Milionário, neófito na política e sem votos, o senador Pedro Chaves (PRB) repetiu a trapalhada que o alçou a fama nacional no ano passado. Após convencer o partido a desembarcar da candidatura tucana para apoiar o candidato de oposição, o empresário recuou e, para espanto e revolta dos aliados, anunciou apoio à reeleição do governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
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Em oito anos, após herdar o mandato de Delcídio do Amaral, preso e cassado em 2016, Chaves só ganhou os holofotes da mídia nacional ao salvar o mandato do senador Aécio Neves (PSDB), alvo de várias ações por corrupção e réu na Operação Lava Jato.
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Na época, o senador estava no PSC. Como líder, ele orientou a bancada a votar contra Aécio, flagrado pedindo R$ 2 milhões para o empresário Joesley Batista, dono da JBS, defendendo a obstrução da Lava Jato e até matar o intermediário da mala recheada de dinheiro para evitar delação premiada. Na hora de votar, Pedro Chaves votou para salvar o mandato de Aécio. Detalhe, ele era o único integrante da bancada. Foi piada repetida a exaustão em rede nacional.
Neste ano, o senador decidiu trocar de partido e filiou-se ao PRB, controlado pela Igreja Universal do Reino de Deus. A sigla controlava a Funtrab (Fundação do Trabalho) e dava como certo a manutenção do apoio a Reinaldo.
No entanto, Pedro Chaves planejava disputar a reeleição e conseguir, pela primeira vez, obter o mandato por meio do voto. Ele covenceu o PRB a deixar a aliança com o PSDB e apoiar a candidatura a governador do juiz federal Odilon de Oliveira (PDT). Tudo acertado, o senador disputaria a reeleição.
“É de conhecimento de todos que a nossa aliança original era com o PSDB, e por causa dele, somente dele, tivemos que nos reposicionar”, relatou Wilton Acosta, presidente regional do PRB no Facebook.
A saída da base de Governo custou caro ao PRB, que passou a ser alvo de ataques. O site Campo Grande News fez longa reportagem atacando os líderes do partido pela gestão da Funtrab, que apontava desde nepotismo até a falta de dinheiro para financiamento de pequenos negócios.
Com a candidatura homologada em convenção, na última hora, Pedro Chaves desistiu da reeleição e publicou carta com ataques ao PDT para desgastar Odilon. O juiz rebateu e o chamou de “covarde”.
Este era o primeiro sinal de que Chaves daria guinada de 360 graus e voltaria a apoiar a candidatura de Reinaldo. Os sinais foram confirmados na noite de ontem, na presença da candidata a vice-presidente da República, senadora Ana Amélia Lemos (PP). O senador anunciou o apoio à reeleição de Reinaldo.
A reação mais enfática foi de Acosta. “Irresponsável. Um homem sem princípios”, acusou o presidente regional do PRB. “Não conseguiu sua candidatura porque é um homem sem ética”, destacou.
“Mas ele, buscando apenas os seus interesses pessoais, seus negócios, desistiu da candidatura. É um covarde!!!”, acusou.
“Por essa razão, será EXPULSO do PRB. Não merece a nossa sigla”, anunciou Wilton Acosta, que é pastor e candidato a deputado federal nas eleições deste ano.
Em oito anos, o patrimônio de Pedro Chaves praticamente dobrou, passando de R$ 69,3 milhões para R$ 130,4 milhões. Ao contrário da maioria dos políticos, ele não precisa de boquinha para sobreviver. Em caso da reeleição de Reinaldo, com certeza vai permanecer na cena política.
Nesses novos tempos da política brasileira, um pouco de ética de princípios já é bom começo para transformar um senador melhor. Fidelidade é outro, mas não é um problema somente do senador biônico.