A Força-Tarefa da Operação Lava Jato rejeitou o acordo de colaboração premiada contra o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB), porque ele não delatou o ex-ministro e atual conselheiro da Itaipu, Carlos Marun. As revelações constam da divulgação de conversas dos procuradores no The Telegram pelo UOL e pelo The Intercept Brasil nesta terça-feira (10).
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Condenado a 14 anos de prisão por corrupção na Lava Jato, Cunha cumpre pena em Curitiba (PR) e responde a outros processos. Ele foi cassado e preso logo após comandar o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.
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Ao propor delação premiada, o emedebista teria revelado que houve fraude para escolher o relator do processo de cassação do seu mandato. O presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PR/SP) teria proposto “bola mais pesada” no sorteio para definir o relator e escolher nome favorável a Cunha.
Apesar do crime ter sido considerado grave, o Ministério Público Federal rejeitou a proposta de delação premiada porque Eduardo Cunha não entregou crimes do Poder Judiciário do Rio de Janeiro nem de Carlos Marun, que ganhou fama nacional ao atuar como Pitbull do ex-presidente da Câmara.
No grupo Acordo Cunha, criado pelo procurador da República Orlando Martello, os integrantes da Lava Jato no Paraná, Rio de Janeiro e Brasília discutem os termos proposto pelo emedebista.
“Cunha apresentou anexo sobre compra de votos para a liderança do PMDB e não apresentou sobre compra de votos na eleição de presidente da Câmara, em que há anexo da JBS sobre o tema”, comentou o procurador Ronaldo Pinheiro de Queiroz, da Procuradoria Geral da República.
“Cunha cita mais de 70 deputados que ele angariou dinheiro para caixa 2, mas deixou Carlos Marun, seu fiel escudeiro, de fora”, ressaltou. “Deve ser amor mesmo o que Marun sente por Cunha”, ironizou o procurador.
O doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que teve a delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal, também tinha isentado Marun de receber propina ou dinheiro de caixa 2 de Cunha. Em 2017, preso na Papuda, ele afirmou que o ex-deputado federal de Mato Grosso do Sul era fiel a Cunha porque ganhava “estofo”, gíria para agrado ou gorjeta. No entanto, ele não especificou quais eram os agrados.
Marun foi fiel a Eduardo Cunha até depois da prisão. Ele chegou a usar verba da Câmara dos Deputados para visitar o amigo no presídio em Curitiba. Após o caso ser revelado pela imprensa, ele anunciou que devolveria o dinheiro gasto na viagem à Câmara dos Deputados.
No entanto, os procuradores da Lava Jato desconfiam da versão de que não houve pagamento de vantagem indevida a Marun e rejeitaram a delação de Cunha.
O procurador Orlando Martello até defende a homologação do acordo para expor a classe política brasileira. “Realmente esse é um fato que talvez não devesse ser sonegado da sociedade. Isso mostra/expõe como ainda somos um País subdesenvolvimento em que os políticos estão tão distante da realidade”, comentou, conforme reportagem do UOL
Marun manteve a fidelidade ao então presidente Michel Temer (MDB) e comandou a tropa de choque para livrar o emedebista de duas denúncias na Câmara dos Deputados. Ele foi gravado pelo dono da JBS, Joesley Batista, dando anuência à compra do silêncio de Cunha. Em outra denúncia, outro escudeiro de Temer, o ex-deputado Rocha Loures (MDB), foi filmado correndo com R$ 500 mil em propina dentro de uma mala.
A recompensa veio no último dia da gestão de Temer com a nomeação do ex-ministro para o cargo de conselheiro na Itaipu. Por um salário de R$ 27.098, Marun só vai precisar participar de uma reunião a cada dois meses.
O desembargador Rogério Fraveto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, chegou a suspender a nomeação entre março e agosto deste ano. Na semana passada, a turma devolveu o cargo ao emedebista pelo placar de 2 a 1.