Apesar da Operação Fantoche, que apura desvios e superfaturamento em contratos de R$ 400 milhões, o empresário Sérgio Marcolino Longen é o único candidato a presidente da poderosa Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul). Com os bens bloqueados e sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados pela Justiça Federal, ele não tem adversário para disputar o 4º mandato consecutivo.
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Além de poder político, a federação conta com orçamento milionário, de aproximadamente R$ 200 milhões, cargos com salários de até R$ 37,4 mil, megaestrutura e pouca fiscalização. Em torno de 30% do orçamento vem de contribuições sociais, que entraram na mira do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
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As suspeitas de corrupção não devem interromper uma prática comum no comando das federações patronais e laborais no Estado, o longo mandato dos presidentes. Sérgio Longen já e o segundo dirigente mais longevo na Fiems, com três mandatos consecutivos.
Ele substituiu Alfredo Fernandes, que ficou por dois mandatos, e só está há menos tempo do que o fundador da entidade, Jorge Elias Zahran, cinco mandatos consecutivos de 1979 a 1999. Agora é candidato em chapa única, cuja impugnação pode ser feita até amanhã.
A Fiems tem forte poder político e sempre foi interlocutora privilegiada de todos os governadores de Mato Grosso do Sul.
Só o orçamento de duas unidades, o Sesi e Senai, somam R$ 197,2 milhões, considerando-se os balanços de 2017, os últimos divulgados. Para este ano, o orçamento previsto é de R$ 191,7 milhões – seria o 6º maior orçamento entre os 79 municípios sul-mato-grossenses. Com 56 mil moradores, Sidrolândia tem R$ 163 milhões, segundo o IBGE.
A receita total não inclui a do IEL (Instituto Euvaldo Lodi), responsável por encaminhar estudantes para estágio, e a Fiems, que não divulgam os valores. A estrutura educacional conta com 77 unidades móveis, três centros de formação profissional, dois institutos de tecnologia, um instituto de inovação e uma faculdade.
A entidade ainda oferece cargos com salário superior ao valor pago a um secretário de Estado. Com o reajuste de 16,3% neste ano, o Governo do Estado paga R$ 28,4 mil ao ocupante do primeiro escalão, enquanto no Senai o vencimento chega a R$ 37,4 mil, pago ao diretor executivo. São14 cargos com salário de R$ 20,3 mil a R$ 25,3 mil.
No Sesi, conforme o portal da transparência, são 11 cargos no primeiro escalão com renda mensal de R$ 20,7 mil a R$ 31,6 mil.
Orçamento milionário para 2019
Senai – R$ 101.527.170,09
Sesi – R$ 90.219.571,42
Compras e licitações nos últimos 12 meses
Total de negócios: R$ 55,992 milhões
Apesar do poder financeiro e político, a Fiems mantém a tradição de não ter disputa nas eleições. Longen caminha para o quarto mandato sem adversários, já que apenas uma chapa se inscreveu, conforme edital publicado na semana passada.
Ao manter-se no comando, o empresário traz para a indústria a mancha da suspeita de corrupção que já compromete o sistema político brasileiro.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) preferiu não correr o risco e afastou o industrial Robson Andrade, que chegou a ser preso na Operação Fantoche. O empresário Paulo Afonso Ferreira foi escolhido por unanimidade como presidente interino da entidade.
Em Mato Grosso do Sul, onde o atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e ex-governadores são investigados por corrupção, peculato e suposto pagamento de propina, a suspeita chega aos empresários.
Ou seja, o curso segue como se fosse normal ter os bens bloqueados, sigilos quebrados e receber policiais federais antes do café da manhã.