Acostumado com os tradicionais vilões de início de ano, os impostos como IPVA e IPTU, o consumidor sul-mato-grossense se deparou com um monstro: a conta de luz. A Energisa MS deu susto em muito gente com o estranho e espetacular aumento de até 2.566% na fatura de fim de ano.
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A situação é tão alarmante que tirou políticos do sagrado recesso de janeiro e vem mobilizando vereadores e vice-prefeitos da Capital e do interior e deputados estaduais. O encarecimento absurdo pode levar o Procon a suspender o acordo firmado com a concessionária de energia, que previa o parcelamento da conta em quatro parcelas.
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A conta da jornalista Val Reis teve aumento de 166%, passando de R$ 249,60 em setembro para R$ 665,51 neste mês. “Estou indignada com o aumento. Tá bem complicado pagar”, contou. O valor é próximo ao desembolsado pelo aluguel da casa, onde vivem três pessoas.
Em postagem no Facebook, ela explica que não houve nenhuma alteração na residência para justificar o salto no valor. A revolta fez sucesso e já foi compartilhada por 975 pessoas na rede social.
O drama é compartilhado por outros colegas. Uma mulher contou que a conta passou de R$ 300 para R$ 700 e ainda foi multada em R$ 1,6 mil após a troca do relógio. “É um roubo”, solidarizou-se outra usuária do Facebook.
O mesmo susto levou o vereador Valdir Gomes (PP), no terceiro mandato e famoso carnavalesco na Capital. A fatura teve aumento de 166%, passando de R$ 820 para R$ 2.087 entre novembro e janeiro deste ano. “Não procede que isso é por causa do calor”, reagiu, saindo em defesa dos consumidores.
De acordo com o jornal Campo Grande News, um produtor rural teve aumento de 2.566%, com a conta saltando de R$ 600, em média, para R$ 16 mil. Como o site não deu mais detalhes, não é possível saber se o consumidor vai ser obrigado vender todo o rebanho bovino, porcos ou galinhas para acertar a dívida com a Energisa.
Valdir Gomes quer unir a Defensoria Pública e o Procon para exigir explicações da concessionária na Justiça. Na audiência, ele ouviu consumidor relatando que a conta superou R$ 2,5 mil em um único mês.
A criação de CPI pela Câmara ou Assembleia depende da onda do momento. A Assembleia teve dois momentos. Em 2003, a investigação foi suspensa pelo Tribunal de Justiça e os consumidores revoltados ficaram sem qualquer reposta.
Em 2007, idealizada por Marquinhos Trad (PSD), atual prefeito da Capital, a CPI do legislativo não só foi em frente, como festejou a redução na tarifa de energia no Estado. Na época, o valor despencou no ranking nacional de mais caro para um dos mais baratos do País.
A avalanche de queixas sensibilizou o superintendente regional do Procon, Marcelo Salomão. Em audiência pública na Câmara de Vereadores de Campo Grande, ele disse, segundo o Midiamax, que não procede a justificativa da concessionária, de que o aumento só foi no consumo. O representante do Governo estadual suspeita de que houve erro na cobrança.
É um erro brutal que atinge vários dos 74 municípios atendidos pela empresa. Vereadores de Amambai, Dourados e Corumbá já se interromperam o recesso para sair em defesa dos consumidores.
Em Dourados, segunda maior cidade do Estado, já teve protesto de consumidores contra o aumento abusivo e até um abaixo-assinado pedindo a investigação da concessionária está colhendo assinaturas.
O coordenador comercial da Energisa MS, Jonas Ortiz Rudis, vem percorrendo o Estado para explicar o aumento espetacular na conta de luz. Na manhã de hoje, ele voltou a culpar o calor infernal pelo excesso no consumo de energia e, consequentemente, da conta de luz.
Rudis disse que foram 23 picos de consumo nos meses de dezembro e janeiro. A empresa se apega ao diagnóstico dos meteorologistas, de que as temperaturas deste verão são a maior em 100 anos.
E dinheiro não é problema para a concessionária, que teve aumento de 111% no lucro nos primeiros nove meses de 2018. O lucro saltou de R$ 54,7 milhões, de janeiro a setembro de 2017, para R$ 115,5 milhões no mesmo período do ano passado.
A receita liquida da Energisa MS cresceu 17,8%, de R$ 1,613 bilhão para R$ 1,901 bilhão no mesmo período. E pelo ritmo das contas, que muita gente não vai ter condições de pagar, o faturamento vai bater recorde.
Já a taxa de inadimplência, que chegou a 0,76% no ano passado, pode subir porque, como diz o ditado popular, dinheiro não brota em árvore.