O Partido dos Trabalhadores aposta nas eleições internas para sair do fundo do poço em Campo Grande. O primeiro passo é sacudir a militância, desanimada com os ataques e denúncias que abalaram o prestígio do PT, que não elegeu nenhum prefeito em Mato Grosso do Sul na última eleição. Na Capital, em 2016, o partido teve o pior desempenho na disputa da prefeitura.
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Neste domingo (8), os petistas vão escolher os presidentes dos diretórios municipais em 58 cidades. Presidente regional da sigla, o ex-governador e ex-deputado federal Zeca do PT fez um apelo aos filiados, que participem do processo para mostrar a força da sigla, da mobilização em defesa da liberdade do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e da democracia.
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No maior colégio eleitoral, o diretório municipal conta com três candidatos a presidente: o atual, Agamenon Rodrigues do Prado, a professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Mariuza Guimarães, e o advogado Ilmar Renato Granja Fonseca, o ex-bbb Ilmar Mamão.
A tarefa dos três não vai ser fácil. Em 2017, dos 13.526 filiados, somente 6% (894) participaram da escolha do novo presidente. Na ocasião, o ex-secretário estadual de Emprego e do Trabalho e marcado pelo Escândalo do FAT, Agamenon foi eleito no segundo turno, com 433 votos, contra 389 votos de Maria Rosana.
A expectativa dos candidatos é de que este número não deve mudar. Ou seja, menos de 10% dos filiados devem participar da escolha dos dirigentes neste domingo.
Filiada ao PT desde 1988, Mariuza defende nova estratégia no comando do partido. “Estamos vivendo um momento muito conflituoso, precisamos participar de forma mais efetiva”, propõe. “O PT precisa organizar a classe trabalhadora”, propõe.
Indicado como candidato dos movimentos sociais e sindical, no partido desde 1996, Ilmar Mamão explica que aceitou o desafio porque o partido precisa voltar a ser protagonista na construção política participativa e popular em Campo Grande.
O Jacaré procurou o atual presidente ontem e na manhã deste sábado, mas ele não retornou nem atendeu as ligações. Talvez seja a prepotência de que o apoio dos caciques basta para lhe garantir um novo mandato ou simplesmente para não falar das ações do FAT, que lhe causam desgaste em decorrência da morosidade da Justiça Federal em Mato Grosso do Sul. O escândalo ocorreu há 20 anos, mas os processos continuam tramitando.
Com o diretório sem sede própria e afundado em dívidas, o desafio do presidente do diretório municipal será recuperar o prestígio da sigla na Capital. Em 2016, o candidato a prefeito Marcos Alex (PT) obteve apenas 1,99% dos votos (8.482), o pior desempenho de um petista na história do partido.
O primeiro candidato do PT a prefeito, Alcides Farias, conquistou 4,07% em 1988. Em 1992, Zeca obteve 19,65% dos votos. Na eleição seguinte, o petista obteve 49,92% dos votos na polêmica eleição, quando perdeu para André Puccinelli (MDB), por apenas 411 votos.
Desde então, o melhor desempenho foi obtido por Pedro Teruel, em 2008, quando ficou com 23,23% dos votos.
Veja a votação dos candidatos a prefeito do PT na Capital
Ano | Candidatos | Votos | Percentual |
1988 | Alcides Farias | 7.064 | 4,08% |
1992 | Zeca do PT | 42.042 | 19,65% |
1996 | Zeca do PT | 130.713 | 49,92% |
2000 | Ben Hur | 69.511 | 21,21% |
2004 | Vander Loubet | 87.981 | 22,99% |
2008 | Pedro Teruel | 93.948 | 23,23% |
2012 | Vander Loubet | 21.377 | 4,87% |
2016 | Alex do PT | 8.482 | 1,99% |
Para o próximo ano, Mariuza avalia que é necessário muita discussão para definir o candidato do PT entre os quatro nomes colocados: o ex-governador Zeca do PT, a ex-secretária estadual de Assistência Social, Heloisa Berro, e os deputados estaduais Pedro Kemp e Cabo Almi.
Ela defende o nome de Kemp para disputar a prefeitura da Capital em 2020. Na sua avaliação, o deputado tem história, legitimidade e empatia com a classe trabalhadora.
Mamão também defende o nome de Kemp, por ser o melhor nome para unir os partidos de centro-esquerda e esquerda, como PSOL, PCdoB, Rede, PV, PSB e até o PDT. No entanto, o ex-BBB pondera que o ideal, antes do nome, é definir um programa para Campo Grande.
O PT aposta na eleição como o primeiro passo para a reconstrução. Desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a sigla sofreu grande debandada no Estado. Os dois últimos presidentes regionais lideraram a fuga.
O ex-deputado estadual e ex-prefeito de Corumbá, Paulo Duarte, foi para o PDT e, atualmente, é filiado ao MDB. O ex-deputado federal Antônio Carlos Biffi segue no PDT.
Além de não eleger nenhum prefeito no Estado, o partido viu a bancada encolher na Câmara e na Assembleia Legislativa. Dos três vereadores na Capital, atualmente só conta com um, Ayrton Araújo.
No legislativo estadual, a bancada de quatro foi reduzida a dois, Pedro Kemp e Cabo Almi. O partido perdeu a vaga de senador, que ocupou com a eleição de Delcídio do Amaral, e viu a bancada na Câmara dos Deputados ser reduzida de duas para apenas uma, de Vander Loubet.
A turbulenta administração de Jair Bolsonaro (PSL) e a continuidade da crise econômica deu novo ânimo para os petistas. “A população percebe a diferença entre o Governo do PT e o que não tem o PT”, avalia Mariuza.