Além de condenar a corrupção, os cinco candidatos a governador do Estado desconstruíram a propaganda da administração de Reinaldo Azambuja (PSDB), o principal alvo do primeiro debate da sucessão estadual, realizado pelo jornal Midiamax. Sem alternativa, o tucano passou todo o tempo na defensiva e repetiu a exaustão o termo “maior” para defender a sua gestão.
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Dois candidatos, o engenheiro Marcelo Bluma (PV) e o advogado João Alfredo (PSOL), apresentaram a melhor desenvoltura no debate, com críticas ácidas, ironia fina e boa argumentação na apresentação dos dados.
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Acostumado ao rito metódico e oficial dos tribunais, o juiz federal Odilon de Oliveira (PDT) pareceu pouco engessado, com pouca desenvoltura, mas não comprometeu o desempenho para um estreante.
O presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi (MDB), teve boa desenvoltura política, mas não citou o nome do ex-governador André Puccinelli, presidente regional do seu partido e preso por corrupção na Operação Lama Asfáltica. Ele apresentou números e até defendeu o legado do emedebista, mas não o mencionou, apresentando os dados como da administração do MDB.
Reinaldo não se intimidou com os ataques e manteve o tom propositivo, o mesmo adotado pela propaganda oficial e repetido a exaustão pelos principais jornais e sites. No entanto, teve praticamente os dados positivos contestados pelos adversários.
Bluma reinou nos embates desta noite. O candidato do PV disse que os 12 partidos que apoiam a reeleição do governador estão envolvidos em corrupção. “Dessa turma, ninguém vai combater à corrupção”, alertou. Ele criticou as alianças, que envolveriam “o Saci com a Branca de Neve, o arcanjo com o capeta”.
“Precisamos mudar, a sociedade fora da muralha do Parque dos Poderes, que funciona como um castelo, onde vivem a orgia, enquanto o povo briga por um franguinho”, comentou. Ele destacou a parceria de Mochi e Reinaldo até a eleição, que garantiu o aumento de impostos, como o ITCD (nem defunto escapa) e o IPVA, que classificou como perverso o aumento de 40%.
No confronto direto com o tucano, Bluma atacou o gasto de R$ 250 milhões com publicidade, enquanto o turismo só teve R$ 20 milhões no orçamento. Reinaldo o contestou, de que só gastou R$ 160 milhões com comunicação, que priorizou campanhas educacionais. “Mesmo por este valor, temos o povo mais educado do País”, ironizou o adversário.
Odilon também levou canelada de João Alfredo, que o questionou da acusação de ter ligação com o jogo do bicho. O pedetista aproveitou a pergunta para se defender dos ataques feitos pelos adversários nas redes sociais da amizade com Jamil Name, pai do candidato a deputado estadual Jamilson Name (PDT).
O juiz disse que o combate à contravenção, no caso o jogo do bicho, não é de competência da Justiça Federal. Destacou a carreira como magistrado, que teve destaque nacional no combate ao crime organizado e até lhe rendeu homenagem feita pela ONU.
Odilon citou a professora Maria Ildonei Lima Pedra, brutalmente assassinada na noite de sábado a golpe de crucifixo, para defender ações enérgicas de combate ao crime organizado. “Os governos foram omissos nesse sentido (de combater o jogo do bicho)”, enfatizou, defendendo também o combate a todo tipo de crime, inclusive a contravenção.
Ao rebater a defesa do magistrado, João Alfredo citou o ditado popular da mulher de César, de que não basta ser honesta, mas parecer honesta. “O jogo do bicho estava até na Assembleia”, relembrou, quando o Fantástico exibiu a realização de apostas dentro do legislativo estadual. Na ocasião, ninguém foi preso.
Odilon aproveitou pergunta relembrar o escândalo da JBS, no qual Reinaldo é acusado de receber R$ 70 milhões em propinas em troca da concessão de incentivos. “É trabalho para o Hércules”, afirmou Bluma, sobre o combate à corrupção no Estado. Ele fez a analogia com o cidadão comum, que tem 40% do salário destinado para o pagamento de impostos, mas o dinheiro público acaba sendo perdido com a corrupção.
“O eleitor deve mandar para casa essa turma, sem dó nem piedade”, aconselhou Bluma, sobre os acusados com corrupção. Odilon destacou que o chefe do Executivo deve dar o exemplo.
Ao se defender das acusações, o governador chamou os delatores da JBS de “picaretas”. “Nós que enquadramos, porque nunca pagaram impostos”, acusou. Ele disse que é preciso “banir esses picaretas”.
O petista Humberto Amaducci afirmou que a gestão tucana tem duas marcas, a de que tudo está parado e da JBS. “ A sensação é de que tudo está parado, não avançou, não caminhou”, contou.
Outro embate entre Odilon, Reinaldo e Alfredo foi o salário pago aos professores. O tucano exaltou que paga o maior salário do País. Alfredo disse que “era mentira”, porque o maior valor é pago pelo Maranhão.
Odilon aproveitou a deixa para lembrar que o estado é mais pobre do que MS, paga R$ 5.750 para jornada de 40h e é administrado por um juiz federal, Flávio Dino (PCdoB), como ele. Ele considerou história mal contada a versão do tucano, de que MS paga o maior valor. Reinaldo defendeu-se e manteve a tese, destacando que o Maranhão paga para uma minoria, enquanto MS paga para todos.
Nem Mochi poupou Reinaldo, ao criticá-lo por não manter diálogo com os servidores públicos. O tucano negou a acusação e destacou que a folha teve aumento de 33% no seu mandato, enquanto a “inflação foi de 16%”. A versão difere dos sindicatos, que apontam defasagem de 20% no salário do funcionalismo estadual.
No encerramento, João Alfredo sugeriu ao eleitor que cheque no Google os dados fornecidos pelo governador e citou aliados nacionais de Reinaldo, como o senador Aécio Neves e o candidato a presidente Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.
“O eleitor não pode ser cúmplice do que acontecer, nem conivente (com a corrupção”, alertou.
Odilon tentou desmontar a crise propagada por Reinaldo ao lembrar de que ele teve R$ 1,7 bilhão dos depósitos judiciais em 2015, ficou livre de R$ 600 milhões da rolagem da dívida em 2016 e teria dado calote de R$ 740 milhões na dívida no ano passado. Ele ainda lembrou a utilização de R$ 382 milhões do fundo previdenciário em 2017. “Precisamos mudar”, defendeu.
Reinaldo defendeu seu mandato ao destacar as medidas adotadas, como a transparência, que colocou o Estado em primeiro no ranking nacional, e nova política de incentivos fiscais. “Abrimos a caixa preta”, contou, sem dar detalhes de quem teve acesso ao fim do mistério.
O tucano ainda garantiu que houve regionalização da saúde, o que teria reduzido o numero de pacientes do interior para a Capital. Outro dado enfatizado a exaustão é de que Mato Grosso do Sul paga os salários em dia, enquanto “20 estados” não estariam pagando. Esse dado precisa ser checado, considerando-se que o atraso nos salários atinge apenas Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
O próximo debate será da Fetems, previsto para a próxima semana.
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