Finalmente a Justiça é feita após três décadas em Mato Grosso do Sul. A Polícia Civil prendeu, na manhã desta quarta-feira (23), o médico Alberto Jorge Rondon de Oliveira, 62 anos. Condenado a 88 anos de prisão em regime fechado por ter mutilado e causado sequelas em 175 mulheres, ele usou doenças para não trocar a residência em Bonito, um paraíso pelas belezas naturais, pela cela em um presídio estadual, classificado como “masmorras medievais” pela defesa.
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O início imediato do cumprimento da pena foi determinado pelo juiz Mário José Esbalqueiro Júnior, da 1ª Vara de Execução de Campo Grande, ontem. O magistrado não deixou de expor o espanto da sociedade pela demora em se punir os crimes cometidos nó início dos anos 90 do século passado.
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Para evitar o fim do recluso do dublê de artista plástico no paraíso, o advogado Fábio Trad Filho alegou “doenças gravíssimas”. Laudos apontam que Rondon é portador de diabetes mellitus I há 22 anos e precisa aplicar insulina três vezes por dia. Ele ainda sofre de doenças coronárias, como hipertensão e dislipidemia, e depressão.
O atestado foi assinado pelos médicos Nagib Derzi, ex-presidente do CRM/MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul), e Reinaldo Oshiro. O conselho foi condenado pela Justiça Federal a pagar indenização para as vítimas de Rondon. Eles alertaram que o réu precisa de medicamentos, alimentação exclusiva, exercícios físicos individualizados e atenção diuturna.
A princípio, o magistrado não achou plausíveis os argumentos da defesa. Na sua avaliação, o médico tem condições de continuar o tratamento no presídio, inclusive a aplicação da insulina, que poderá ser fornecida pela família ou pelo poder público.
O fim da vida maravilhosa do médico em Bonito acabou, pelo menos por enquanto, nesta quarta-feira. Ele começa a cumprir a pena de 13 anos e seis meses de prisão em regime fechado por ter mutilado 12 mulheres entre 1990 e 1999. A sentença é do juiz Ivo Salgado da Rocha, da 3ª Vara Criminal.
Em 2011, o magistrado o condenou a 42 anos de reclusão. No ano passado, ao analisar recurso do dublê de cirurgião plástico, o Superior Tribunal de Justiça reduziu a pena para 13 anos e seis meses. A pena menor reflete a morosidade do próprio Poder Judiciário. Em decorrência da demora, Rondon ficou livre da punição pelas lesões causadas em cinco mulheres.
No dia 8 de agosto deste ano, a juíza Eucélia Moreira Cassal, também da 3ª Vara Criminal, condenou Rondon a mais 46 anos de prisão em regime fechado por ter mutilado cinco mulheres e por corrupção no Previsul – a parte de assistência médica do órgão ficou com a Cassems.
Mário José Esbalqueiro Júnior determinou a realização de perícia para comprovar se o médico tem condições de realizar o tratamento em um presídio estadual. A defesa alega que o estabelecimento prisional de Bonito não oferece condições mínimas para atender Rondon. Por outro lado, os pobres miseráveis podem continuar detidos naquele local.
O médico repete a estratégia da defesa de outros notáveis presos nos últimos dias. O empresário Jamil Name, 80 anos, preso na Operação Omertà acusado de chefiar grupo de extermínio e de comandar vários assassinatos na Capital, alegou quatro doenças graves.
O policial civil Márcio Cavalcanti da Silva, preso na mesma operação, também alega graves problemas de saúde, desde hepatite C até síndrome do pânico para não ser transferido para o presídio federal de Mossoró (RN).