Em pleno século XXI, o Governo de Mato Grosso do Sul repete a política de décadas passadas, com dinheiro de sobra para dar reajuste de 16,38% aos secretários, ao vice-governador e ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que ostentam patrimônio milionário. Por outro lado, em decorrência da falta de verba, o tucano cortou o abono de R$ 100 a R$ 200 de 37,7 mil servidores e ainda sinaliza que congelará os salários dos 75 mil funcionários públicos estaduais.
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A inacreditável política ficou clara nesta quarta-feira (24). Em reunião os sindicatos, o secretário estadual de Administração e Desburocratização, Roberto Hashioka, anunciou que não haverá mais pagamento do abono a partir deste mês. O benefício representava ganho de 4,4% a 20% nos salários dos servidores.
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Reeleito e com o mandato garantido por mais quatro anos, quando deverá pleitear a vaga de senador, Reinaldo demonstra não estar preocupado com a opinião pública.
Apesar de estar entre os políticos mais ricos do Brasil, com patrimônio superior a R$ 38 milhões, ele elevou o próprio salário em 16,38%, de R$ 30,4 mil para R$ 35.462,27, o maior valor pago a um governador entre as 27 unidades da federação.
O reajuste beneficiou secretários estaduais, inclusive outro milionário, o vice-governador e titular da pasta de Infraestrutura, Murilo Zauith (DEM). Levantamento do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) revela aumento de 45% no gasto com os salários dos comissionados entre outubro e março, de R$ 7,342 milhões R$ 10,642 milhões.
Agora, na hora de discutir a data base do funcionalismo, o dinheiro, literalmente, sumiu. Hashioka, que recebeu R$ 92 mil em janeiro deste ano, explicou que o Governo estourou o gasto com pessoal e não poderá conceder reajuste salarial neste ano.
“Foi um show de lamentações”, descreveu o presidente do Sintss (Sindicato dos Trabalhadores na Seguridade Social), Ricardo Bueno. “Só notícia ruim”, resumiu o presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação, Jaime Teixeira, em entrevista ao Campo Grande News.
“Foi lamentável”, reagiu o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Giancarlo Miranda. Aliás, os representantes dos policiais civis, dos policiais militares, dos bombeiros e dos agentes penitenciários ficaram tão indignados com o rol de notícias ruins, que deixaram o secretário falando sozinho no meio da reunião.
Não bastasse garantir o reajuste de 16,38% aos abastados, Reinaldo ainda cortou o abono de R$ 100 a R$ 200, que era pago desde 2016. Só o aumento de quase R$ 5 mil no seu próprio salário garantiria o pagamento do abono para 25 servidores de carreira do Estado. Para o funcionário da base, que ganha pouco mais de R$ 1 mil, o abono representava acréscimo de 20% no salário, conforme conta divulgada pelo próprio Governo na época.
Apesar da redução no número de secretarias para nove, o Governo paga salário de secretário para 28 abençoados. Cada um recebe R$ 28 mil. Só a eliminação de 21 cargos de secretário especial, Reinaldo poderia pagar o abono para 2.940 servidores.
O DIEESE apontou que a receita estadual cresceu 3,64% no primeiro trimestre deste ano e alcançou R$ 3,722 bilhões em março. No entanto, o crescimento não vai beneficiar os servidores, que receberão menos e vão trabalhar mais, já que a jornada de trabalho passa de seis para oito horas a partir de 1º de julho deste ano.
Bueno diz que os servidores gostariam que o governador cumprisse a promessa de incorporar o abono ao salário e autorizasse a reposição da inflação dos últimos 12 meses.
Nesta quinta-feira (25), os sindicatos convocaram mobilização na Assembleia Legislativa para tentar se socorrer com os deputados estaduais, que aprovaram o reajuste de 16,38% para o primeiro escalão e ainda a criação de 3.064 cargos de comissionados.
Cada categoria deverá convocar reuniões para discutir a estratégia de mobilização. Como só vai precisar de votos no próximo ano, quando os aliados vão às urnas, Reinaldo acredita ter fôlego para manter o pacote de medidas impopulares sem preocupação a curto prazo.
O erro do governador não está em cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal nem nas medidas de austeridade, mas não poupar dinheiro a quem já tem muito tirando de quem possui muito pouco. O correto é ter a mesma postura com todo mundo.
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