A Polícia Federal faz mutirão, a partir de hoje (3), para ouvir os acusados de integrar o suposto esquema de pagamento de R$ 67,7 milhões em propinas pela JBS ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB) em troca de incentivos fiscais. A ofensiva acontece a 10 dias do aniversário de um ano da Operação Vostok, deflagrada em 12 de setembro do ano passado, e que apura prejuízo de R$ 207 milhões aos cofres públicos.
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O inquérito 1.190 é conduzido pela equipe do delegado Igor Romário de Paula, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado. Ex-integrante da Força-Tarefa da Lava Jato, ele foi indicado para o cargo pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. A investigação tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça) porque o governador tem foro privilegiado.
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A retomada da investigação da PF ocorre no momento em que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), abre fogo contra o principal nome do PSDB para disputar a presidência da República em 2020, o governador de São Paulo, João Doria.
A investigação tramita em sigilo desde a deflagração da operação, autorizada pelo ministro Felix Fischer. No ano passado, ele decretou a prisão de 14 pessoas. Na época, houve decreto da prisão temporária porque a condução coercitiva foi proibida pelo Supremo Tribunal Federal.
Agora, os 14 foram intimados para prestar o segundo depoimento na Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande. Conforme uma fonte, eles serão confrontados com os documentos e mais detalhes oferecidos pelos delatores da JBS, que incluem os irmãos Joesley e Wesley Batista.
Dos 14 presos no ano passado, que devem voltar a prestar depoimento hoje e amanhã, estão o filho do governador, o advogado Rodrigo Souza e Silva, o delator na Operação Lama Asfáltica, Ivanildo da Cunha Miranda, o corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, os empresários da área de informática, Antônio Celso Cortez e João Roberto Baird, o Bil Gates Pantaneiro, os ex-prefeitos de Dois Irmãos do Buriti e de Porto Murtinho, respectivamente, Osvane Aparecido Ramos e Nelson Cintra, o primeiro secretário da Assembleia Legislativa, deputado estadual Zé Teixeira (DEM), o ex-secretário estadual de Fazenda e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Márcio Monteiro, os pecuaristas Élvio Rodrigues, Rubens Massahiro Matsuda, Zelito Alves Ribeiro e Francisco Carlos Freire de Oliveira.
O governador também foi obrigado a prestar depoimento no dia 12 de setembro do ano passado. Durante a campanha, o tucano chegou a destacar que nunca tinha sido chamado para depor. No entanto, documentos mostraram que ele alegou compromissos para não comparecer e depois pediu para ser ouvido na fase final do inquérito.
Durante a campanha, o ministro Felix Fischer impôs medidas cautelares ao governador, como a proibição de manter contatos com outros investigados no inquérito. Mesmo com a denúncia e com R$ 277 milhões da família bloqueados, o tucano fez campanha e foi reeleito com mais de 677 mil votos no segundo turno.
Além do pagamento de propina, outro inquérito, o 1.193 apura o envolvimento do governado com uma quadrilha contratada para roubar R$ 270 mil, que seriam propina para Polaco. Em depoimento encaminhado ao STJ, o líder do grupo, Luiz Carlos Vareiro, disse que o plano era matar o corretor, que vinha ameaçando fazer delação premiada.
No entanto, Polaco acabou preso no Pará e acabou apresentando outra versão, que livrou a cúpula do Governo da cobrança de propina. Ele foi gravado em vídeo recebendo R$ 30 mil do empresário José Alberto Miri Berger, do curtume Braz Peli. Conforma a denúncia, que chegou a ser veiculada no Fantástico, da TV Globo, integrantes do Governo cobravam propina para conceder e manter incentivos fiscais.
Polaco e Berger deram outra versão à PF e o STJ acabou arquivando a investigação contra Reinaldo, que usou a história para convencer os eleitores de que era inocente.