Ao não mencionar o nome de Reinaldo Azambuja (PSDB) em 110 depoimentos realizados na semana passada, a Polícia Federal indica que já concluiu a investigação contra o governador de Mato Grosso do Sul. Nesta quinta-feira (12), a Operação Vostok, que apura o pagamento de R$ 67,7 milhões em propinas pela JBS a maior autoridade do Estado, completa um ano.
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Reinaldo foi o primeiro governador na história sul-mato-grossense a ser alvo de mandados de busca e apreensão da PF. Com aval do ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, a operação prendeu 14 pessoas, entre as quais estavam o filho de Reinaldo, o advogado Rodrigo Souza e Silva, o primeiro secretário da Assembleia Legislativa, Zé Teixeira (DEM), e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Márcio Monteiro.
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Além de intimar o tucano para prestar depoimento, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão no seu apartamento, em empresas e na Governadoria. Na época, o Ministério Público Federal apontou que o esquema criminoso causou prejuízo de R$ 207,7 milhões aos cofres estaduais.
Na semana passada, a PF fez mutirão para ouvir 110 pessoas em cinco estados: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, São Paulo e Ceará. A segunda fase da Operação Vostok contou até com depoimento de dona Zulmira Azambuja Silva e Roberto de Oliveira Silva Júnior, o Beto Azambuja, respectivamente, mãe e irmão do governador.
Entre os 14 investigados ouvidos novamente, estavam Zé Teixeira, Márcio Monteiro e o pecuarista Élvio Rodrigues, dono da Fazenda Santa Mônica. No ano passado, o produtor rural ganhou os holofotes ao contar com a ajuda do Governo do Estado para desmatar 20,5 mil hectares no Pantanal.
Na solenidade de 7 de setembro, durante o desfile cívico-militar, o governador destacou que não foi mencionado em nenhum dos depoimentos. O fato foi apresentado como atestado de “inocência” diante das acusações feitas pelos delatores da JBS.
Contudo, o gesto indica que a PF já concluiu as investigações contra o governador. Além do depoimento dos donos e executivos da JBS, o inquérito 1.190 conta com notas fiscais, documentos e relatório da quebra do sigilo bancário de Reinaldo.
Caso o governador tivesse sido excluído da investigação, o inquérito 1.190 seria desmembrado contra os demais investigados sem foro especial e só permaneceria no STJ a denúncia contra Monteiro.
Este procedimento foi adotado pela corte na Operação Lama Asfáltica. A investigação começou em 2013, mas houve desmembramento porque André Puccinelli (MDB) era governador. A parte contra o emedebista ficou no STJ, enquanto a denúncia contra Edson Giroto (PR) foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal. Quando ambos perderam foro privilegiado, toda a investigação foi unificada na primeira instância.
A avaliação de uma fonte, que acompanha a investigação, é de que a Polícia Federal já conta com indícios suficientes para indiciar o governador. O Coaf (Conselho de Administração Financeira) tinha apontado movimentação atípica de R$ 40 milhões nas contas do tucano. Ele poderá ser acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Após o mutirão para ouvir cerca de 100 pessoas, a PF deve concluir a investigação em 60 dias e encaminhar o inquérito para o Ministério Público. O novo procurador-geral da República, Augusto Aras, pode pedir investigações complementares, o arquivamento do caso ou apresentar a denúncia contra o governador, o conselheiro do TCE, o deputado estadual e outros 12 réus.
O caso será analisado pela Corte Especial do STJ, formada por 11 ministros, a mesma que arquivou a denúncia feita contra Reinaldo no Fantástico, da TV Globo. Esse julgamento ocorreu no dia 24 de outubro do ano passado e foi usado na propaganda eleitoral como prova da inocência do tucano.
Reinaldo tem enfatizado que o STJ vai rejeitar o inquérito 1.190. Ele se diz vítima de “chefes de facção criminosa”, no caso, os irmãos Joesely e Wesley Batista, donos da JBS.
Polícia Federal diz que “não comenta investigação em andamento”
O Jacaré questionou a Polícia Federal sobre a Operação Vostok, deflagrada há exatamente um ano. No entanto, a corporação informou, em nota sucinta e padrão, que não comenta investigações em andamento.
Apesar do inquérito tramitar em sigilo, longe dos olhos da sociedade, o governador informou que teve acesso a todos os depoimentos e não foi citado em nenhum.
O questionamento feito foi o seguinte:
Na semana passada, quando ocorreram os depoimentos de 110 pessoas na Operação Vostok, eu falei com você.
O corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, foi ouvido na terça-feira (10), como estava previsto no despacho do delegado Leandro Alves Ribeiro?
A PF tem previsão de quando concluirá o inquérito 1.190?
O governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja da Silva, foi indiciado?
O delegado pedirá mais prazo para concluir a investigação? Ou já concluiu e encaminhou para o MPF?