Acusado de ser o pioneiro no suposto esquema de cobrança de propina em troca de incentivos fiscais na delação premiada da JBS, o deputado federal Zeca do PT anunciou, nesta quinta-feira, apoio à reeleição do governador Reinaldo Azambuja (PSDB). O ex-governador sempre condenou apoio de petistas a tucanos, a quem chamava de golpistas por terem apoiado o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Refeito do susto, ao ser atropelado nas urnas pela “desconhecida” advogada Soraya Thronicke (PSL) e perder a vaga de senador, Zeca se juntou ao sobrinho, o deputado federal reeleito Vander Loubet (PT), para declarar apoio a Reinaldo no 2º turno.
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Na prática, ao assumir a defesa da candidatura do tucano, o petista confirma os boatos divulgados no primeiro turno. Deputado estadual, vereador da Capital, governador por dois mandatos e atual presidente regional do PT, Zeca disse que o apoio é “como cidadão”. “Sou absolutamente contra votar nulo”, justificou-se.
Na sua avaliação, apesar do adversário de Reinaldo ser do PDT, um aliado histórico do PT, o juiz Odilon de Oliveira não merece seu apoio porque tentou ser a versão pantaneira de Sérgio Moro. “O juiz é um charlatão, enganador e perseguidor”, acusou. Ele ainda acusou o candidato de tentar grampeá-lo clandestinamente para prendê-lo sem sucesso. Contudo, o petista nunca denunciou Odilon ao Conselho Nacional de Justiça pela suposta prática.
Zeca disse que apoia o atual governador em decorrência de R$ 11 milhões em emendas federais, que possui junto com Vander, para a agricultura familiar. Além disso, a Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) tem R$ 3,5 milhões destinados para aquisição de 50 toneladas de calcário e 40 patrulhas mecanizadas.
“Não vou jogar fora por qualquer besteira”, justificou-se, sobre a eterna polêmica entre tucanos e petistas. Reinaldo já chamou o PT de corrupção e Zeca de representar o velho. O ex-governador acusou o tu8cano de “velho vestido de novo”.
Curiosamente, um escândalo une Zeca e Reinaldo. Eles são citados na delação premiada da JBS, homologada em maio do ano passado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.
No início de agosto deste ano, o ministro Celso de Mello, do STF, dividiu em dois inquéritos a denúncia contra o ex-governador. A Justiça estadual vai investigar o suposto pagamento de 20% de propina em troca de incentivos fiscais. No entanto, os delatores não apresentaram valores pagos a Zeca.
O segundo inquérito será encaminhado para a Justiça Federal de Campo Grande, que vai apurar a entrega de R$ 3 milhões em espécie ao deputado federal em 2010. O suposto crime de lavagem de dinheiro poderá cair na 3ª Vara Federal, a mesma que decretou a prisão preventiva do ex-governador André Puccinelli (MDB).
Já Reinaldo é alvo do inquérito 1.190, no Superior Tribunal de Justiça, que apura o pagamento de R$ 67,7 milhões em propinas e prejuízo de R$ 209,7 milhões aos cofres estaduais. Em setembro, o tucano foi alvo da Operação Vostok, que cumpriu 14 mandados de prisão temporária, inclusive do seu filho, Rodrigo Souza e Silva.
Reeleito para mais um mandato, Vander deve ir a julgamento ainda neste ano na Operação Lava Jato. O STF vai julgá-lo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo suposto pagamento de R$ 1,028 milhão em propina.
Oficialmente, o PT não deve apoiar nenhum candidato a governador no segundo turno. O deputado estadual Pedro Kemp (PT), reeleito para mais um mandato, vai focar na campanha presidencial de Fernando Haddad (PT).