A velha prática da política brasileira persiste em Ribas do Rio Pardo, com 24,6 mil habitantes e a 100 quilômetros de Campo Grande. Mesmo com a insuficiência do dinheiro público para cobrir as necessidades da população, que sofre com a buraqueira nas ruas e a falta de remédios nos postos, os vereadores querem elevar os próprios salários, do prefeito, do vice-prefeito e de secretários em 28%.
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É o mau costume de viver uma realidade alheia à do povo. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 34,6% dos moradores do município vivem com renda mensal de até meio salário mínimo (R$ 499). Atualmente, o parlamentar tem salário de R$ 5,9 mil por mês, dez vezes superior a renda de um terço dos moradores.
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O mais vergonhoso é que o projeto de reajuste é de três novatos – Paulo Pax e Lourenço, do PL, e Fabiana Galvão (Patri) – eleitos com o discurso de mudar a política de Ribas do Rio Pardo e graças ao escândalo das diárias. Em 2015, a farra das diárias no legislativo levou à cassação de oito dos 11 vereadores.
Projeto foi proposto pela Mesa Diretora. Apesar de ser a primeira secretária, a vereadora Fabiana Galvão diz que não concordou com o reajuste. O procurador da Câmara informou que ela foi favorável ao reajuste parcelado, que é negado pela assessoria.
Agora, os “novos” parlamentares até debocham das manifestações dos eleitores nas redes sociais e grupos de aplicativos. Em discurso no legislativo, o presidente da Casa, Paulo Pax repetiu o cacique baiano Antônio Carlos Magalhães, um dos piores exemplos da velha política brasileira, ao dizer que não se importava com as críticas. “Falem mal, mas falem de mim”, afirmou.
A população local tem se mostrado indignada com o reajuste fora de hora. “Não apoio (o aumento dos salários das autoridades) porque a cidade está um caos”, afirmou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, Rogina Pereira Mendes. “Os vereadores não fiscalizam, não cuidam de nada”, lamentou.
“O momento não permite (o reajuste)”, afirmou a vereadora Nayara Pereira (PSB), um dos quatros que ainda deram ouvidos às reclamações dos eleitores. “Falta médico no hospital, falta remédio no posto e as ruas estão cheias de buraco”, enumerou os principais problemas. “O prefeito ainda não está com muita sorte”, resumiu, ao citar o temporal que causou estragos na semana passada.
Paulo Tucura (MDB) pode passar um salário equivalente de Marquinhos Trad (PSD), prefeito de Campo Grande. Na Capital, o chefe do Executivo ganha R$ 20,4 mil. Com o reajuste, o prefeito de Ribas do Rio Pardo passará dos atuais R$ 15.563,05 para R$ 19.920,70.
Além da população, de 24,6 mil para 853 mil habitantes, o orçamento anual expõe a diferença entre os municípios. Ribas tem receita de R$ 93 milhões por ano, enquanto a Capital conta com mais de R$ 4 bilhões. Com o reajuste, o salário do perfeito ficará com 0,27% da receita anual, enquanto o campo-grandense 0,006%.
Os vereadores de Ribas do Rio Pardo foram eleitos na esteira do escândalo das diárias, que rendeu até reportagem no Fantástico, da TV Globo. Na época, o então presidente da Câmara, Adalberto Alexandre Rodrigues, virou piada nacional ao fugir de pijama da polícia ao ser alvo de operação que apontou o desvio de R$ 3,5 milhões (veja aqui).
Depois de fazer os eleitores da cidade passarem vergonha nacional, os parlamentares querem apelar com a paciência do cidadão. O projeto de reajuste de 28% deve ser votado em segunda votação na noite desta terça-feira. O reajuste só deve valer para 2021. É o mesmo modelo adotado pelos vereadores de Campo Grande, que aprovaram o reajuste no final do ano passado, mesmo sabendo que a cidade também sofre com a escassez do dinheiro público.
A primeira votação do reajustede 28% no interior teve o aval dos vereadores Paulo Pax, Boca de Lata e Lourenço, do PL; Robertão e Paulinho, do MDB; e Luiz do Sindicato (PTB).
Fabiana Galvão votou contra o reajuste. Os outros três vereadores contra o projeto fora de época foram Nayara Pereira, Anderson Arry e Lucy (PP). A vereadora Sônia Passos (PSDB) não compareceu à sessão, apesar da importância do assunto para a cidade.
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