Fora da propaganda oficial, de que a saúde sul-mato-grossense segue a mil maravilhas, a rotina de quem aguarda por uma consulta médica, exame ou cirurgia é dramática em Campo Grande. O caso de um técnico de enfermagem de 44 anos, que conviveu com dores diárias por dois anos e só conseguiu deixar a fila de espera por cirurgia graças à Justiça é exemplar do atual quadro caótico.
Enquanto aguardava pelo procedimento cirúrgico, ele acabou perdendo a vaga em concurso público do município. A equipe médica da prefeitura o considerou inapto para a vaga. É apenas uma história.
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Auditoria realizada pela CGU (Controladoria Geral da União), divulgada no dia 30 de agosto deste ano, revelou que mais de 105 mil pacientes estavam na fila do SUS (Sistema Único de Saúde) por algum procedimento médico. Alguns esperavam pela consulta há mais de sete anos.
O descaso virou escândalo nacional nesta quinta-feira. O Bom Dia Brasil, da TV Globo, destacou que 40% dos pacientes não compareciam para a consulta devido ao longo tempo de espera. O coordenador da CGU, José Paulo Barbieri, contou que alguns até morrem enquanto esperam ser avisados da marcação da consulta com médico especialista.
O técnico de enfermagem tem 44 anos e vive na região sul de Campo Grande. No final de 2016, ele descobriu que a cura para a Lombaciatalgia e Lombalgia estava na realização de cirurgia. Em 1º de novembro daquele ano, o homem procurou a rede pública para agendar consulta com neurologista, o último passo antes de agendar o procedimento cirúrgico.
Após esperar por nove meses, em 17 de agosto do ano passado, ele ingressou com ação no Juizado Especial da Fazenda Pública Municipal para pedir o agendamento da consulta. Uma semana depois, ficou internado por sete dias para tratamento das dores insuportáveis.
Cansado de esperar pela marcação da consulta pelo município, mesmo sem condições financeiras, ele pagou consulta particular e conseguiu agendar a cirurgia na Santa Casa para novembro de 2017. Como era eletiva, a cirurgia foi suspensa e remarcada para fevereiro do ano seguinte.
No segundo mês deste ano, outra frustração, o hospital cancelou o procedimento cirúrgico e não remarcou nova data. O profissional só conseguiu a consulta no posto de saúde graças ao Poder Judiciário, que determinou o atendimento no dia 10 de julho deste ano. A cirurgia de pseudartrose da coluna toraco-lombo sacra posterior ocorreu no dia 6 de agosto deste ano.
Só que neste longo período de espera, com dores insuportáveis e doses diárias de analgésicos para minimizá-las, o técnico de enfermagem foi convocado para assumir o concurso realizado em 2013.
Infelizmente, para frustração do paciente, ele foi submetido a perícia médica do município e considerado inapto em 21 de janeiro deste ano. Ele só conseguiu fazer a cirurgia sete meses depois.
Agora, na esperança de ver o seu drama reparado pelo poder público, o técnico de enfermagem entrou com ação na Justiça contra a Prefeitura de Campo Grande para pedir indenização pelos danos sofridos pela ineficiência do poder público.
Conforme ação judicial, ele pede indenização de R$ 100 mil e o pagamento de pensão vitalícia no valor de R 1.151, o salário como funcionário do município. Paralelamente, o advogado pede a realização de nova perícia para avaliar a sua condição para assumir o concurso, cuja vaga perdeu em janeiro deste ano.
A situação da saúde da Capital é gravíssima. O Hospital do Trauma, que conta com 100 leitos, foi inaugurado em março deste ano e ficou cinco meses fechado por falta de dinheiro.
Na véspera do primeiro turno, o Governo e a prefeitura convenceram a Santa Casa a ativar alguns leitos, com a promessa de que o dinheiro será repassado a partir deste mês.
Até quando a população vai sofrer as consequências da crise? Quando as autoridades vão acordar e chegar à conclusão de que o faz de conta não vale a pena?
Certeza, que a situação só vai mudar, quando o eleitor ter consciência do valor do seu voto e cobrar o cumprimento das promessas dos candidatos eleitos, não se deixar enrolar a cada dois anos, em tempos de eleições.
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