, etc”, explicou.
Apesar da estrutura mobilizada, o presidente da Associação Beneficente garante que não haverá gasto para o hospital. “Todos são voluntários. Não há gasto para a Santa Casa”, garantiu. “Ao contrário, essas ações poderão trazer clientes particulares para melhorar nossa receita”, previu.
O projeto é lançado apesar do hospital acumular dívida impagável. O balanço de 2018 mostrou que os débitos somavam R$ 252,7 milhões. Naquele ano, a receita somou R$ 344,8 milhões, enquanto a despesa ultrapassou R$ 382 milhões, fechando com déficit de R$ 37,5 milhões.
Sobre o endividamento neste ano, o presidente rechaça que supere R$ 250 milhões. Ele conta que a dívida com bancos é de R$ 158 milhões. Conforme o balancete de dezembro do ano passado, o débito com fornecedores somava R$ 75 milhões. Esacheu ainda reconhece débito de R$ 4,5 milhões com a Energisa, que está sendo discutido na Justiça por causa da cobrança do ICMS sobre a conta, já que o hospital é isento de tributo por ser filantrópico.
“Reconquistamos a credibilidade como Instituição Filantrópica e por isto a comunidade voltou a ajudar o Hospital”, garantiu. “Não temos mais salários atrasados. No semestre passado fizemos financiamentos e pagamos os autônomos e pessoas jurídicas”, afirmou, garantindo que acabou a crise com os médicos, que viviam ameaçando fazer greve.
“Sou Promotor de Justiça e você jamais me verá praticando ilegalidades ou imoralidades”, garantiu.
No entanto, entre os dirigentes e ex-integrantes da Associação Beneficente, gestora do Santa Casa, as ações despertam desconfiança.
“Em ano eleitoral realizar uma ação social fora do hospital, junto a uma população carente e sofrida, representa a forma mais baixa de se fazer política, trocando expectativa de saúde por votos, só falta dizer que a segunda consulta só vai ocorrer após a eleição”, comentou um ex-dirigente da entidade.
A meta é levar o programa “Santa Casa nos Bairros” para as sete regiões de Campo Grande. Até pode não ser objetivo, mas com a saúde a beira do caos e sendo considerada o principal problema para 38% dos eleitores, a ofensiva ajudará Esacheu em elevar a popularidade. Conforme o levantamento, como pré-candidato a prefeito, ele consegue 0,8% na pesquisa Rankign divulgada na terça-feira.