As eleições deste ano deram visibilidade aos neófitos na política, que tiveram desempenho excepcional nas urnas, e, mesmo os derrotados, devem dar trabalho aos políticos tradicionais em 2020. Segundo maior orçamento do Estado, a Prefeitura de Campo Grande será o principal campo de batalha e o prefeito Marquinhos Trad (PSD) deixa de ser favorito e pode repetir o antecessor, Alcides Bernal (PP), primeiro a não ser reeleito.
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Juiz federal aposentado há um ano, Odilon de Oliveira (PDT) chegou ao segundo turno e assustou o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), reeleito com vantagem de apenas 60,8 mil votos. Percentualmente, o tucano teve o menor índice em 36 anos.
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Com 616,4 mil votos no Estado, dos quais 215,1 mil na Capital, o magistrado cogitada disputar a sucessão de Marquinhos em 2020. Na primeira disputa, Odilon descobriu que a fama nacional de ferrenho adversário do crime organizado não foi suficiente para conquistar um cargo majoritário.
O pedetista não teve a malícia do político e o traquejo nos debates. Outro problema foi a falta de organização da campanha. Odilon falhou ao não assumir pessoalmente o comando e equilibrar a disputa de forças no seu entorno.
Caso consiga provar a inocência das denúncias feitas por Reinaldo durante as eleições deste ano, como a de venda de sentenças e sumiço de dinheiro da 3ª Vara Federal, o juiz Odilon pode repetir o fenômeno inverso, que beneficiou Reinaldo e Zeca do PT.
O petista perdeu a eleição de prefeito em 1996 por 411 votos para André Puccinelli (MDB) e venceu a de governador dois anos depois. Reinaldo teria sido injustiçado pelo Ibope e não teria passado ao segundo turno por um triz em 2012, mas venceu a eleição de governador no pleito seguinte. O juiz pode assumir ares de favorito caso
O procurador Sérgio Harfouche (PSC) não venceu, mas foi o mais votado para senador na Capital, com 163,3 mil votos. Ele e outra estreante, a senadora eleita Soraya Thronicke (PSL), com 156,6 mil votos, bateram Nelsinho Trad (PTB), em terceiro lugar na cidade que comandou duas vezes e ainda tinha o apoio do irmão, Marquinhos Trad.
Sem mandato, Harfouche ganhará tempo para desfazer o desgaste causado com a aliança feita com o MDB de Puccinelli, preso por corrupção desde 20 de julho deste ano. Bem articulado, o procurador não surge como nova liderança política, como promete dar trabalho para Marquinhos caso decida disputar o comando da prefeitura.
Soraya não pretende abdicar do Senado para se aventurar em outra eleição. O primeiro suplente é o presidente regional do seu partido, Rodolfo Nogueira, que lhe fez ameaças no primeiro turno. A advogada planeja se consolidar como das principais defensoras do presidente eleito Jair Bolsonaro no Senado.
Aliás, o PSL tem duas novas lideranças na Capital. O deputado estadual eleito Renan Contar, o Capitão Contar, teve 38,8 mil votos no município. No entanto, o coronel Carlos Alberto David dos Santos, o Coronel David, teve a segunda maior votação, com 24,2 mil votos em Campo Grande e tem a vantagem de já ter disputado as eleições municipais de 2016.
Além de novos na política, eles poderão contar com o apoio de Bolsonaro, que poderá estar colhendo os frutos dos dois primeiros anos de Governo e repetir o fenômeno registrado em 2018, quando desconhecidos viraram celebridades nas urnas.
No Estado, o deputado Júnior Mochi surge como a principal liderança do MDB. Com o principal nome atrás das grades, o ex-governador André Puccinelli, a sigla vai precisar renovar seus quadros. O presidente da Assembleia Legislativa ficou em terceiro na sucessão estadual, mas ganhou em Coxim, sua cidade, e em praticamente todos os municípios da região norte.
No segundo turno, Mochi conseguiu transferir os votos para o juiz Odilon, que chegou a ter 63% em Coxim.
Já a senadora Simone Tebet (MDB) sai menor do pleito. Além de ter renunciado à candidatura após ser homologada na convenção, ela não conseguiu transferir votos. Ela e o marido, o deputado estadual Eduardo Rocha (MDB) apoiaram a reeleição de Reinaldo, mas o tucano perdeu em Três Lagoas nos dois turnos.
Simone vem emitindo sinais de que deseja disputar a presidência do Senado, repetindo a trajetória do pai, Ramez Tebet (MDB). Se conseguir esta proeza, volta a ter musculatura política para ter influência nas eleições municipais e disputar a reeleição em 2022.
Aliás, o prefeito Ângelo Guerreiro (PSDB) deve ter dificuldades para a reeleição, já que Odilon venceu na cidade.
Mesmo no comando da máquina, Marquinhos não conseguiu eleger nenhum deputado estadual. Só o irmão Fábio Trad (PSD), reeleito deputado federal, foi bem votado na Capital. Nelsinho ficou em terceiro na disputa pelo Senado e só passou graças aos votos do interior.
O prefeito sofreu o desgaste de não cumprir as promessas de campanha, como não aumentar impostos, melhorar o transporte coletivo e acabar com os procedimentos polêmicos, como aditivos sem fins nos contratos. Marquinhos criou a polêmica taxa do lixo e deu R$ 35 milhões para as empresas de ônibus, sem cobrar qualidade nem reduzir o valor da passagem do ônibus.
O ex-governador Zeca do PT encolheu com a eleição deste ano, ao ficar em 5ª lugar na disputa para o Senado, e ficar sem mandato nos próximos dois anos. O deputado federal viu o ex-prefeito de Mundo Novo, Humberto Amaducci, ganhar espaço no partido e surgir como a primeira nova liderança desde o fim da era de Delcídio do Amaral.
Reinaldo é outro grande vencedor, mas a consagração depende do arquivamento da Operação Vostok, da Polícia Federal. O tucano é acusado de receber R$ 67,7 milhões em propinas e de causar prejuízo de R$ 209,7 milhões aos cofres públicos. Com R$ 207 milhões bloqueados, o governador viu o filho, Rodrigo Souza e Silva, ser preso temporariamente durante a campanha eleitoral.
No ninho tucano, o ex-chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula, ganhou força ao comandar a estratégia vitoriosa do PSDB e deverá voltar a ocupar cargo na administração estadual. O único entrave é a ação por improbidade administrativa por usar avião para ir ao enterro e missa do pai em Andradina.
Carlos Alberto Assis é outro nome dado como certo no primeiro escalão no segundo mandato de Reinaldo. Ele deverá voltar para a Secretaria de Administração.
Deputada federa eleita, a vice-governadora Rose Modesto (PSDB) mantém a ascensão na política e só não disputará a prefeitura da Capital se prevalecer o acordo de Marquinhos com os tucanos.
No entanto, os eleitores da Capital foram claros no recado e garantiram um caminhão de votos aos novatos, que não gastaram muito para entrar na sintonia com as ruas.
A velha política corre o risco de ser varrida da Cidade Morena caso não pare e ouça com atenção os desejos do eleitorado: transparência, clareza, ética, menos conluio… o povo quer mais qualidade de vida na prática do que na propaganda oficial.Simples assim.