A senadora Simone Tebet (MDB) jogou a toalha e desistiu de ser candidata a governadora na noite deste domingo. Com a renúncia da emedebista, o procurador de Justiça Sérgio Harfouche – um critico ferrenho da corrupção – pode ser oficializado como o candidato a governador do grupo do ex-governador André Puccinelli (MDB), preso desde o dia 20 de julho na Operação Lama Asfáltica.
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Com a saída de Simone, o MDB corre o risco de não ter candidato a governador de Mato Grosso do Sul pela primeira vez em 16 anos. Em 2002, quando André “amarelou” pela primeira vez e abriu mão de enfrentar o governador Zeca do PT, o partido apoiou Marisa Serrano (PSDB).
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Desta vez o presidente regional do MDB não desistiu porque consultou a opinião popular. Preso preventivamente acusado de manter os crimes de lavagem de dinheiro e de ocultar provas da Polícia Federal em uma quitinete no Indubrasil, o ex-governador desistiu da disputa na esperança de conseguir habeas corpus.
André acredita piamente que está preso como parte de estratégia política para tirá-lo da sucessão estadual. Na carta, Simone endossa a teoria da conspiração. “Um quadro de instabilidade atingiu nosso partido aqui em Mato Grosso do Sul, com a (em nosso entendimento) intempestiva intervenção judiciária num processo eleitoral que, até então, vinha se desenvolvendo nos marcos da normalidade”, afirmou.
“Não posso – e os emedebistas e o povo sul-mato-grossense não podem – compreender como ‘normal’ a prisão de um candidato a governador às vésperas da eleição, sem prévia condenação”, enfatizou a senadora.
Só que o ex-governador teve os pedidos de liberdade negados pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região e, duas vezes, pelo Superior Tribunal de Justiça. Investigado oficialmente desde 2015 pela Operação Lama Asfáltica, André é acusado de integrar organização criminosa que teria desviado mais de R$ 300 milhões dos cofres públicos.
Apesar das denúncias, o ex-governador era favorito nas pesquisas de opinião para obter terceiro mandato. Parte do eleitorado vem se mostrando tolerante com a corrupção, apesar de considerá-la problema dos outros.
Neste cenário, com a saída de André da disputa, o MDB entrou em crise ao ver reduzida as chances de suceder Reinaldo Azambuja (PSDB). A cúpula transformou o presídio, onde o ex-governador está preso, em comitê provisório para definir o futuro. Aliás, ao ver o líder de chinelos e comendo em marmita, que a senadora ficou sensibilizada e aceitou seu pedido para disputar o Governo.
Simone teve o nome aprovado na convenção realizada no sábado, 4 de agosto. Oito dias depois, ela entregou a carta renunciando à candidatura.
Agora, em decorrência de “problemas de ordem pessoal”, que considerou oportuno não revelar, a senadora acatou apelos familiares e decidiu desistir da disputa. Na carta, encaminhada ao presidente em exercício, senador Waldemir Moka (MDB), ela sugere o nome de Harfouche, o atual candidato a vice-governador.
Segundo o Midiamax e o Jornal de Domingo, o nome do procurador não é unânime no partido. O presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi (MDB), que sonhou em ser vice na chapa de Reinaldo, também foi cogitado.
O problema se agravou porque a Justiça proibiu o MDB de realizar as reuniões diárias com o ex-governador no presídio. Ou seja, os caciques estão sem a orientação superior de um grande mestre da política regional.
A provável candidatura de Sérgio Harfouche, que vem buscando um lugar ao sol nas eleições deste ano, seria outra ironia do atual cenário eleitoral, onde tudo soa estranho. Crítico ferrenho da corrupção e da velha política, ele deve ser o candidato a governador para representar André Puccinelli.
O prazo para registrar candidaturas termina na quarta-feira. Até sábado, só Reinaldo e o juiz federal Odilon de Oliveira (PDT) registraram as candidaturas.
Confira a carta da senadora Simone Tebet:
“Como é do conhecimento de todos os membros deste Diretório, e de todos os companheiros emedebistas, nosso Partido estava, até duas semanas atrás, com a sua campanha totalmente estruturada em torno do nosso candidato natural ao Governo do Estado, André Puccinelli.
Um quadro de instabilidade atingiu nosso partido aqui em Mato Grosso do Sul, com a (em nosso entendimento) intempestiva intervenção judiciária num processo eleitoral que, até então, vinha se desenvolvendo nos marcos da normalidade.
Não posso – e os emedebistas e o povo sul-mato-grossense não podem – compreender como “normal” a prisão de um candidato a governador às vésperas da eleição, sem prévia condenação. Vimo-nos, então, obrigados a reagir a esse novo quadro de forma imediata, levados pela emoção e ainda chocados com as medidas que lhe foram impostas.
Foi, principalmente, devido a essa emoção, e respondendo ao apelo que me foi formulado pelo próprio André Puccinelli, que aceitei, em nossa última Convenção, a apresentação do meu nome como candidata ao Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.
Foi, como disse, uma decisão pessoal. Desde então, outras considerações, apontadas por meus familiares levam-me a rever essa decisão.
Conhecendo meus problemas de ordem pessoal, recebi apelos contundentes da minha família para não ser candidata.
Assim, acatando ao apelo de meus familiares, renuncio, à minha candidatura ao Governo do Estado de Mato Grosso do Sul pelo MDB, mas reafirmo minha confiança na pujança e unidade do nosso partido e dos nossos aliados, para manter a viabilidade do nosso projeto político, que tem se mostrado, ao longo dos anos – e mesmo décadas –, como imprescindível para o desenvolvimento do nosso Estado.
Se a opção for a escolha de um quadro partidário para ocupar a cabeça de chapa, quero lembrar o nome do companheiro Sérgio Harfouche, cuja competência e cujo compromisso com esse projeto não podem ser postos em causa.
Seja qual for a opção a ser adotada por esse Diretório, terá em mim uma militante aguerrida e disciplinada na defesa – volto a repetir – do nosso projeto político, que considero (e não precisaria dizê-lo) o melhor para a nossa gente”.