Rejeitado por 88% da comunidade universitária e sem nenhum voto no conselho, o ex-secretário municipal de Saúde de Campo Grande, Marcelo Luiz Brandão Vilela, foi nomeado diretor da Famed (Faculdade de Medicina) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Ao ressuscitar o cargo de diretor biônico, o reitor da instituição, Marcelo Turine, causou protesto dos estudantes.
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A manobra de Turine faz parte dos tempos sombrios em que vive a sociedade brasileira, com o desdém com a democracia e exibição pelas autoridades de sinais autoritários. Maior universidade do Estado, com orçamento de quase R$ 1 bilhão, a UFMS debocha da consulta à comunidade universitária e só valida o resultado que convém ao reitor.
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A crise ocorre no principal e em um dos mais tradicionais cursos de medicina do Estado. Sem respaldo de estudantes, técnicos e professores, Vilela foi recepcionado, nesta quarta-feira (27), aos gritos de “diretor fantasma”. Alunos fizeram menção ao emprego dele no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian, onde tem salário de R$ 18,6 mil por mês.
A polêmica começou com a eleição para escolher o novo diretor da Famed. O atual diretor, Wilson Ayach, obteve 88% dos votos, contra 12% de Marcelo Vilela. Por segmento, o ex-secretário ficou com 8,8% dos votos dos alunos, enquanto Ayach 91,2%.
A maior percentual do ex-secretário de Saúde foi entre os técnicos, 29,4% a 70,6%. Ayach obteve 80% dos votos dos professores, contra 20% do predileto do reitor.
Só que a consulta à comunidade só serve de base para montar a lista tríplice montada pelo conselho da Faculdade de Medicina. Até a candidata a figurante, apenas para cumprir a exigência de três nomes, Debora Marchetti Chaves Thomaz, teve um voto, contra nove do vencedor na consulta à comunidade universitária. Marcelo Vilela acabou constando da lista tríplice sem ganhar nenhum voto no órgão consultivo.
Surpreendentemente, o reitor da UFMS, Marcelo Turine, ignorou a preferência da comunidade universitária e decidiu nomear o xará para o cargo de diretor da Famed. Como não obteve voto, Marcelo Vilela pode ser definido como “diretor biônico”, como eram chamados os prefeitos e governadores sem voto indicados pelos presidentes na época da ditadura militar.
Após três décadas da volta da democracia e de o eleitor brasileiro reconquistar o direito ao voto direto para escolher os representantes, o reitor da UFMS ignora, de forma autoritária, a vontade da comunidade universitária e impõe o seu predileto para o cargo de diretor.
Turine se junta às autoridades atuais, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, que defendem a reedição do polêmico AI-5 (Ato Institucional 5), o mais repressivo da ditadura militar, contra as manifestações populares.
Por meio da assessoria, o reitor informou que não há ilegalidade na nomeação de um candidato sem voto no conselho. “A nomeação para direção da Famed obedece à lista tripla elaborada pelo Conselho da Unidade, a legislação e faz parte da rotina administrativa de todas universidades federais brasileiras e também da UFMS, além de seguir o Estatuto e o Regimento Geral da UFMS”, ressaltou.
“O Decreto nº 1.916, de 23 de maio de 1996, que regulamenta o processo de escolha dos dirigentes das instituições federais de ensino superior, estabelece que o Diretor de Unidade Universitária é nomeado pelo Reitor dentre os indicados em lista tríplice. A lista tríplice, conforme art. 91 do Regimento Geral da UFMS, é elaborada pelo Conselho de Unidade da Administração Setorial após consulta pública”, esclareceu.
“O conselho da Unidade organizou a lista tríplice, composta pelos professores Wilson Ayach, Débora Marchet Chaves Thomaz e Marcelo Luiz Brandão Vilela. Elaborada a lista com base em decisão do Conselho, compete ao Reitor a nomeação de um dos três indicados na lista. Os três nomes foram analisados no Sistema Integrado de Nomeações e consultas (Sinc), da Casa Civil, e a nomeação observou aos dispositivos legais, incluindo-se o fato de comprovação de inexistência de pendências ao tempo da nomeação”, justificou-se.