Jamil Name, 80 anos, simulou o financiamento de três carros para emprestar R$ 1,390 milhão ao empresário Valdir Raupp Filho, herdeiro do ex-senador Valdir Raupp, do MDB de Rondônia. A informação consta de ação protocolada na Justiça na sexta-feira (1º) pelo empresário Velbester Artur Saldanha Birtche, de Cuiabá (MT), que alegou estar vivendo um “inferno” por ter intermediado o financiamento.
[adrotate group=”3″]
É mais uma suspeita de agiotagem contra Name, preso na Operação Omertà no dia 27 de setembro deste ano acusado de chefiar grupo de extermínio na Capital. Acusado de tramar o assassinato do delegado Fábio Peró, titular do Garras, a delegacia de elite da Polícia Civil, o octogenário foi isolado e transferido para a Penitenciária Federal de Mossoró (RN).
Veja mais:
“Fomos sucateados de corpo e alma”, diz empresário que perdeu tudo e foi expulso por Name
Omertà apreende cheques de Zeca do PT e ex-presidente do TJMS e caso pode chegar ao Supremo
Após vacilo, turma se consolida como implacável e mantém chefes da milícia atrás das grades
Justiça isola Jamil Name por 360 dias em presídio federal para impedir plano de vingança
A briga em torno da dívida milionária expõe que a ligação do poderoso empresário com políticos atravessa as divisas de Mato Grosso do Sul. Durante a operação, o Gaeco (Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado) apreendeu cheque de R$ 100 mil do ex-deputado federal e ex-governador por dois mandatos, Zeca do PT.
Um outro documento apócrifo apreendido no quarto de Jamil Name, apontou a suposta negociação feita pelo senador Nelsinho Trad (PSD) para comprar sentença no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Conforme a denúncia, o ex-prefeito e mais quatro pessoas teriam acertado R$ 2 milhões, sendo R$ 1 milhão pela liminar para desbloquear os bens e mais R$ 1 milhão pelo julgamento do mérito.
Citado no documento, o desembargador Marcelo Câmara Rasslan, mesmo não tendo concedido nenhuma decisão favorável ao senador, pediu a apuração da denúncia e afastou-se das ações envolvendo Nelsinho. Já o senador negou a denúncia, mas pediu à Justiça a censura dos jornais e exclusão do assunto da internet.
Agora surge a denúncia de empréstimo de Jamil Name ao filho do ex-senador e ex-governador de Rondônia, Valdir Raupp. O empréstimo de R$ 1,390 milhão ocorreu em agosto de 2014.
Um ano depois, Name emitiu um documento com confissão de dívida de R$ 2,055 milhões. Como não houve a quitação do empréstimo, o empresário ingressou com ação na Justiça em 3 de outubro de 2017 para cobrar R$ 2,612 milhões.
De acordo com a ação protocolada pelo advogado Márcio Pollet, o devedor é o empresário mato-grossense Velbester Artur Saldanha Birtche. Valdir Raupp Filho e sua empresa aparecem como fiadores do pagamento.
Nos últimos dois anos, a Justiça não conseguiu localizar os devedores, que acabaram sendo notificados por edital em setembro deste ano. Em decorrência da notificação, Birtche ingressou com nova ação na Justiça, em que narra outra história para a dívida e acusa Jamil Name de praticar agiotagem.
Conforme a ação protocolada na sexta-feira, Raupp Filho precisava de dinheiro e procurou Velbester Birtche para intermediar um encontro com Jamil Name. “Ressalta-se, o Embargante não é tomador de empréstimo algum, apenas um intermediário que gozava da confiança de ambas as partes, qual seja família Raupp e Name. Porém, o negócio que há época parecia uma oportunidade singular de crescimento, de negócios lucrativos, a bem da verdade acabou se tornando motivo de temor e enclausuramento social para o Embargante”, pontou.
“A despeito do que afirma o Embargado na demanda executória, de que teria financiado automóveis ao Embargante, na verdade o que de fato ocorreu foi o empréstimo do Embargado ao Executado Valdir Raupp de Matos Filho, e ao que extrai da ação de execução a juros acima do permitido pela lei, sendo, portanto, o crédito perseguido de origem supostamente ilícita, uma vez que oriundo ao que tudo indica da prática de agiotagem”, acusou.
De acordo com a ação de Jamil Name, protocolada em 2017, ele financiou a compra de três carros para o empresário cuiabano por R$ 1,390 milhão. Não há informações sobre quais automóveis foram adquiridos pelos valores exorbitantes.
“Assim, a despeito de ter assinado como devedor na confissão de dívida, em verdade o fez a pedido do próprio Embargado, sob o argumento de que confiava que dessa forma o Embargante o auxiliaria a cobrar a dívida do verdadeiro tomador do empréstimo em caso de não pagamento. Além disso, a única forma do Executado Valdir Raupp Filho assinar o documento seria se este não figurasse como real devedor, pois poderia ser inconveniente, à imagem do filho do Senador Federal, a associação diretamente com o Embargado e em razão de tamanha dívida”, explicou Velbester, sobre o suposto motivo para assumir a dívida no lugar do filho de Raupp.
“Ora Excelência, basta observar a condição em que se encontram os Executados Valdir Raupp Filho e Raupp Pneus e Baterias LTDA. na referida confissão de dívida de agosto de 2015, como garantidores solidários, figura esta incomum a contratos entre particulares, tendo sido criada pela doutrina e comum aos empréstimos bancários, “argumentou.
“Ressalta-se que na tentativa de resolver o problema, qual seja, o inadimplemento do empréstimo pelo verdadeiro devedor, diversas foram as reuniões realizadas entre as famílias Name e Raupp, com o auxílio e intermediação do Embargante”, contou. Sem sucesso nas negociações, ele diz que passou a viver um inferno em decorrência do financiamento.
“A prática de agiotagem foi praticamente confessada pelo Embargado, pois afirma que a dívida original seria de R$ 1.390.000,00 (um milhão, trezentos e noventa mil reais), oriundo de suposto financiamento, com data de agosto de 2014, e em menos de um ano (pois temos ainda que considerar que haveria um prazo de vencimento da dívida) o débito aumentou ao absurdo montante de R$ 2.055.000,00 (dois milhões e cinquenta e cinco mil reais), em agosto de 2015”, frisou.
A prática da agiotagem é polêmica. O ex-deputado Maurício Picarelli (PSDB), por exemplo, recorreu a estratégia para se livrar da dívida de R$ 1,6 milhão com o empresário Celso Eder Gonzaga de Araújo, investigado na Operação Ouro de Ofir por dar golpe em 60 mil pessoas no País.
Por outro lado, o empresário José Carlos de Oliveira, que vendeu a casa onde foi apreendido o arsenal de guerra, contou que perdeu tudo após emprestar R$ 400 mil de Jamil Name Filho, 42, também preso na Operação Omertà.
Ele contou que foi obrigado a entregar todo o patrimônio construído em quatro décadas e ainda acabou “expulso” da Capital por Name Filho.