Os candidatos a governador de Mato Grosso do Sul, juiz Odilon de Oliveira (PDT) e Reinaldo Azambuja (PSDB), miraram os indecisos e voltaram a trocar farpas no debate da TV Morena, o último do segundo turno. De olho na repercussão, os candidatos apelaram e transformaram o confronto em fábrica de “memes” na reta final da eleição.
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O tucano usou o arquivamento de um dos três inquéritos em tramitação no STJ (Superior Tribunal de Justiça) como “atestado de inocência”. A Corte Especial arquivou o inquérito 1.198, que apurava o pagamento de R$ 500 mil em propina pela Braz Peli em troca da manutenção dos incentivos fiscais. O dono da empresa, José Albert Berger recuou da denúncia feita no Fantástico, da TV Globo, e isentou o tucano de qualquer envolvimento no suposto esquema.
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Reinaldo passou todo o debate tentando convencer o eleitor de que foi absolvido de todas as denúncias. O principal inquérito é o 1.190, que apura o pagamento de R$ 67,7 milhões em propinas e prejuízo de R$ 209,7 milhões aos cofres públicos. O governador tentou minimizar a denúncia e voltou a repetir que é vítima dos “picaretas da JBS”. “É uma denúncia fajuta”, reforçou.
Odilon não perdeu a oportunidade e reforçou que o adversário é alvo de mais dois inquéritos no STJ. Ele ainda lembrou que o STJ bloqueou R$ 277 milhões da família Azambuja. Sem citar a Operação Vostok, o pedetista também lembrou da prisão do filho do tucano, o advogado Rodrigo Souza e Silva.
“A primeira prioridade vai ser zerar a corrupção em Mato Grosso do Sul”, respondeu o juiz, ao ser questionado sobre a forma de administrar o orçamento de R$ 15 bilhões e atender as demandas.
O governador cobrou do juiz responsabilidade em usar os inquéritos abertos pelo STJ. No entanto, Reinaldo passou todo o confronto usando a proposta de delação premiada de Jedeão de Oliveira, rejeitada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal por falta de provas. O tucano acusou o adversário de vender sentenças, de favorecer traficantes, de implantar “arapongagem” na Justiça Federal e pelo sumiço de R$ 11 milhões da vara.
Jedeão é primo distante de Odilon e foi seu chefe de gabinete por 21 anos. Ele responde a ação por peculato e pode ser condenado a devolver R$ 10,6 milhões aos cofres públicos. “Você deve explicações à população”, cobrou Reinaldo, justamente para sair pela tangente ao ser questionado sobre o bloqueio de R$ 277 milhões em bens e contas pelo STJ.
O pedetista voltou a frisar que não é alvo de nenhum inquérito na Justiça ou no Ministério Público. Ele chegou a erguer o ofício em que pediu a abertura de inquérito pela PF para apurar as denúncias feitas pelo ex-assessor.
Pela primeira vez, o juiz acusou Reinaldo de articular a suposta delação do ex-chefe de gabinete. “Jedeão está a seu serviço, eu o coloquei na rua por ladroagem. A Polícia Federal não tem prova, porque eu próprio requeri a investigação”, frisou.
Os dois usaram os apoios do segundo turno para desgastar o adversário. Juiz Odilon lembrou o apoio do ex-governador Zeca do PT, acusado de cobrar propina em troca incentivos pela JBS, e do seu sobrinho, Vander Loubet (PT), réu na Operação Lava Jato, à reeleição de Reinaldo.
O tucano passou parte do debate lembrando o apoio do MDB. No entanto, ele tentou colar no magistrado o apoio do ex-governador André Puccinelli (MDB), preso desde 20 de julho deste ano na Operação Lama Asfáltica.
Odilon focou nas propostas feitas na campanha eleitoral de 2014 e que não teriam sido cumpridas para desgastar Reinaldo, como a valorização e reajuste salarial dos servidores públicos, principalmente policiais, a redução dos impostos, e realização de concursos públicos. “O diálogo foi com bala de borracha e bombas de efeito moral”, acusou o pedetista.
Ele lembrou do déficit na tropa da Polícia Militar e o vencimento dos servidores administrativos da educação, que seria inferior ao valor do salário mínimo.
Sobre os impostos, Odilon voltou a citar o aumento de 40% no IPVA, de 2,5% para 3,5%, a alta no ITCD (imposto sobre herança) e a redução do ICMS do óleo diesel por seis meses e só na fase da pré-campanha neste ano.
Reinaldo rebateu e garantiu que concedeu reajuste linear de 33% aos servidores públicos estaduais, contrariando a versão apresentada pelos sindicatos de que só foram 6,07%. As categorias alegam que houve defasagem de 23,44% nos salários no atual mandato.
Sobre os impostos, o tucano garantiu que reduziu a carga tributária paga pelo sul-mato-grossense. Ele culpou a crise por não cumprir todas as promessas e ressaltou ter responsabilidade na gestão da administração pública.
Odilon criticou o gasto de R$ 252 milhões com propaganda, conforme o Portal da Transparência e divulgado pelo O Jacaré. Para o juiz, o governador poderia ter reduzido os gastos com propaganda em 80% e priorizado outros setores, como habitação. O juiz prometeu construir 40 mil casas populares em quatro anos.
O Aquário do Pantanal foi outro ponto polêmico. Pela primeira vez, Reinaldo admitiu que o antecessor, André Puccinelli, deixou R$ 39 milhões para concluir a obra. Ele contou que o dinheiro está guardado. No entanto, o tucano desconversou sobre o impasse na conclusão do empreendimento e culpou os escândalos de corrupção pelo atraso.
Odilon fez questão de lembrar que o governador pretende concluir o Aquário sem realizar licitação. Ele disse que a Justiça não vai autorizar a contratação direta.
Durante todo o debate, Reinaldo tentou desqualificar o adversário, tentando desconstruí-lo e deixar no ar a imagem de desinformado. Ele chamou o magistrado de “camaleão”, lagarto que tem capacidade de mudar de cor, e “Sassá Mutema”, personagem do ator Lima Duarte na novela “O Salvador da Pátria”, da TV Globo.
Odilon fez questão de ressaltar as provocações do adversário. “Você não para de me chamar de camaleão”, observou. Em seguida, disse que faria o exercício de chamar o tucano de um bicho. “Você seria o rato”, afirmou, fazendo alusão ao animal sempre ligado à corrupção.
As tiradas de Odilon e Reinaldo acabaram produzindo uma fábrica de “memes” do debate, com cabos eleitorais e assessores de ambos os lados procurando destacar os deslizes do adversário. Ou os pontos fortes do seu candidato.
Após o debate, os eleitores vão ter dois dias consecutivos de pesquisas eleitorais para animar a reta fina da corrida eleitoral.