A Igreja Católica vai pagar R$ 10,4 milhões para transformar a Woods, uma das boates mais badaladas da Capital que fechou após pancadaria generalizada há quatro anos, no Santuário de Nossa Senhora da Abadia. Com a aquisição, os fieis vão colocar a padroeira da Arquidiocese de Campo Grande na principal avenida, a Afonso Pena, e de frente para o Parque das Nações Indígenas, um dos mais belos cartões postais da cidade.
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“Foi um presente de Nossa Senhora”, garante, emocionada, a presidente do Conselho Pastoral Paroquial, Simonete dos Santos Xavier, sobre o desfecho da luta iniciada em 16 de outubro de 2002, quando os fieis se reuniram pela primeira vez, em uma residência, para celebrar a primeira missa na Igreja de Nossa Senhora da Abadia.
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Apesar de ser padroeira da diocese desde 15 de junho de 1957, a santa nunca teve prédio próprio na Capital. Até 2002 estava agregada à Catedral de Santo Antônio, o padroeiro do município. De 2003 a 2010, as celebrações religiosas ocorreram no Colégio Avant Garde, no Bairro Chácara Cachoeira.
Católicos se mobilizavam há vários anos para obter terreno para a construção da nova catedral. O sonho da Arquidiocese de Campo Grande é construir a maior igreja da Capital, com capacidade para mil fieis sentados, com salão de eventos, salas para atendimento, museu de arte sacra, capela, ossário para crematório, centro social e casa paroquial.
O primeiro passo para a realização do projeto foi a doação de área pelo município, na gestão de Gilmar Olarte (sem partido). No entanto, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) desfez o negócio e retomou a área dos católicos em setembro de 2017.
Passados quase dois anos, os católicos festejam a compra da Boate Woods, que foi construída para a realização de shows sertanejos. O espaço acabou em março de 2015, quando houve briga generalizada e pancadaria, com diversos feridos. O fim melancólico teve repercussão nacional.
Além do prédio da boate, o santuário passa a contar com 5.216 metros quadrados. A compra não foi paga à vista. Um grupo de católicos doou R$ 1 milhão para dar o sinal, mais R$ 1 milhão será pago até o fim deste ano e o restante será parcelado ao longo de oito anos.
Para quitar o prédio, a igreja lançou a campanha do metro quadrado, onde os interessados poderão contribuir com R$ 2 mil. O doador terá o nome incluído no livro de ouro e em um painel. Simonete conta que até não católicos já manifestaram interesse em ajudar a pagar a dívida.
A primeira missa no local ocorreu no dia 14 de julho deste ano. De acordo com o pároco, padre Paulo Vital, não foi necessário exorcizar o edifício, porque entretenimento não é pecado. “Não era um prostíbulo”, comentou. Uma benção do arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa, marcou o início da transformação.
Inicialmente, a celebração ocorreu onde ocorriam os shows. No entanto, a igreja adaptou o estacionamento subterrâneo, com capacidade para 500 pessoas, para a celebração das missas e encontros religiosos.
Para o padre, o santuário está em local privilegiado e importante para Campo Grande. A Igreja Católica passa a contar com duas igrejas importantes e voltadas para Nossa Senhora no início e no final da Avenida Afonso Pena, já que o Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro fica na outra ponta.
A festa de Nossa Senhora da Abadia, que começa nesta sexta-feira, já usufruirá do localização privilegiada. A novena ocorrerá até o dia 18 deste mês no prédio da antiga boate, sempre a partir das 19h. Já a quermesse, que ocorrerá todos os dias, acontecerá na Cidade do Natal, que fica na frente.
Além das tradicionais porções das festas religiosas, como arroz carreteiro, espetinho e galinhada, a quermesse terá apresentações culturais e comidas típicas das colônias, como espanhola, japonesa, boliviana, paraguaia, libanesa e italiana. Também vão ocorrer shows musicais.
A compra de uma boate para abrigar um templo religioso não é novidade entre os evangélicos, que já “converteram” bares, cinemas, prostíbulos, casas de shows, academias, etc. O ineditismo está na medida ser adotada pelos católicos.
Padre Paulo Vital concorda, mas esclarece que os católicos sempre compram o terreno para construir as capelas.