Os sócios do Grupo Bigolin abusaram da recuperação judicial, apropriaram-se dos lucros e elevaram a dívida de R$ 54,7 milhões para R$ 88 milhões. O “calote” levou a Justiça a decretar a falência, a interdição das empresas e o bloqueio de contas bancárias, imóveis e veículos, pondo fim a uma das mais antigas e tradicionais rede de materiais de construção de Mato Grosso do Sul.
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Em recuperação judicial há mais de três anos, desde 11 de fevereiro de 2016, o grupo não cumpriu as determinações do juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva, da Vara de Falências, Recuperações e Insolvências de Campo Grande.
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Nesta quinta-feira, por determinação judicial, foram lacradas cinco empresas do grupo: Ângulo, Bigolin, Casa Plena, D & D e Nara Rosa Empreendimentos Imobiliários. Ele também determinou o bloqueio de imóveis, veículos e contas bancárias. A administradora judicial continua sendo a Pradebon e Cury.
Em sentença publicada nesta quinta-feira, o juiz deixa claro que os empresários abusaram da paciência e da boa fé da Justiça.
A empresa repete a ladainha da maior parte dos empresários em dificuldades financeiras: apostou alto na recuperação, mas se aumento da concorrência, majoração da carga tributária e queda dos investimentos federais. A crise levou a se dividir em dois, deixando o primeiro no Sul, com as lojas dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; e o segundo com as unidades de Mato Grosso do Sul e São Paulo.
A persistência da crise levou a redução no número de funcionários de 600 para 350. Em 2016, com dívidas de R$ 54,780 milhões, o Grupo Bigolin pediu recuperação judicial. A Justiça suspendeu todas as ações de cobrança por 180 dias. No entanto, como parte do esforço de manter os empregos, o juiz acabou postergando o benefício até os dias de hoje.
Só que a dívida da empresa teve aumento de 60% em três anos, saltando para R$ 88 milhões. Além de dar calote nos fornecedores, órgãos públicos e bancos, o grupo não pagou o 13º salário de parte dos funcionários.
Por outro lado, os sócios não deixaram de ficar com o lucro no período da recuperação judicial. Entre 2016 e 2017, conforme o juiz, eles retiraram R$ 365 mil a título de pró labore. A retirada ocorreu até em situações inusitadas. Em 2016, a empresa teve lucro de R$ 234,6 mil – os sócios retiraram R$ 197,2 mil. Pior ocorreu no ano seguinte, quando o pró labore ficou em R$ 168 mil, apesar do lucro bruto ter ficado em R$ 150 mil.
O magistrado menciona ainda a “venda estranha” de um imóvel de expressivo valor, sem a realização de perícia.
Sem alternativa, José Henrique Neiva decretou a falência do Grupo Bigolin, colocando fim ao empreendimento iniciado há quase quatro décadas em Campo Grande.
Os prédios, terrenos e veículos devem ir à leilão para garantir o pagamento dos credores, inclusive funcionários. Cerca de 350 trabalhadores devem perder o emprego.
Só a Bigolin tinha três unidades na Capital e duas no interior do Estado.
Com o fechamento da empresa, grupos regionais e de outros estados devem crescer na Capital, como Alvorada, Colorado, Sertão, Leroy Merlin, Todimo, entre outras.