A economia de Mato Grosso do Sul deve superar R$ 100 bilhões, mas perdeu o “fôlego” e não registra taxa de crescimento acima de dois dígitos há quase dez anos. Previsão do Governo do Estado aponta para evolução do PIB (Produto Interno Bruto) sul-mato-grossense abaixo da inflação até 2023, quando poderá superar R$ 140 bilhões.
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O desenvolvimento praticamente travou com a crise econômica sem fim iniciada em 2015. O quadro é agravado com a piora na oferta da infraestrutura, como desativação quase total do transporte ferroviário e não duplicação total da BR-163, como estava previsto em 2014.
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A dificuldade da gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB) em manter o equilíbrio nas finanças estaduais complica o cenário, porque deixa o Estado menos atrativo para investidores. A melhora nos indicadores sociais, como educação, saúde e segurança, poderia tornar MS mais competitivo no atual contexto, onde todas as unidades da federação passam por sufoco.
A evolução do PIB
Ano | Taxa de crescimento |
2003 | 6,51% |
2004 | -0,75% |
2005 | 2,57% |
2006 | 5,71% |
2007 | 4,73% |
2008 | 5,34% |
2009 | 0,73% |
2010 | 11,70% |
2011 | 3,45% |
2012 | 6% |
2013 | 6,60% |
2014 | 2,62% |
2015 | -0,27% |
2016 | -2,66% |
2017 * | 2,62% |
2018* | 2,48% |
2019* | 1,90% |
2020* | 2,34% |
2021* | 2,24% |
2022* | 2,16% |
2023* | 2,24% |
Fonte: Semagro (*) projeção |
De acordo com a Semagro (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), há seis anos, o PIB de MS cresce abaixo da inflação. A expectativa é de que a economia sul-mato-grossense cresça 1,90% neste ano, contra inflação de 4,25%.
O índice será inferior ao do ano passado, quando o crescimento foi de 2,48%. Os números mostram que o “milagre econômico” de Mato Grosso do Sul ficou no passado. O PIB teve crescimento de 11,7% em 2010, ainda na gestão de André Puccinelli (MDB). Ainda na gestão do emedebista foram registrados 6% em 2012 e 6,6% em 2013.
A expectativa é de que o Estado tenha a década perdida entre 2014 e 2023, com a economia oscilando entre a queda de 2,66% em 2016 ao crescimento pífio de 2,62% em 2017. A taxa vai oscilar entre 1,9% neste ano até 2,24% em 2023.
A principal causa da queda é o atual modelo econômico sul-mato-grossense, dependente da exportação de produtos primários, na avaliação do economista e professor da FACSUL, Eugênio Pavão. MS saiu do binômio soja-boi, mas continua sem agregar valor, concentrado no minério de ferro, grãos e celulose.
Especialista em comércio exterior e administrador, Aldo Barrigosse, pontua que houve impacto da queda nos preços mundiais das commodities. Ele cita como exemplo a arroba do boi, que só agora está recuperando preço registrado em 2012. Além disso, a economia brasileira e mundial está em recuperação muito lenta.
A logística de transporte teve retrocesso muito grande no Estado. Símbolo de desenvolvimento, a ferrovia, que impulsionou a economia e ajudou no surgimento de várias cidades, está totalmente sucateada. De acordo com o Campo Grande News, os trens andam mais devagar do que uma bicicleta.
Para Barrigosse, a ferrovia obsoleta impede a redução dos custos no transporte dos produtos. Ao Campo Grande News, ele calculou que o custo do transporte é seis vezes superior ao dos Estados Unidos, onde se gasta 5,6%, enquanto em MS atinge o absurdo índice de 30%. “É um meio de transporte bem mais barato do que os outros e o seu produto fica mais competitivo. O setor produtivo tem o maior interesse de que a ferrovia volte a funcionar em plenas condições”, avaliou.
Pavão tem outro entendimento. O economista afirmou que a ferrovia se tornou inviável ao ficar deficitária e ficar menos atrativa para o setor produtivo.
Outro problema é o sonho engavetado de se duplicar a BR-163, principal rodovia federal no Estado. A privatização da estrada acabou encarecendo o transporte, porque passou a se cobrar pedágio, mas sem oferecer a melhoria de fato no transporte rodoviário. O Governo do Estado começou a tirar do papel a concessão de rodovias estaduais, mas a primeira proposta, da MS-306, também não prevê duplicação.
O turismo poderia ser a esperança para gerar empregos e impulsionar a economia. No entanto, o meio ambiente, principal cartão postal de Mato Grosso do Sul, sofre consecutivos sobressaltos.
No ano passado, com aval do Governo, a Justiça autorizou o desmatamento de mais de 20,5 mil hectares no Pantanal, considerado patrimônio natural da humanidade. Bonito, o xodó do ecoturismo, passou a conviver com o drama das águas turvas, reflexo do avanço do cultivo de soja e de outros ataques ao meio ambiente.
O Parque Nacional da Serra da Bodoquena corre risco de perder 80% da área, porque o Governo federal, após duas décadas, não conseguiu indenizar os proprietários rurais para explorar a área de conservação.
O Aquário do Pantanal passou da condição de esperança de redenção do turismo na Capital para monumento da corrupção. Prevista para custar R$ 84 milhões, a obra segue inacabada apesar de já ter recebido mais de R$ 230 milhões em investimentos.
Eugênio Pavão e Aldo Barrigosse recomendam investimentos em pesquisa, ciência e tecnologia para reverter o quadro de estagnação econômica do Estado. É um projeto de longo prazo, mas que precisa ter início com urgência.
“Só com pesquisa para que o Mato Grosso do Sul volte a crescer em maior velocidade e se desenvolver mais”, conclui o administrador.
O economista destaca que o Estado está ficando de fora da nova economia ao não apostar em ciência e tecnologia. “Não tem patente registrada no Estado”, lamenta Pavão, destacando que muitos cientistas acabam encontrando apoio e acolhida em outros estados brasileiros.
Reeleito com 677 mil votos no ano passado, Reinaldo prometeu, na campanha, investir em parcerias público-privadas, como a das rodovias, na rota bioceânica e na ferrovia Transamericana. Atualmente, outro projeto é da Rumo Logística, que aguarda aval do Tribunal de Contas da União para investir na recuperação dos trilhos.
Pavão destaca que a famosa rota bioceânica, um sonho martelado desde a gestão de Zeca do PT, pode encurtar distâncias e ampliar venda de produtos de MS para a China, o potente asiático que já responde por quase metade das exportações sul-mato-grossenses.