A Operação Antivírus, deflagrada em agosto do ano passado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), e o rompimento do contrato pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito) causaram rombo milionário nas contas da Master Case Digital Business. Fundada há 19 anos, a empresa acumula dívida de R$ 1,754 milhão e entrou com pedido de recuperação no mês passado.
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O estopim da crise foi a operação que levou à prisão preventiva da cúpula do órgão de trânsito e apontou suposto esquema milionário de corrupção. Proibido de frequentar o então local de trabalho pelo Tribunal de Justiça, o advogado Gerson Claro Dino (PP) pediu demissão do cargo de diretor-presidente do Detran.
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Ele foi acusado de forjar a prestação de serviço para contratar a Pirâmide Informática por R$ 17 milhões. A empresa chegou a prestar serviço sem licitação e recebeu uma fortuna pelo período de seis meses.
O promotor de Justiça Adriano Lobo Viana de Resende classificou o a fabricação da demanda por Gerson Claro como “negócio da China”. A contratada gastaria R$ 500 mil, mas receberia R$ 17 milhões do Detran.
De olho na nova mina de ouro forjada pela atual administração, a Master Case investiu R$ 1,5 milhão no sistema de registro de financiamento de veículos de olho no contrato milionário como Detran. A empresa campo-grandense cogitava oferecer o mesmo produto para os órgãos de trânsito em outros estados.
“O sistema desenvolvido consistiu em um complexo e seguro sistema composto por 14 robôs integradores, 1 software de conferência das imagens dos contratos, 1 sistema de storage com redundância geográfica, 1 assinador eletrônico e um gerador de livro eletrônico para processamento digital em lote. Sistema esse que possui alto valor de mercado, intelectual e sistêmico agregado”, descreveu em petição encaminhada à Justiça.
Graças a este investimento e a experiência acumulada como prestadora de serviços ao Detran desde 2009, a Master Case conseguiu melar o “esquema” construído para manter a Pirâmide Informática, que havia sido contratada sem licitação. A empresa ofereceu desconto de 65%, de R$ 17 milhões para R$ 6 milhões, e ganhou o contrato milionário.
Só que o início da prestação de serviço coincidiu com a Operação Antivírus, do Gaeco, deflagrada em 25 de agosto do ano passado. A Master Case foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão.
Além de ter a reputação atingida pela megaoperação contra a corrupção, que levou à prisão até o mitológico Ary Rigo (PSDB), ex-presidente da Assembleia Legislativa, a empresa levou calote do Detran.
O novo presidente, Roberto Hashioka, rescindiu o contrato e não pagou pelo registro de 12 mil contratos, feitos entre 25 de agosto e 11 de setembro de 2017. A empresa ainda não teve êxito em obter decisão da Justiça para manter o vínculo milionário.
No pedido de recuperação judicial, a Master Case destaca que o Ministério Público pediu o arquivamento do inquérito e o Tribunal de Justiça determinou a devolução dos documentos e computadores apreendidos na Operação Antivírus.
No entanto, conforme define em ação da recuperação judicial, a “ação abusiva do Gaeco” lhe causou “prejuízos midiáticos” e perda de clientes.
A empresa contesta a manifestação do sindicato, de servidores da área de tecnologia do Detran e de Hashioka de que funcionários podem fazer o serviço sem o gasto milionário.
“Após a realização do mesmo serviço por quase 03 (três) anos por intermédio de outras empresas, e por preço 03 (três) vezes maior que o ora contratado, logo que a recuperanda auferiu êxito no processo licitatório o DETRAN/MS simplesmente alegou que nunca precisou do serviço e que pode fazê-lo com seus próprios recursos técnicos e humanos”, frisa.
O pedido de recuperação judicial tem a finalidade de dar salvaguarda à empresa contra novas ações judiciais e a não exigência de certidões negativas para participar de licitações públicas.
Antes de decidir sobre o pedido de recuperação, o juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva, da Vara de Falências e Insolvências, determinou a realização de perícias nas contas do grupo.
A Master Case frisa que sempre se destacou na área de inovação e tecnologia em Mato Grosso do Sul, com mais de 500 clientes e 3 mil serviços prestados desde a fundação em 1999.
No pedido, ainda destaca o fato de ter sido pioneira em alguns serviços, como a criação do shopping virtual do Brasil em 1999, a primeira transmissão online via Web no Estado em 2001 e na primeira rádio digital em 2003.
Com a recuperação judicial, a Master Case espera retomar o fôlego financeiro e permanecer no mercado.