Sem boi gordo no mercado, o preço da carne disparou no Brasil e acumula alta de 55% em relação ao ano passado. Em Mato Grosso do Sul, o pacote do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), aprovado por 15 deputados estaduais, deve agravar a situação e salgar ainda mais o churrasco de fim de ano. Em Campo Grande, o quilo da picanha já pode ser encontrado a R$ 65.
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Após ficar estagnado nos últimos cinco anos, o valor da arroba bovina disparou em novembro, acumulando alta de 36% em 25 dias. A temível inflação voltou a assombrar os empresários, que passaram a usar a calculadora diariamente para calcular o custo. Alguns estabelecimentos voltaram a remarcar os preços quase que todo dia. Ontem, no Mercadão, a tabela passou a ter validade de um dia.
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De acordo com a Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz, da Universidade de São Paulo, o valor da arroba se manteve estagnado em torno de R$ 145, entre o início de 2014 e outubro deste ano. A disparada ocorreu neste mês, com alta de 37,45% – o valor passou de R$ 166,49, no dia 1º, para R$ 228,85.
Em relação ao mesmo período do ano passado, quando a arroba estava cotada a R$ 147, a valorização chega a 55,2%. A expectativa de especialistas, de produtores rurais e frigorífico é que a escalada continue por mais três ou quatro semanas. Em São Paulo, já houve produtor vendendo a arroba a R$ 250, um recorde histórico.
O problema é nacional. De acordo com o engenheiro agrônomo e consultor. João Pedro Cuthi Dias, a alta espetacular é reflexo da falta de animal para o abate. O estoque de boi confinado está praticamente zerado. Só que também falta animal boi no pasto em decorrência da “seca brutal” registrada neste ano.
Além disso, segundo o especialista, alguns pecuaristas estão segurando o animal no pasto a espera de preço ainda melhor. O ex-presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) e produtor rural, Chico Maia, corrobora com a tese. “Não existe boi gordo”, atesta.
A espetacular valorização do boi gordo surpreendeu até os produtores rurais. “Ninguém achava que chegaria a este patamar. Superou até o prognóstico dos mais otimistas, que previam (a arroba) a R$ 170, R$ 180”, explicou o Sérgio Capuci, presidente da Assocarnes (Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne).
De acordo com o empresário, a falta de bovinos prontos para abate responde por 70% da alta no preço da arroba, enquanto o aumento na exportação é responsável pelo restante. Se não houver queda no consumo, em decorrência do encarecimento repentino, o produto deve continuar subindo nos próximos dias.
Como o consumo da carne tem aumento de 10% a 15% em decorrência das festas de fim de ano, a valorização deve continuar em dezembro. Capuci prevê que o mercado só deverá se arrefecer em fevereiro, quando voltar a aparecer o boi do pasto.
Além da abertura da China, a valorização do dólar americano, que bateu novo recorde ontem ao atingir R$ 4,24, tornou o mercado externo mais rentável. Graças à desvalorização do real, a tonelada da carne está cotada a R$ 20,6 mil (US$ 4.865). Isso representa um valor recorde de R$ 20 o quilo do boi gordo.
Enquanto o produtor rural abre a champanhe para comemorar a recupera do preço da arroba, o consumidor leva um susto maior ao passar pelo açougue. No Mercadão, segundo um comerciante, os preços passaram a ser remarcados diariamente.
Em um estabelecimento, o quilo da picanha podia ser encontrado a R$ 64,90 nesta terça-feira (26). Até as carnes brancas, como frango e suíno, começaram a subir em decorrência da maior demanda dos últimos dias.
Para agravar a situação do sul-mato-grossense, o governador elevou em até 71% a alíquota do Fundersul (Fundo de Desenvolvimento Rodoviário) sobre a pecuária. Isso significa que o churrasco de fim de ano ficará ainda mais salgado no Estado, deixando cardíacos e hipertensos a beira de um colapso nervoso.
A escalada no preço da carne deverá refletir na inflação e encerrar a deflação registrada nos últimos meses no País. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) corre o risco de ver a popularidade arranhada ainda mais com o encarecimento da carne.
Ciente das consequências, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, cogita liberar a importação para reduzir o preço da carne no mercado brasileiro. Há poucos dias, a sul-mato-grossense comemorou a possibilidade de abrir o mercado americano para o boi brasileiro.