Os deputados federais e senadores vão receber R$ 33.763 de auxílio mudança. No entanto, caso precisem transportar móveis e utensílios domésticos de Campo Grande até Brasília (DF), não vão desembolsar mais do que R$ 8 mil. Na pior das hipóteses, vão lucrar R$ 25,7 mil com o penduricalho – este valor, o trabalhador comum levaria dois anos para acumular, considerando-se o salário mínimo de R$ 998.
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Na prática, o deputado federal tem a opção de ficar com o apartamento funcional, que é amplo e todo mobiliado. Ou então pode optar por um apart-hotel, que também dispensa o gasto com sofás, eletrônicos, camas, guarda-roupa e armário. Neste caso, só gastaria com o excesso de malas no avião, que não ultrapassaria R$ 1 mil.
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No entanto, considerando-se que o parlamentar vai fazer a mudança para o Distrito Federal, que inclui até os bichos de estimação, O Jacaré fez consulta sobre o custo do frete de um caminhão-baú.
Com base na consulta feita em três empresas de credibilidade no mercado, o gasto com a mudança ficaria entre R$ 6 mil e R$ 8 mil. Caso estivesse preocupado com o dinheiro do contribuinte e não tivesse pressa no envio dos móveis, o deputado poderia pagar menos se dividisse o caminhão com outra família de mala e cuia para o mesmo destino.
A polêmica começou com o Ademar Vieira Júnior, o Junior Coringa (PSD), que acabou exposto ao fazer propaganda do mandato tampão de 30 dias nas férias do Congresso. Para justificar os benefícios e salários do cargo, ele prometeu apresentar muitos projetos e garantir verbas para Mato Grosso do Sul.
A situação ficou pior quando o penduricalho foi usado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) para conquistar votos na busca pela reeleição. Ele antecipou o pagamento do auxílio moradia de 31 de janeiro para o dia 28 de dezembro e depositou na conta de todos os deputados, inclusive os reeleitos e até quem virou ministro. A conta total foi de R$ 17 milhões.
O auxílio mudança foi pago a sete deputados
- Geraldo Resende (PSDB)
- Dagoberto Nogueira (PDT)
- Elizeu Dionizio (PSB)
- Zeca do PT
- Vander Loubet (PT)
- Tereza Cristina (DEM)
- Luiz Henrique Mandetta (DEM)
Na prática, até quem não vai precisar fazer mudança, ganhou a ajuda de custo de R$ 33.763. Só o deputado federal Fábio Trad (PSD), reeleito com a segunda maior votação, devolveu o dinheiro na semana passada.
Dos novos parlamentares, a campeã de votos e atual vice-governadora, Rose Modesto (PSDB), anunciou que abre mão do penduricalho. Ela enviou um ofício recusando o mimo.
O auxílio mudança é pago n início e no fim de cada mandato. Trad acha o benefício justo e só devolveu porque já recebeu em dezembro de 2017, quando o titular da vaga, Carlos Marun (MDB), assumiu a vaga de ministro de Michel Temer (MDB).
Na prática, a ajuda de custo para fazer a mudança só reforça a renda do deputado federal, que já tem R$ 33.763 de salário, R$ 40.542,84 de cota para gastos diversos, R$ 4.253 para auxílio moradia (se não ficar com o apartamento funcional) e R$ 111.675,59 para contratar 25 funcionários.
Eleito para representar o cidadão, o deputado federal está custando caro, muito caro ao contribuinte.
Considerado importante e estratégico para a democracia, o parlamentar brasileiro deveria ter sensibilidade maior do dano que causa à sociedade.
Um pouco de humildade e redução de custos poderia ser o primeiro passo para se adequar aos novos tempos, em que o poder público agoniza com a falta de dinheiro e vive buscando sacrifícios para impor aos cidadãos em troca do equilíbrio das finanças públicas.