Na eleição mais curta e estranha da história, alguns sinais indicam que nem tudo está perdido. Dono do maior patrimônio entre os candidatos em Mato Grosso do Sul, R$ 130,4 milhões, o senador Pedro Chaves (PRB) anunciou, nesta quarta-feira, a desistência de disputar a reeleição.
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Desde que ingressou na política, como suplente de senador de Delcídio do Amaral em 2010, houve valorização de 88% nos bens do parlamentar. Naquela época, ele declarou possuir R$ 69,3 milhões. Pedro Chaves herdou o mandato após a cassação do ex-petista, que chegou a ser preso acusado de tentar comprar o silêncio e ajudar na fuga do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró.
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Chaves nunca disputou eleição. Esta seria o seu primeiro teste nas urnas. Depois de anunciar aliança com o PSDB, no último minuto, ele recuou e acabou fechando com o candidato a governador do PDT, o juiz federal Odilon de Oliveira.
Na carta da renúncia, encaminhada ao presidente do PRB, pastor Wilton Acosta, o senador acusou o PDT de promover “aliança espúria” com o Podemos. Pelo acordo, conforme a missiva, só ele seria o candidato na chapa. No entanto, o Podemos lançou a candidatura do advogado Beto Figueiró.
O problema é que Pedro Chaves se encantou com o poder ao assumir a vaga de Delcídio. Mesmo com a impopularidade recorde de Michel Temer (MDB), acusado de chefiar quadrilha e corrupção, o senador ostentava com orgulho a proximidade com o emedebista.
O ponto mais cômico foi a votação que livrou o senador Aécio Neves (PSDB), com uma coleção de processos por corrupção. Chaves orientou a bancada a votar pela cassação do tucano. Na hora de votar, mesmo sendo o único integrante do partido, ele votou a favor do tucano. Virou chacota nacional ao não seguir a própria orientação.
Mesmo com todos os esforços em se popularizar, Pedro Chaves vinha patinando nas pesquisas.
A volta à disputa de uma das vagas de senador do procurador de Justiça Sérgio Harfouche (PSC), que chegou a empatar tecnicamente em terceiro lugar com Waldemir Moka (MDB), complicou ainda mais a situação de Pedro Chaves.
Mesmo sendo o candidato mais milionário, ele não tinha a reeleição assegurada. A disputa por uma das duas vagas no Senado promete ser aguerrida e acirradíssima. Nem Nelsinho Trad (PTB), que está disparado em primeiro lugar, está garantido.
A desistência do senador irritou Odilon. Em raro momento de fúria, ele não poupou palavras duras, mas não citou nominalmente o herdeiro da vaga de Delcídio. Não precisava.
“Quando resolvi deixar o cargo de juiz federal para ingressar na política, impus uma condição: não aceitar corruptos ao meu lado. Esqueci-me de incluir os covardes”, enfatizou o pedetista.
“Na política, arte de transformação da sociedade, antes sozinho do que mal acompanhado ou junto de egoístas, frouxos, covardes ou venáveis, sob pena de se andar pelo caminho sempre”, destacou Odilon.
E concluiu, sem citar o senador. “A desistência, mesmo no começo da batalha, é um autêntico exemplo de covardia, de desmerecimento da confiança alheia. O verdadeiro soldado é aquele disposto a morrer lutando, se preciso for”, publicou.
Com o patrimônio milionário, Chaves sai na frente em uma disputa que empresas estão proibidas de fazer doações. No entanto, ele poderia torrar parte da fortuna em busca da reeleição.
Este é o problema, partindo de uma análise ingênua da nossa realidade. Parte expressiva da sociedade sul-mato-grossense não se curva mais ao poder do dinheiro. O antecedente mais notório foi a eleição de Alcides Bernal (PP), em chapa pura e sem estrutura, para prefeito da Capital, o maior colégio eleitoral, em 2012.
Naquela oportunidade, Bernal derrotou Edson Giroto, na época no MDB, que tinha o apoio de 17 partidos e das máquinas da prefeitura da Capital, comandada por Nelsinho Trad, e do Governo do Estado, sob a batuta de André Puccinelli.
Em 2014, Nelsinho, que era o candidato do Governo, ficou em terceiro na disputa.
Não houve uma mudança radical no eleitorado, mas a varinha mágica do dinheiro já não faz milagres como antigamente. Não basta o abastado anunciar que será candidato para estar eleito, é preciso mostrar propostas, fazer política, conquistar o eleitorado.
Ao ver-se diante dos novos tempos, Pedro Chaves afirmou, em entrevista ao Campo Grande News, que até pensa em deixar o PRB.
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