Com o reajuste de 26,3%, o salário de vereador de Campo Grande pode chegar a R$ 18.891,68 e ser o mais alto no País. No entanto, a maior parte dos 29 parlamentares exerce outra função e transforma o subsídio pago pelo contribuinte em “bico de luxo”. Em alguns casos, o vereador ganha até R$ 34,5 mil como funcionário público.
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O polêmico reajuste nos salários dos vereadores, do prefeito Marquinhos Trad (PSD), da vice-prefeita Adriane Lopes (Patri) e dos secretários municipais vai custar caro aos cofres públicos. Só o acréscimo no subsídio dos edis vai custar R$ 1,455 milhão por ano ao erário. Em quatro anos, o custo será de R$ 5,820 milhões.
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No entanto, esse valor é irrisório para quem apenas complementa renda. O vereador Wellington de Oliveira, o Delegado Wellington (PSDB), recebe salário de R$ 34.588,31 como coordenador de Operações da Delegacia Geral de Polícia, conforme o Portal da Transparência do Governo do Estado.
Teoricamente, o delegado se divide entre a obrigação como vereador, de frequentar as sessões três vezes por semana (terça, quarta e quinta-feira de manhã), e como delegado concursado da Polícia Civil. Ele votou a favor do reajuste de 26,3%, mas que pode chegar a 47% caso o Congresso Nacional eleve o salário de deputado federal de R$ 33.763 para R$ 39.293,32.
O vereador Vinícius de Siqueira (DEM), que foi contra o aumento dos vereadores, atua como oficial de Justiça. Ele recebe o subsídio de parlamentar e o salário como analista judiciário do Tribunal de Justiça, que lhe rendeu R$ 10.222,69 no mês de outubro deste ano.
Mais modesto é o vencimento de Wilson Sami (MDB). Além de vereador, ele recebe como médico da Prefeitura da Capital, que lhe rendeu R$ 6.596,57 em novembro. Pelo menos Dr. Sami cumpre expediente nos postos de saúde da Capital.
O seu companheiro no parlamento, Antônio Cruz (PSDB) acumulou o salário de vereador com o de médico até dezembro de 2017, quando recebia R$ 5,3 mil por mês. No entanto, o tucano não cumpria expediente na rede pública e ganhava do município para administrar o Hospital Evangélico, que é particular.
Outros dois médicos se dividem entre o consultório e o legislativo: Lívio Viana de Oliveira Leite, o Dr. Lívio (PSDB) e Loester Nunes de Oliveira, o Dr. Loester (MDB). O último é integrante do corpo clínico da Santa Casa.
Dr. Lívio foi funcionário do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian até setembro deste ano. Ele tinha salário de R$ 15.027,34 como médico no HR. Como era concursado do INSS, ele pediu exoneração do cargo para retomar a carreira como funcionário público federal, onde deverá voltar a receber a partir de dezembro. Lívio ainda é médico concursado do IML, do qual está licenciado para o mandato no legislativo.
Otávio Trad (PTB) se divide entre a Câmara e a atuação como advogado no escritório Nelson Trad, um dos mais tradicionais em Campo Grande.
Outro advogado é Odilon Júnior (PDT), que tem escritório de advocacia e já foi funcionário da Assembleia Legislativa. Ele ficou famoso na campanha ao visitar o ex-governador André Puccinelli (MDB) na prisão. Conforme uma das versões, o emedebista, que possui uma das bancas de defesa mais caras do País, teria lhe consultado sobre eventual prestação de serviços.
Quatro vereadores – Ademir Santana (PDT), Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), João César Mattogrosso (PSDB) e Júnior Longo (PSB) – apresentam-se como empresários. William Maksoud (PMN) é produtor rural.
Cazuza (PP) e Lucas Lima (SD) são locutores de rádio. Gilmar da Cruz (PRB) e Jeremias Flores (Avante) são pastores.
O atual presidente do legislativo, João Rocha (PSDB), é professor aposentado pelo município. Valdir Gomes (PP) é funcionário de carreira da prefeitura. Ambos só recebem da Câmara.
O único parlamentar a abrir mão do salário de vereador é André Salineiro (PSDB), que optou por receber como policial federal.
Pelo menos seis vereadores dedicam-se integralmente ao trabalho no legislativo e não possuem renda em outros locais.
Não há ilegalidade no vereador buscar outra fonte de renda. O erro está na falta de pudor e sensibilidade social em arrochar o contribuinte para continuar recebendo salários altíssimos.
Afinal, o parlamento é a base da democracia. Os vereadores não podem receber salário fora da realidade campo-grandense. Atualmente, eles recebem seis vezes a renda média do morador da Capital.
Com o aumento, eles passarão a ganhar quase oito vezes mais. O político não pode se dissociar da realidade do seu povo. A população não pode viver de misérias, enquanto o vereador se locupleta com champanha e caviar.
(matéria editada às 20h20 desta quinta-feira para correção de informações sobre Dr. Lívio)
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