Dado como “obra perdida” por duas décadas, o futuro El Kadri Plaza Hotel deixou de ser símbolo da epidemia de dengue em Campo Grande. No entanto, a conclusão do hotel cinco estrelas ainda depende do investimento de R$ 3 milhões, valor necessário para o acabamento e aquisição de mobiliário.
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Iniciada pela rede de hotéis Binder, a obra ficou parada por 18 anos e se transformou em foco permanente de transmissão da dengue. A cada nova epidemia da dengue, a força-tarefa de combate à doença marcava o início dos trabalhos no prédio sem reboco na Avenida Afonso Pena, a principal via e um dos cartões postais de Campo Grande.
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A situação só começou a mudar em 2009, quando o médico Mafuci Kadri, 70 anos, investiu R$ 7 milhões na compra do esqueleto para transformá-lo em hospital. Só que ao verificar que a área construída de aproximadamente 15 mil metros quadrados não poderia ter outra finalidade, o libanês, que adotou Jardim como cidade natal, decidiu manter o projeto de hotel cinco estrelas.
Empreendedor de sorte, Mafuci pode ser classificado como investidor conservador, não corre riscos e só aplica o dinheiro disponível. Neste ritmo, ele vem tocando a obra do Binder. O ritmo do empreendimento depende da entrada do dinheiro.
Em 2010, quando cogitou prazo para concluir o empreendimento em dois anos, o Grupo El Kadri estimou investimento de R$ 20 milhões na conclusão da obra, conforme reportagem do Correio do Estado.
Nove anos depois, o prédio de 13 andares está na fase final, só faltando a pintura, carpete e móveis. Na semana passada, operários trabalhavam na colocação dos vidros. Mafuci não fala em prazo para conclusão. “O trabalho será gradativo, de acordo com as condições”, ressalta.
O El Kadri será o segundo hotel cinco estrelas da Capital, já que o Deville Prime, na Avenida Mato Grosso, já ostenta este padrão.
A obra é um dos elefantes brancos deixado pela iniciativa privada na Capital. Um segundo edifício inacabado envergonha a região central na esquina das ruas 26 de Agosto e Anhanduí.
O novo hotel cinco estrelas retoma o glamour do local do antigo Cine Alhambra, ponto de encontro da alta sociedade campo-grandense nos anos 50 e 60.
Com previsão de contar com 160 leitos, o El Kadri Plaza Hotel deve gerar 150 empregos diretos. A rede hoteleira da Capital conta com 6,4 mil leitos. A Capital é o segundo destino de turistas, só atrás de Bonito e do Pantanal.
Até a aquisição pelo grupo, o Binder era considerado um problema sem solução. Apesar de o prédio estar localizado em uma das áreas mais valorizadas da Capital, a retomada do negócio esbarra no emaranhado de dívidas dos proprietários. O Binder devia para o Banco da Amazônia e para a Receita Federal.
Em 2009, o Tribunal Regional do Trabalho chegou a levar o elefante branco a leilão para quitar dívida de R$ 945 mil.
No mesmo ano, o então prefeito Nelsinho Trad (PSD) cogitou desapropriá-lo mediante encontro de contas com a dívida do IPTU.
Onde todo mundo via problema, Mafuci enxergou oportunidade de negócio e teve sorte, a mesma que marcou a construção do seu império.
O empresário não cansa de se repetir que é “abençoado” por Deus. A história no Estado começou em Jardim, onde chegou aos cinco anos proveniente do Líbano. Ele contou com ajuda para estudar em colégios particulares.
Ele estudou Medicina em Coimbra, Portugal, e trabalhou de servente de pedreiro na Alemanha nas férias. Para enfrentar o rigoroso inverno europeu, ele conta que usava jornais para reforçar o cobertor.
Ao voltar para Campo Grande, ele iniciou a carreira de médico. Mafuci foi um dos fundadores do Hospital Miguel Couto.
Em meio aos boatos sobre a origem da fortuna, ele construiu o império da saúde. Atualmente, é dono de dois hospitais, Sírio Libanês (100 leitos) e El Kadri (250). O primeiro está em reforma depois de ser “destruído” pelo período em que foi locado para a prefeitura para ser centro pediátrico.
No entanto, como a sua história daria um livro, vamos deixá-la para contar em outra oportunidade.