Crítico ácido, irônico, bem articulado e com propostas claras, o engenheiro civil e “advogado novo” Marcelo Bluma, 55 anos, disputa pela primeira vez o cargo de governador de Mato Grosso do Sul pelo PV. Vereador da Capital por três mandatos, o candidato aposta nas redes sociais para fazer superar as limitações do pouquíssimo tempo no horário eleitoral, 29 segundos diante de três minutos e 50 segundos do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), e R$ 315 mil de recurso contra R$ 4,9 milhões do adversário.
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Formado em engenharia civil pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em 1985, onde militou no movimento estudantil, ele dedicou-se por 15 anos à profissão. Somente no ano 2000, então no PMN, ele se elegeu vereador da Capital pela primeira vez. Foram três mandatos, dos quais quase totalmente dedicados a buscar melhorias para a região do Bairro Tiradentes.
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No sentido mais amplo, destaca os projetos que acabaram com o voto secreto no legislativo municipal e proibiram a apresentação de animais em espetáculos circenses.
Filiado ao PV há 16 anos, Bluma trocou a reeleição certa de vereador para disputar a prefeitura em 2012, quando Alcides Bernal (PP), sozinho e com apenas um tostão, derrotou a poderosa e milionária coligação de Edson Giroto (PR). Em 2016, voltou a disputar a prefeitura, onde mostrou mais desenvoltura nos debates.
Em 2014, o primeiro “calcanhar de Aquiles” do presidente regional do PV. Ele apoiou à candidatura de Delcídio do Amaral, que acabou preso, teve o mandato de senador cassado e é alvo de várias ações de corrupção. “Não sou parente da mãe Diná”, defende-se, ao lembrar que na época o ex-petista não era alvo de nenhuma investigação por corrupção e apresentava o melhor perfil para comandar Mato Grosso do Sul.
Ao contrário da atual eleição, onde dos seis candidatos, só Reinaldo é alvo de dois inquéritos por corrupção no Superior Tribunal de Justiça. No primeiro, o tucano é acusado de cobrar R$ 70 milhões em propinas da JBS. No segundo, é acusado por donos de curtume e frigoríficos de integrar esquema de cobrança de propina para manter os incentivos fiscais. “Se o caso da JBS estoura no STJ, não tem nem governador”, alerta.
Bluma conseguiu o inédito apoio do PCdoB, um parceiro tradicional do PT, e da Rede, da ex-senadora Marina Silva. Essa articulação inédita pode levar os comunistas ou os verdes a elegerem pela primeira vez, sonha o candidato, um deputado estadual. A mesma estratégia garantiu a reeleição do vereador Eduardo Romero (Rede) em 2016.
No entanto, o candidato do PV peca ao não colocar o meio ambiente como principal eixo do seu programa de governo. No momento em que o mundo discute as gravíssimas consequências do aquecimento global, como as altas temperaturas, tempestades com grande potencial destrutivo e desmatamento desenfreado, Bluma dá ao tema a mesma importância dos demais candidatos.
Mato Grosso do Sul tem dois terços do Pantanal – considerado patrimônio natural da humanidade – o cerrado e a mata atlântica sendo destruídos. Neste ano virou escândalo a luta do governador para manter a devastação de 20,4 mil hectares da planície pantaneira. Para garantir o desmatamento da Fazenda Santa Mônica, com 38 mil hectares, o governador apelou e obteve liminar concedida pelo presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Divoncir Schreiner Maran.
Outro problema ambiental antigo e gravíssimo é o assoreamento do Rio Taquari, que castiga vários municípios da região norte de Mato Grosso do Sul.
A defesa do meio ambiente fez o PV ganhar importância em vários países, como a Alemanha, que baniu as usinas de energia atômica.
Marcelo Bluma admite a dificuldade para colocar a defesa do meio ambiente no debate. Na sua avaliação, o problema é a falta de espaço nos meios de comunicação regional. Jornais, emissoras de rádio e de televisão só abrem espaço para “só para quem está no poder”.
O candidato até cita a luta do partido, como a ação na Justiça contra a contaminação do lençol freática por uma usina de açúcar e álcool em Nova Alvorada do Sul.
Na sua avaliação, o governador Reinaldo acelerou o desmatamento com a desregulamentação do licenciamento ambiental. Ao adotar o discurso de simplificar o licenciamento, a gestão tucana estaria destruindo o bioma sul-mato-grossense, acusa. Ele classifica o desmatamento da Fazenda Santa Mônica, no meio do Pantanal, como “irresponsável”.
Bluma defende maior controle do agrotóxico, principalmente, para combater o produto importado do Paraguai. A bancada ruralista, liderada pela deputada federal Tereza Cristina (DEM), apelidada de “musa do veneno”, quer a liberação total dos agrotóxicos no Brasil.
Além de criar a Secretaria do Meio Ambiente, que deixou de ser protagonista desde a gestão de André Puccinelli (MDB), Bluma quer realizar auditoria em todos os incentivos fiscais concedidos nos últimos 15 anos. De acordo com a delação da JBS, desde 2003, a empresa só conseguiu incentivo graças ao pagamento de propina ao governador. A acusação inclui Zeca do PT, André e Reinaldo. Os três negam ter adotado a prática.
Como exemplo da política permissiva e escandalosa na concessão de isenções fiscais, Bluma cita a Kepler Weber, que não gerou os empregos prometidos e reduziu a produção, e a Homex, construtora mexicana que deu golpe em milhares de famílias na Capital.
Para impulsionar a economia, ele defende a construção de polos de tecnologia em cidades pequenas, de onde as empresas poderiam vender para todo o mundo. Ele cita como exemplo Palo Alto, uma pequena cidade de 64 mil habitantes nos Estados Unidos, onde estão as maiores empresas de tecnologia do mundo, como a Apple.
Sobre o Fundersul, que passou a ter 50% dos recursos usados em recapeamento das áreas urbanas, ele defende a retomada da finalidade original, pavimentação e manutenção de rodovias estaduais e vicinais. Dos 14 mil quilômetros de estradas, só pouco mais de 4 mil são pavimentadas.
Natural de Corumbá e advogado novo por ter concluído a segunda faculdade somente em 2011, ele só conseguiu a OAB há cinco anos. Crítico da alta carga tributária, Bluma promete reduzir o IPVA em 40%, de 3,5% para 2,5%, desfazendo a política de Azambuja.
No primeiro debate entre os candidatos a governador, ele levou a plateia ao delírio ao criticar a ampla e poderosíssima aliança feita pelo tucano, que contaria com 12 partidos investigados na Operação Lava Jato. O verde disse que via a Branca de Neve abraçada com Saci Pererê, Arcanjo com o capeta.
Para desfazer parte do mistério, ele revelou que a Branca de Neve é o ex-prefeito Alcides Bernal, que teria sido vítima de um golpe em 2014, e sobe no mesmo palanque de um dos seus algozes, o Saci, que seria Nelsinho.
Sobre quem seriam o capeta e o arcanjo, o candidato desconversa, deixando o leitor mais curioso em desvendar quem seria o santo na coligação adversária.
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