Graças aos investimentos realizados nos últimos dez anos na ampliação de vagas, contratação de professores e melhoria da infraestrutura, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul entrou pela primeira vez no ranking das melhores universidades do mundo. Além de ser a única do Estado, aos 40 anos, a instituição é uma das 46 entre as 2.448 instituições de ensino superior no Brasil a integrar o prestigiadíssimo Times Higher Education, conhecido com THE.
O estudo considera 13 itens na avaliação, como ensino, pesquisa, citações em revistas científicas, registros de patentes e internacionalização. A UFMS ficou acima da 1.001ª e causou a euforia do atual reitor, Marcelo Turine, no cargo desde novembro de 2016.
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A inclusão da UFMS no prestigiadíssimo ranking britânico, um dos mais conceituados do mundo, ocorre justamente quando a instituição sofre o maior baque da sua história, ao ter o segundo maior corte de recursos entre os estabelecimentos federais de ensino.
A política de contingenciamento do presidente Jair Bolsonaro (PSL) quase levou a universidade a suspender as aulas no segundo semestre por falta de recursos para pagar as contas de luz e água. Como o corte de R$ 30 milhões permanece, a instituição mantém a política de contenção de custos, adotada em fevereiro deste ano.
A expectativa é de que orçamento de R$ 900 milhões, previsto para este ano, tenha redução ou fique com o mesmo valor em 2020. Turine frisa que 85% do gasto é com pessoal. O corte de bolsas de pesquisa poderá deixar quase 800 pesquisadores e estudantes sem recurso.
Os seguidores de Bolsonaro aprovam os cortes impostos à UFMS. Parte apoia baseada em preconceito, espalhado pelos filhos do presidente, de que instituições federais de ensino superior servem de refúgio para esquerdistas e usuários de drogas. Outra parte corrobora com os cortes ao se informar por meio de fake news.
Justamente em meio a este bombardeio, a UFMS surge no ranking britânico das melhores universidades do mundo, ao lado das universidades federais do Paraná, Pernambuco, Santa Maria (RS), Ceará e Goias e da PUC do Paraná.
Um dos principais responsáveis pelo avanço da UFMS foi o Reuni, programa de investimentos lançado em 2008 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O projeto previu ampliação na oferta de vagas na graduação, melhoria da infraestrutura, ampliação dos campi, contratação de mais professores e funcionários.
Turine cita o aumento no 50% no número de estudantes, de 16 mil para 24 mil, e na redução das vagas ociosas, de 5,8 mil para 1,3 mil, como fatores que levaram ao reconhecimento internacional. No entanto, o reitor tenta capitalizar que a expansão ocorreu somente na sua gestão, nos últimos dois anos e meio.
“Temos professores de altíssima qualidade”, destaca o dirigente. O número de docentes dobrou nos últimos 11 anos, passando de 756 em 2008 para 1,4 mil neste ano. A instituição recebeu incentivo para contratar mais mestres e doutores. Conforme o portal da UFMS, houve aumento de 60% no número de professores com mestrado entre 2008 e 2010, de 232 para 372. O de docentes com doutorado cresceu 32% no mesmo período, de 425 para 563.
“Com o Reuni, houve um salto de qualidade”, atesta o professor Marco Aurélio Stefanes, presidente da ADUFMS (Associação dos Docentes da Universidade Federal). Ele acredita que a chegada de professores novos e com maior qualificação, a instituição ganhou maior inserção na produção científica global.
Em uma década, a instituição dobrou o número de cursos de pós-graduação, de 30 para 60. Outro ponto positivo do programa foi ampliar o número de estudantes.
Por outro lado, o dirigente sindical aponta falhas ainda na UFMS, como poucos universitários de outros países. Esse é um dos fatores que podem contribuir com maior intercâmbio cultural e científico, um aspecto presente nas maiores e mais importantes instituições de ensino superior do mundo, como Stanford, Havard e Yale, nos Estados Unidos, e Oxford, na Inglaterra.
Outro reconhecimento de que a instituição está no caminho certo é avaliação do Tribunal de Contas da União, que colocou a UFMS como a segunda melhor no País na política de governança e combate às fraudes.
Por outro lado, o temor entre acadêmicos, professores e técnicos é de apreensão. A expectativa é de que a festa da UFMS siga a risca o ditado popular de que “alegria de pobre dura pouco”.
Com a manutenção da atual política de redução de investimentos, o temor é de que os cortes tenha reflexo negativo no futuro. Com o sufocamento de recursos, sem investimentos em infraestrutura e pesquisa, a UFMS saia do ranking das melhores do mundo. “O ranking não reflete 2019”, alerta Marco Aurélio.
Turine ainda não decidiu se a UFMS vai aderir ao Future se, programa lançado pelo Ministério da Educação neste ano. Ele disse que foram enviadas sugestões para aprimorar o programa. Somente depois, a universidade decidirá se irá ou não aderir ao novo modelo proposto por Bolsonaro.
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