Novas denúncias de corrupção voltam a assombrar a administração municipal de Dourados, segunda maior cidade do Estado. Nesta quarta-feira, a Operação Pregão, do Ministério Público Estadual, prendeu o secretário municipal de Fazenda, João Fava Neto. Ele é sogro do deputado estadual eleito Neno Razuk (PTB), filho da prefeita Délia Razuk (PR).
Há oito anos, o município enfrentou um terremoto político com as operações Uragano e Owari, da Polícia Federal, que levaram ao afastamento do então prefeito Ari Artuzi, e na prisão de vereadores, secretários municipais e empresários.
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Uma espécie de retrato do Brasil, onde os políticos não se intimidam e perpetuam a prática de atos ímprobos e lesivos ao erário, a situação volta a se repetir em Dourados.
Na Operação Pregão, os juízes da 1ª Vara Criminal de Dourados, Luiz Alberto de Moura Filho e César de Souza Lima, decretaram a prisão preventiva de Neto, da vereadora Denize Portolann de Moura Martins (PR), do diretor do Departamento de Licitações da prefeitura, Anilton Garcia de Souza, e o empresário Messias José da Silva, da Douraser Prestadora de Serviços de Limpeza e Conservação Eireli. Os nomes foram divulgados pelos jornais e sites de Dourados e da Capital.
Seis promotores de Justiça participaram da ofensiva contra a suposta organização criminosa que volta a assaltar os cofres municipais de Dourados e teria cometido os crimes de fraude em licitação, dispensa indevida de licitação, falsificação de documentos, advocacia administrativa, crime contra a ordem financeira e incidência na conduta da Lei Anticorrupção.
A operação atinge o principal integrante do primeiro escalão e homem de confiança da prefeita Délia Razuk, que foi surpreendida pela operação durante viagem a Brasília. Como não foi demitido até o momento, o caixa do município passa a ser comandado de dentro do presídio, para onde o secretário teria sido enviado no início da noite de hoje.
Denize acabou de assumir o mandato de vereadora na vaga deixada por Braz Melo, que perdeu o cargo ao ser condenado por corrupção pela Justiça Federal.
Para o Grupo Especial de Combate à Corrupção e ao Gaeco, que reforçaram a investigação do promotor Ricardo Roturnno, não há dúvidas da existência de organização criminosa na prefeitura de Dourados.
Há oito anos, Artuzi chegou a ser gravado recebendo propina e foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. A instabilidade política levou a realização de eleição para um mandato tampão, vencida por Murilo Zauith (DEM), vice-governador eleito na chapa de Reinaldo Azambuja (PSDB).
As sentenças da operações Uragano e Owari começaram a ser publicadas neste ano e empresários estão sendo condenados por corrupção.
No entanto, talvez o grupo se inspire para agir no escândalo Campina Verde, que apontou desvios de R$ 660 milhões dos cofres públicos em valores atualizados, mas terminou sem julgamento e absolvição sumária dos acusados porque a Justiça Federal demorou 12 anos para decidir qual vara deveria conduzir os processos. A cerealista que dá nome ao caso é de Dourados.
Na Operação Pregão, apesar de envolver o principal nome da administração municipal, o MPE faz mistério sobre os valores envolvidos e os supostos prejuízos causados ao erário. É o famoso sigilo para proteger os acusados e garantir o princípio de que todos são inocentes. No entanto, quem garante a transparência que o contribuinte, que paga em dia seus impostos, tem direito?