A Justiça determinou a penhora de R$ 1,962 milhão do diretor da TV Assembleia, Maurício Picarelli (PSDB), para quitar quatro cheques sem fundo emitidos em 2016. O credor é o empresário Celso Éder Gonzaga de Araújo, preso na Operação Ouro de Ofir acusado de dar golpe em 60 mil pessoas.
[adrotate group=”3″]
Para se livrar da dívida, o ex-deputado mudou a versão sobre a transação com Araújo. O tucano alega, agora, que foi vítima de agiotagem e assinou os cheques, que totalizam R$ 1,373 milhão, sob coação.
Veja mais:
Picarelli diz que seria uma das 25 mil vítimas de golpista e venderia mansão de R$ 1,4 mi para investir em lucro fácil
Da cadeia, acusado de aplicar golpe em 25 mil cobra R$ 1,6 milhão de deputado
Em abril do ano passado, quando Celso Éder ajuizou a execução da dívida na Justiça, o então deputado apresentou outra versão para a dívida. Na ocasião, Picarelli afirmou, em nota à imprensa, que foi uma das vítimas do golpista. Ele disse que pretendia vender uma casa de R$ 1,4 milhão para investir na Operação AU Metal para obter lucro fabuloso e fácil.
Ainda em abril do ano passado, a juíza Mariel Cavalin dos Santos, da 16ª Vara Cível de Campo Grande, determinou o pagamento da dívida – na época, o valor corrigido era de R$ 1,6 milhão. O ex-deputado ignorou a determinação judicial e até perdeu o prazo para apresentar a defesa.
A magistrada determinou o pagamento da dívida em 15 dias, sob pena de acréscimo de 10% e penhora dos bens. Em abril deste ano, o ex-deputado decidiu se defender e apresentou a nova versão para a conta milionária.
No entanto, como a contestação ocorreu fora do prazo, a juíza praticamente ignorou a manifestação da defesa e determinou a execução judicial da dívida. Conforme despacho publicado no dia 19 de setembro deste ano, caso o tucano não quite a dívida, a Justiça vai penhorar os seus bens para garantir o pagamento de Celso Éder. Com o acréscimo de 10%, ele se tornou credor de R$ 1,962 milhão.
Desesperado com a decisão, o apresentador, famoso pelo bordão não assine nada sem ler, ingressou com novo recurso. No pedido, Picarelli insiste na nova versão para o empréstimo milionário.
O ex-deputado conta que estava passando por dificuldades financeiras e ficou sabendo que Celso Éder emprestava dinheiro. Então, ele pediu ao empresário uma quantia. A garantia do pagamento foram os cheques.
Os advogados Paulo da Cruz Duarte, Maikol Weber Mansour e Alir Terra Lima pedem a anulação dos cheques, porque foram assinados mediante coação e houve a cobrança de “juros e correções monetárias abusivas”. A defesa garantiu ainda que o tucano teria pago a dívida em parcelas mensais e com “valores pequenos”.
Como coação e agiotagem são considerados crimes, eles pedem a inversão do ônus da prova e o cancelamento do débito. Nas duas manifestações apresentadas pela defesa, Picarelli não revela o valor que pegou emprestado do empresário.
A nova versão até contraria apreço público manifestado por Picarelli ao empresário. Conforme trecho reproduzido em boletim de ocorrência da Dedfaz (Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentares e Fazendários), o apresentar se refere ao empresário como “Dom Éder”.
Na ocasião, conforme o registro policial, Celso levou o cantor sertanejo Mato Grosso, da dupla Mato Grosso e Mathias, para se apresentar no programa. O músico, que veio comandar o show na festa de aniversário do empresário, e Picarelli o tratam com “distinção”.
Ex-deputado quer dar o calote com o aval da Justiça, rebate advogado
“O papel aceita qualquer bobeira”, reagiu o advogado Rafael Scaini, que representa Celso Éder junto com o desembargador aposentado Luiz Carlos Santini. “Ele não cita o valor emprestado nem a taxa de juro abusiva”, pontuou.
Ele explicou que Picarelli apresentou a defesa totalmente fora do prazo e só está tentando dar o calote com o aval da Justiça. “Mas não vai conseguir”, destacou.
Scaini explicou que a prática de empréstimo de dinheiro entre pessoas não é ilegal no Brasil. Sobre a prática de agiotagem, a prova do suposto crime cabe ao ex-deputado. “Ele não tem prova nenhuma sobre agiotagem”, garantiu.
Celso Éder é réu na Justiça estadual em decorrência da Operação Ouro de Ofir. Ele ficou preso por quase um ano e foi solto por liminar concedida no ano passado pelo Supremo Tribunal Federal.