A guinada na vida política do procurador de Justiça, Sérgio Harfouche, frustrou legião de eleitores em Mato Grosso do Sul. Ele trocou o discurso fulminante contra a corrupção e as velhas práticas na política pelo cargo de candidato a vice-governador na chapa do MDB, articulada dentro de um presídio.
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Alçado a fama com o programa de combate à violência nas escolas e graças a carreira de 26 anos como promotor, Harfouche conquistou parte do eleitorado ao falar de Deus, pregar renovação na política e combater à corrupção.
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Em um dos vídeos divulgados na sua página no Facebook, ele se apresenta como “homem de fé” e “direcionado pela fé”. “Deus age conosco acima de tudo”, afirma em um determinado trecho. Em outra parte, prega o resgate dos princípios e dos valores no Brasil.
Em entrevista à rádio CBN, Harfouche é enfático ao condenar o envolvimento de políticos com denúncias de corrupção. Ele ainda elogiou o trabalho feito pelo Ministério Público e pela Justiça no combate à corrupção, quando questionado sobre as denúncias contra o ex-governador André Puccinelli (MDB) e o governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Depois de se lançar ao Senado e decidir disputar o Governo, no último minuto, o procurador desistiu de alçar voo solo e optou em ser candidato a vice-governador na chapa da senadora Simone Tebet, do MDB, mesmo partido do presidente Michel Temer, denunciado por corrupção e chefiar organização criminosa e investigado por receber propinas.
O mais grave, a chapa do MDB, da qual o procurador faz parte, foi idealizada dentro do presídio, em encontro da senadora com a cúpula do MDB e André, preso na Operação Lama Asfáltica. Na mesma cela do ex-governador estão outros cinco acusados de integrar o esquema criminoso que desviou mais de R$ 300 milhões dos cofres públicos.
A decisão do procurador, que chegou a pontuar 9% na disputa para o cargo de senador, de emprestar a boa imagem de político novo e probo à chapa do MDB não foi bem recebida por parte dos 10 mil seguidores na rede social.
“Fiquei feliz quando vi seu nome para governador, mas agora decepção, não sei em quem votar”, escreveu uma mulher. “Estou decepcionado”, escreveu outro.
“Abandonasse o partido e ficasse do lado da população que tem orado a Deus para essa sujeira toda sair do poder, o senhor poderia ter escolhido pelo povo”, queixou outra.
“Vice, ou é cúmplice, ou decorativo, ou pior, nenhum nem outro, acabando por ser, sorrateiramente, o mais impiedoso, pernicioso e desleal companheiro. Repense”, aconselhou outro internauta.
Até um filiado do PSC critica a sigla por manter a fama de partido de aluguel. “O partido lhe negou legenda, e o senhor deu seu nome para o partido compor a espúria da política sul-mato-grossense? Afaste-se enquanto é tempo!”, diz.
Outro relembra a polêmica envolvendo o procurador ao obrigar os pais a participarem de evento no estádio de Dourados, que acabou se transformando em momento de pregação religiosa e ganhou destaque no programa Fantástico, da TV Globo. “Procuro alguém autêntico para votar como governador do nosso amado MS. Porém, o que você fez é coisa de hipócrita. Como já tinha demonstrado em Dourados, naquele circo que armaste. Você tem valor e espere que repense estar com os vendilhões do templo.Vergonha”, anotou.
Este mereceu resposta de Harfouche. “Conheça a real motivação da minha decisão, nada tem de hipócrita”, justificou-se. Outra reforçou a crítica ao procurador. “Decepção total”, escreveu. Outra reforçou que “com Simone, não dá”.
De novo o procurador dá a sinalização de que entrou na política para combater os partidos de esquerda e não a corrupção. “O pré-candidato fica a mercê do presidente do partido para ter a candidatura, que me negou legenda para Governo. Desistir de pronto beneficiaria a esquerda e prejudicaria 20 candidatos a deputados. Lamento tudo isso”, justificou-se.
Outro avalia que o ex-governador André Puccinelli deverá mandar no eventual governo emedebista e a estratégia foi tirar Harfouche da disputa para garantir a reeleição de Waldemir Moka (MDB).
“Poxa, que decepção, está indo contra seus princípios. O senhor tinha a opção de desistir, mas não, decidiu pedir voto para Simone, Marun, Puccinelli? Tragédia, né? E sua reputação ilibada jogada na lama”, comenta outra eleitora, que critica a utilizçaão do nome de Deus pelo PSC, que se apresenta como Partido Social Cristão.
No entanto, para alento do procurador, alguns eleitores continuam fieis e prometem votar nele, mesmo que seja para vice de Simone. “Doutor Sérgio, o senhor vai fazer a diferença nesta eleição turbulenta”, destaca uma mulher.
“É mais fácil jogar pedra do que pensar! Doutor Sérgio sempre foi comprometido com Deus e com a lei. Decepção causam os que são capazes de esquecer disso de uma hora para outra e acusar”, defende outro eleitor.
“Meu voto e de toda a minha família é seu Doutor Sérgio. Conte conosco”, revela outra, endossando a campanha de Simone governadora. “Você e sua linda família me honram com seu apoio. Muito obrigado”, respondeu o procurador, agradecido pelo apoio em meio a saraivada de críticas e condenações.
O Jacaré tentou falar com o procurador desde ontem de manhã, mas ele limitou-se a responder que a campanha está “decolando”. Sobre a polêmica causada pelo apoio ao MDB, ignorou o questionário.
Harfouche tenta culpar o partido pela decisão de ser candidato a vice-governador na chapa de Simone. Só não pode mais posar como novidade na política mantendo os vícios de sempre da política brasileira, onde a justificativa sempre foi a mesma, determinação do partido.
E a vontade do povo, vale o que?