Mato Grosso do Sul pode perder R$ 1,7 bilhão em exportação com a reação dos países árabes à nova política externa desenhada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Os principais produtos vendidos para a região são frango, carne bovina e açúcar. No entanto, de acordo com especialistas, o prejuízo será maior a médio prazo devido a falta de fornecedores alternativos.
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O futuro presidente da República decidiu acompanhar a política norte-americana pró-Israel e anunciou a mudança da embaixada do Brasil de Tel Avi para Jerusalém. Na prática, o Brasil reconhecerá a cidade sagrada para judeus, cristãos e palestinos como capital de Israel. Além dos Estados Unidos, só outro país no mundo adotou a medida, Guatemala.
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Para agradar a bancada evangélica, Bolsonaro anunciou que pretende seguir o exemplo do presidente americano Donald Trump. A reação do mundo árabe poderá comprometer 4% das exportações brasileiras.
No entanto, o impacto poderá ser maior em Mato Grosso do Sul, que tem 8% das exportações destinadas aos países mulçumanos, conforme o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
De janeiro a setembro deste ano, dos US$ 4,480 bilhões exportados, US$ 347,9 milhões (7,7%) foram para os países árabes. O maior comprador é o Irã (US$ 130,6 milhões), que representa volume seis vezes maior que o montante comercializado com Israel (US$ 21,5 milhões).
No ano passado, quando o Estado exportou US$ 4,785 bilhões, os árabes responderam por 11,8%. Em valores, o montante soma US$ 567,2 milhões – mais de R$ 2 bilhões na cotação atual do dólar.
Os principais compradores de produtos sul-mato-grossenses em 2017 foram Irã (US$ 111,8 milhões), Egito (US$ 108,9 milhões), Arábia Saudita (US$ 108 milhões), Emirados Árabes (US$ 71,1 milhões) e Iraque (US$ 60,4 milhões). No mesmo período, MS exportou US$ 116,5 milhões para os EUA e US$ 22,3 milhões para Israel, os países mais alinhados com o candidato do PSL.
A primeira reação à mudança na política externa veio do Egito, considerado mais moderado entre os países árabes. De acordo com a XP Investimentos, o país é o terceiro maior comprador de carne do Brasil. José Carlos Hausknecht, da MB Agro, a retaliação pode comprometer a venda de açúcar, já que os egípcios foram responsáveis pela compra de 28 milhões de toneladas do produto brasileiro neste ano.
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, o reflexo negativo não será maior porque não existe fornecedor alternativo de alguns produtos. No entanto, ele acredita que os árabes devem suspender o credenciamento de novas empresas e vão procurar encontrar outros países para substituir os produtos brasileiros.
Outro país em rota de colisão com a nova política externa é a China, principal destino das exportações de Mato Grosso do Sul. Eventual rompimento do Brasil com os chineses teria efeito trágico na economia sul-mato-grossense.
De acordo com o ministério, os chineses foram responsáveis por 49,3% dos US$ 4,480 bilhões exportados neste ano por MS. Em relação ao ano passado, quando o percentual era de 35%, houve um salto significativo.
Neste ano, MS vendeu US$ 2,211 bilhões em produtos aos chineses, o que equivale a R$ 8,180 bilhões, duas vezes o orçamento anual da Prefeitura de Campo Grande.
Bolsonaro e o Governo chinês trocaram farpa logo após a eleição. No entanto, nesta segunda-feira, o embaixador do país asiático visitou o presidente eleito e ambos sinalizaram manter as boas relações comerciais, para alívio dos exportadores sul-mato-grossense.
No entanto, a mudança de posição do Brasil em relação ao conflito entre palestinos e judeus, milenar e sem acordo à vista, pode prolongar a crise econômica por mais quatro anos em Mato Grosso do Sul e comprometer o segundo mandato de Reinaldo Azambuja (PSDB), um dos principais aliados do novo Governo.
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