Ré por improbidade administrativa por receber R$ 10 mil por mês sem trabalhar, Mara Bethânia Bastos Gurgel Menezes foi recontratada e promovida a secretária-adjunta municipal de Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia pelo prefeito Marquinhos Trad (PSD). Ela só permaneceu fora da prefeitura entre agosto e novembro deste ano, coincidentemente no período da campanha eleitoral.
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Conforme denúncia do Ministério Público Estadual, Mara era funcionária fantasma na Secretaria Municipal de Governo e Relações Institucionais. Só que a mulher, apesar de receber mais de 10 salários mínimos, conforme a ação por improbidade, cuidava da loja de cosméticos, frequentava a academia e buscava o filho na escola no horário de expediente.
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Os indícios de irregularidades convenceram o juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, que aceitou a denúncia e a tornou ré por improbidade. Neste mesmo processo, o secretário municipal de Governo, Antônio Lacerda, e Gilberto Kodoglanian Di Giorgio também são réus.
No entanto, Mara Bethânia caiu nas graças de Marquinhos. Conforme a 2ª edição extra do Diário Oficial do Município de 23 de novembro deste ano, ela foi recontratada pela prefeitura e promovida para ser a número dois da Sedesc. A “funcionária fantasma” foi nomeada como secretaria-adjunta no lugar de Fernando Pontalti Amorim, que estava na função desde 2 de janeiro de 2017.
Ela não só terá mais poderes, como manterá o status financeiro, já que o salário de adjunta será de R$ 10.098,90, conforme o valor pago a Fernando revelado pelo Portal da Transparência.
O sobrinho de Mara, Rômulo Barboza Gurgel foi exonerado no mesmo dia de sua recontratação. Ele tinha sido contratado no mesmo dia em que a tia havia sido exonerada em agosto deste ano.
Amorim não ficará sem cargo no município, já que foi nomeado como assessor especial, com salário de DCA-1, e designado para ser gerente de fomento à Indústria da Sedesc.
Mara Bethânia vai ser a substituta imediata de Abrahão Malulei Neto, nomeado no segundo semestre deste ano na vaga do empresário Luiz Fernando Buanain, dono da rede de farmácias em recuperação judicial São Bento.
A polêmica marca justamente a pasta encarregada de promover o desenvolvimento econômico de Campo Grande, que sofre com a freada nos investimentos desde a gestão de Alcides Bernal (PP) e com o desemprego, a chaga nacional do momento.
Não é o primeiro caso de funcionária fantasma na gestão de Marquinhos. A pedagoga Ilcemara Lopes Moraes de Oliveira, esposa do vereador Cazuza (PP), foi funcionária fantasma da Secretaria de Governo por 10 meses. Ela recebeu R$ 2 mil por mês, mas nunca ficou sabendo que era funcionária do município.
Aliás, a história é tão surreal, que todos os ouvidos pelo promotor Humberto Lapa Ferri, como o prefeito, o vereador, o secretário e a esposa, não sabiam da nomeação. Ela devolveu o dinheiro após o MPE tomar conhecimento do caso por meio de denúncia anônima.
O eleitor poderá levar um puxão de orelhas do secretário estadual de Cultura e Cidadania, Athayde Nery, que foi candidato a prefeito pelo PPS. Em 2016, ele acusou Marquinhos de ser funcionário fantasma da Assembleia Legislativa.
No calor do debate eleitoral, o MPE descobriu que o prefeito foi nomeado na Assembleia pelo pai, o então deputado estadual Nelson Trad, sem concurso e efetivado no cargo sem respaldo legal. Ele tinha menos de cinco anos para ser efetivado, como determinou a Constituição de 1988.
No entanto, defendido pelo irmão, o deputado federal Fábio Trad (PSD), Marquinhos conseguiu trancar a ação graças ao Tribunal de Justiça, que a considerou inoportuna após mais de duas décadas. O prefeito chegou a ser promovido de funcionário pelo legislativo estadual, mesmo não tendo concurso.
Nas eleições deste ano, Mara Bethânia trabalhou na campanha de Fábio, o segundo mais votado para a Câmara dos Deputados. Quando O Jacaré publicou a matéria sobre a ação por improbidade, o parlamentar negou que a “funcionária fantasma” tenha sido uma das coordenadoras da sua campanha.
Sobre a recontratação e promoção de Mara, a assessoria de Marquinhos informou a denúncia está sendo apurada. “A prefeitura abriu procedimento interno para investigar o caso. A funcionária tem o direito de defesa. No caso de culpa, as penas serão devidamente cumpridas”, destaca.
Na atual conjuntura da política brasileira, onde há uma guerra entre a classe política, para manter os maus costumes, e os órgãos de controle, o antigo ditado popular é mais do que oportuno. O governante deveria seguir a recomendação a mulher de César. “Não basta ser honesta, mas parecer honesta”.
Marquinhos está apelando da boa fé dos campo-grandenses, embora muitos já tenham perdido a paciência.
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